No
dia do seminário sobre as crônicas de Carlos Fialho, no IFRN Campus São Gonçalo do Amarante, foi
anunciado que teríamos a ilustre presença do cronista. Por ser um cronista
natalense, não custava nada dar um pulinho em São Gonçalo, para incentivar os
futuros escritores – alunos do segundo ano do curso de Informática.
- E aí, Milson, Fialho vem ou não
vem? – perguntou uma aluna.
O professor Milson, que se achava
íntimo de Fialho, após longas conversas noturnas ao telefone (até já o havia
adicionado no Facebook e no Twitter, por meio do qual mantinham contato
diariamente), respondeu confiante:
- Carlinhos!? Mas é claro que vem!
Todos ficaram ansiosos para conhecer
Carlos Fialho. Por onde eu passava, ouvia os comentários:
- Fialho vem mesmo?
- Soube que ele é um gato.
- Ai que tudo!
E a mobilização dos alunos,
preparando o terreno para a chegada de Fialho, era intensa. Vários cartazes foram
pendurados nas paredes. Até um mural foi
organizado em sua homenagem, com algumas de suas crônicas, fotos do cronista,
capas dos seus livros. Um espetáculo! A vinda de Fialho ao IFRN era mais
esperada do que um show do Grafith no carnaval de Macau. O grupo, que iria
apresentar o estilo do cronista, preparou uma dinâmica para fazer com ele. Encheram
várias bexigas com frases da contracapa do livro Mano Cello - um rapper natalense, que eram algumas críticas de
leitores ao cronista:
“Fialho
é gay e adora Carnatal, todo ano ele vai
no ‘burro’!”
-
O quê? Menina, tu acha que ele vai gostar de uma coisa dessas? – perguntou uma
aluna, preocupada.
-
Não sei, mas ele vai ter que dizer como se sente diante dessas críticas. – respondeu a líder do grupo.
Começa
a apresentação, e nada de Fialho. Todos estavam ansiosos. Eis que a porta se
abre.
- Fialho? – interrogaram todos,
ansiosos.
- O quê? Fialho é negro? – gritou um
gaiato.
Mas era só João Victor, que chegara
atrasado. João Victor era um menino de cor da nossa turma, que era alvo de
várias piadas entre os colegas. Seus apelidos eram os piores possíveis: prompt de comando, fio de retorno...
Todo
mundo estava lá só para ver o escritor. Até quem eu menos esperava.
- Professora Glícia? Tu tá fazendo o
que aqui?
- Ora! E eu vou perder a
oportunidade de ver homem bonito? E de graça!
A expectativa era tão grande que não
podia aparecer ninguém na porta que logo achávamos que era ele. A apresentação
acabou, e nada de Fialho. Então Milson se levantou e disse:
- Filhotes, infelizmente Fialho não
virá.
- Aaaaah! Vou embora. – disse
Glícia.
- Mas ele disse que virá outro dia.
Todos ficaram decepcionados,
principalmente o grupo. Os alunos estavam doidos para tirar fotos com ele e
postar no Facebook. Jéssica
infelizmente não pôde encher o cartão de memória da sua nova “tekpix”. E o
professor Milson não esperava por essa decepção, depois de tudo: das longas
conversas matinais, dos e-mails trocados. Ele nunca imaginaria que Fialho fosse
dar um bolo nele.
Mas eis que a porta se abre outra
vez, e as esperanças se renovam. Todos em uma só voz:
- Fialho?
Gabriel
de Oliveira
Nenhum comentário:
Postar um comentário