quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O BURACO É MAIS EMBAIXO! - 1° LUGAR




                                        Renato Fernando                            Abner Ferreira 



Certo dia na Redinha,
Uma praia da capital,
Vi uma moça bonita
Era uma loira fatal
O cabelo enrolado
Vestidinho apertado
Me deixou passando mal

Parei meu carro e vi
Que ela estava sozinha
Sentou-se de perna aberta,
Ela estava sem calcinha
Um susto então eu tomei
Assim que eu reparei
No negócio da bichinha

Era uma visão do inferno
Pior não podia ser
Eu vi aquele negócio
Começando a se mexer
Logo tive uma reação
Chamei-o de viadão
Boiolinha e michê

Ele levantou dizendo:
“Cale a boca, meu irmão
Não sabe o que tá falando
Mas vai prestar atenção
Pois quem vai falar agora
Bem ligeiro sem demora
É Dalila Furacão!


Também posso ser mulher,
Mais que outras por aí,
Tenho aquilo que eles gostam
Bem apertadinho aqui
Mulher é bicho seboso
Não sabe fazer gostoso
Como a Dalila  aqui”

Uma racha, que ia passando
Vendo aquela confusão,
Sentiu-se muito ofendida
E entrou na discussão:
R– “Querida, como é que é?
Tu não podes ser mulher
Não serve pra isso não

Tu não passa de uma bicha
Falando asneira, feiosa
Uma loira oxigenada
Muito feia horrorosa
Com os peitos de borracha
Coitada, ainda se acha
Mas é muito invejosa!”

B–“Olha que atrevimento!
Ninguém te chamou aqui!
Vai rodar tua bolsinha
Se não tem pra onde ir
Rolha de poço, bujão
Baleia gorda, tampão,
Despeitada, sai daqui!

Eu digo e repito mesmo,
Mulher é bicho seboso!
Só serve pra lavar louça,
Varrer e fazer almoço,
Trocar fralda de criança
Reclamar da vizinhança
Levar chifre do esposo

Pior quando ela é velha
Aí já não serve pra nada
Passa o dia tricotando,
Fofocando na calçada
Só vendo o tempo passar
Esperando a morte chegar
Fica toda enferrujada

Sem falar da menopausa.
Que vem logo com a idade
Deixando elas estressadas
Cheias de necessidades
E o sexo nem pensar!
O marido vai ficar
Sozinho com  a vontade”

R–“Pi, pi, pi, olha o recalque
Querida, não desça tanto!
Não se humilhe desse jeito
Assim eu até me espanto
Você que fala o que quer,
Vai ouvir o que não quer
Fique quieta no seu canto!

Você é uma quenga velha
Mal-comida e rancorosa
Mendigando homem na praia,
Mas nem alma caridosa
Vai querer um tribufu
Acabado que nem tu
Por isso estás tão nervosa

És toda troncha, malfeita.
A boca e o olho é torto
Teu cabelo é pixaim
Tua boca é um esgoto
Está toda acabada
Foi cuspida ou escarrada,
É um resto de aborto.”

B–“Ô qualquer coisa ridícula
Não te faças de gostosa
Sou novinha e bonita
Tu és feia, já idosa
Olha bem pra mim, querida
Ontem eu fui dormir linda
Acordei maravilhosa

Aceita que dói menos
Você não está com nada
Seu recalque em min não toca
Sua piranha de calçada
É melhor tu ir pra casa
Não gostou deita na brasa
Adoro galinha assada!”

E naquele aperreio
Fui saindo de fininho
Não querendo ser notado
Andei bem devagarzinho
De repente fui puxado
Eu estava encrencado,
Ferrado, bem lascadinho

B–“Aonde pensa que vai?
Seu malandro,  volte aqui
Não esqueça que foi  tu
Que ligaste para min
Marcando aqui esse encontro
E não se finja de tonto
Querido, olhe pra  mim”

Eu disse em cima da bucha:
“- Fale comigo direito
O que os outros vão pensar?
Porque eu não sou sujeito
Que dá valor essas coisas
Tenho filho e tenho esposa
Eu sou homem de respeito!”

Mas a biba era atrevida
E ficou falando alto:
B – “Ricardo, não seja cínico
E assuma os seus atos
Por anos eu me calei
Mas agora eu cansei
Assuma-me ou me mato!

A Clotilde, aquela cobra,
Nem desconfia, eu acho.
Velha do jeito que é
Pra casar fez um despacho
Mas nem imagina ela
Que a melhor amiga dela
Tá  pegando o seu macho”


Logo eu me exaltei:
“ - Biba, pare de falar,
Ou lhe dou uma bofetada!”
B –“Se você quiser tentar.
Dou uma surra em você
Que é pra você aprender
Eu vou te fazer chorar.”

R–“Essa biba desgraçada
Merece mesmo apanhar
Se quiser uma forcinha
Eu posso te ajudar
Para assim ela aprender
A comigo não mexer
E as mulheres respeitar!”

