sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Toda saudade do mundo


Já na oitava série ficava me transportando ao futuro, na tentativa de ver se conseguiria me separar da turma. Não brinque, passaram-se três anos que não os vejo. Turmão da oitava série. Oito anos juntos: mesmos professores, mesmos colegas...
        Aquele prédio de muros altos e brancos, lindo. Ele fica na Avenida 8 com a Mascarenhas, no velho e populoso bairro do Alecrim, Natal. Comecei a estudar lá com seis anos, saí com 14, mas carrego aquele prédio branco comigo.
        Lembro-me do corre-corre das crianças, da fila do lanche, das minhas notas ótimas, dos trabalhos leves, não tão difíceis, da amizade dos professores, do tempo em que eu dormia. Dormia. Hoje eu conjugo esse verbo de modo diferente: “não durmo”.
        Mas eu tinha um sonho: entrar no IFRN. Ah! Entrar no IF, onde todos eram bons, aplicados e responsáveis. E, depois de algumas tentativas, eu consegui entrar. Mas a saudade era grande. Toda saudade do mundo. Já como estudante do IF, ainda fui duas ou três vezes ao meu antigo colégio, tentando emergir daquele mar de saudade.
       
Lá e cá. Lá, saudade. Cá, realidade. A realidade, hoje, é esta: muito estudo, poucas horas de sono, muitas matérias, trabalhos intermináveis, frequentar o CA (Centro de Aprendizagem), a biblioteca, além de ler livros e mais livros. Lá, estudar um dia antes da prova funcionava: as notas eram exemplares, sem muito esforço para obtê-las. Os trabalhos, quando havia, eram fáceis.
        No entanto, estudar no IFRN, Campus São Gonçalo, era não somente um desejo meu, mas também de todos os servidores de lá. Eu era aconselhado a estudar para as provas, era tratado como um filho, um prodígio. Aqui é diferente: cada um por si, Deus por todos. Do lado de cá, esse ditado passa a valer. Não havia nada melhor que ir para a escola bem cedo e ser contemplado com uma grande sinfonia regida pelos pássaros maestros. Nessa sinfonia, os músicos eram o vento e as árvores.
        Hoje me transporto àquele tempo, resgatando lembranças dos colegas, dos servidores e da facilidade da oitava série. Com certeza, parte de mim, ao sair de lá, ficou. Visitarei um dia a Escola Municipal João XXIII, pois um bom filho a casa torna.


                                                                                          Mário Jorge

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