B– “Façam isso, seus covardes
Filhos de Neandertal
Homofobia é crime
Tá no código penal
Mostro as marcas à perícia
Faço até virar notícia
No Jornal Nacional”


R–“Olha se uma coisa dessas
Teria tanta coragem
Uma prostitutazinha
Que vive de sacanagem
Se na polícia chegar,
Delegado vai pensar
Que estava na vadiagem!

E além de tudo isso
Não tens credibilidade
Pode até entrar em cana
Por faltar com a verdade
Vai ficar no xilindró
Lá os cabras não têm dó
De veado dessa idade”

E bem naquele momento
A polícia ia passando
Parou no acostamento
E veio se aproximando
E um guarda foi descendo:
Há algo acontecendo
Ou estou incomodando?”

R – “Seu guarda, graças a Deus
O senhor pode ajudar
Essa biba encrenqueira
Veio nos incomodar
Eu estava aqui sentada
Juro! Não fizemos nada
E ela veio nos xingar!”

Mas o guarda nem deu bola
E fingiu que não nos viu:
“Alceu, cabra, quanto tempo!
Pensei que estavas no Rio
Soube que estás melhorado
Bem de vida, endinheirado
A vida pra ti sorriu

Soube que você passou
No concurso federal
E que não é mais civil
Está cheio de moral
Que agora é delegado
E também foi premiado
O melhor da capital ”


R – “Não tô entendendo nada
O que está acontecendo?
Por favor repita, cabra
O senhor está dizendo
Que esse fresco é delegado
Federal e premiado,
Ou estou enlouquecendo?”

B – “É isso mesmo, ariranha
Não ouviste nada mal
De noite sou Furacão
De dia Alceu Cabral
E agora laureado,
Nomeado delegado
Da polícia federal.”

Eu então fui perguntar:
“Como pode um veado
Ser polícia federal?
O mundo tá acabado
Isso é coisa para macho
Sinto muito, mas eu acho
Que não é o adequado”

B – “Sou mais homem que você!
Pois não tenho preconceito
Homem que é homem respeita
Leva a vida do seu jeito
E sabe bem o que quer
Goste de home ou mulher
Reconhece  seus direitos”

O policial falou:
“Eu ia me apresentar
Mas vejo que para eles
Não iria adiantar
Olha quanta arrogância,
Preconceito, ignorância
Que tu foste arranjar!”

Mas que alvoroço é esse
Alguém pode me explicar?”
R – “Não tem nada acontecendo
Senhor, pode sossegar!
Isso aí, policial
Aqui tá tudo normal”
B – “Esses dois pode levar!”


O policial falou:
“Não tava te abusando?
Disse que era encrenqueira
E que estava te xingando
Moça, tu está mentindo !
Porque eu estou sentindo
Que estás  me enganando”

R- “Ora, mas levar pra onde
Que crime nós cometemos?
Ai meu Deus não acredito
Que isso está acontecendo!
A bicha era perigosa,
A mulher tava nervosa
E eu tava me tremendo”

B – “É melhor parar com isso
Deixa que eu vou explicar
O que está acontecendo,
É melhor se acalmar
É que esse camarada
E essa moça recalcada
Vieram me incomodar

Eu estava aqui quietinha
Na minha sem fazer nada
Passeando, distraída
Caminhando na calçada
Quando esse rapaz chegou
Me xingou e humilhou
Fui muito desrespeitada!”

Eu com medo logo disse:
”Se eu lhe desacatei,
Então por favor perdoe
Pelo jeito que falei
E foi com certeza errado
Não devia ter tratado
Do jeito que lhe tratei”

R –“Eu também peço perdão
Pois fui preconceituosa
É que eu saí do sério
Você me deixou nervosa
Mas você também errou
A atitude que tomou
Fosse muito orgulhosa!”

B – “É verdade, me desculpa

Eu confesso que errei
A culpa não foi só sua
Porque eu também ‘tchanguei’
Mas vocês que começaram
Me xingaram, maltrataram
Eu apenas  revidei.”

Depois dessa confusão
A polícia foi embora,
A racha pediu desculpa
À bicha naquela hora:
R – “Foi um desentendimento
Desculpas, eu só lamento.
Mas preciso ir agora!”

Então, a biba Dalila
Veio em minha direção
Em seu olhar vi a alma
E gelou meu coração
Eu fui muito orgulhoso
Também preconceituoso.
Ela apertou minha mão

Olhou-me fundo nos olhos
E saiu sem dizer nada
Caminhando lentamente
Desfilando na calçada.
Portanto, caro leitor
Pense nisso com amor
Pra não cometer mancada

Não importa se é Dalila
Se é Alceu ou é João
Todos têm seu livre arbítrio.
Não importa a profissão
Se você é professor,
Advogado, doutor
Será sempre cidadão.





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