domingo, 9 de fevereiro de 2014

Fialho?


        No dia do seminário sobre as crônicas de Carlos Fialho, no IFRN Campus São Gonçalo do Amarante, foi anunciado que teríamos a ilustre presença do cronista. Por ser um cronista natalense, não custava nada dar um pulinho em São Gonçalo, para incentivar os futuros escritores – alunos do segundo ano do curso de Informática.
            - E aí, Milson, Fialho vem ou não vem? – perguntou uma aluna.
            O professor Milson, que se achava íntimo de Fialho, após longas conversas noturnas ao telefone (até já o havia adicionado no Facebook e no Twitter, por meio do qual mantinham contato diariamente), respondeu confiante:
            - Carlinhos!? Mas é claro que vem!
            Todos ficaram ansiosos para conhecer Carlos Fialho. Por onde eu passava, ouvia os comentários:
            - Fialho vem mesmo?
            - Soube que ele é um gato.
            - Ai que tudo!
            E a mobilização dos alunos, preparando o terreno para a chegada de Fialho, era intensa. Vários cartazes foram  pendurados nas paredes. Até um mural foi organizado em sua homenagem, com algumas de suas crônicas, fotos do cronista, capas dos seus livros. Um espetáculo! A vinda de Fialho ao IFRN era mais esperada do que um show do Grafith no carnaval de Macau. O grupo, que iria apresentar o estilo do cronista, preparou uma dinâmica para fazer com ele. Encheram várias bexigas com frases da contracapa do livro Mano Cello - um rapper natalense, que eram algumas críticas de leitores ao cronista:
“Fialho é gay e adora Carnatal, todo ano ele  vai no ‘burro’!”
- O quê? Menina, tu acha que ele vai gostar de uma coisa dessas? – perguntou uma aluna, preocupada.
- Não sei, mas ele vai ter que dizer como se sente diante  dessas críticas. – respondeu a líder do grupo.
Começa a apresentação, e nada de Fialho. Todos estavam ansiosos. Eis que a porta se abre.
            - Fialho? – interrogaram todos, ansiosos.
            - O quê? Fialho é negro? – gritou um gaiato.
            Mas era só João Victor, que chegara atrasado. João Victor era um menino de cor da nossa turma, que era alvo de várias piadas entre os colegas. Seus apelidos eram os piores possíveis: prompt de comando, fio de retorno...
Todo mundo estava lá só para ver o escritor. Até quem eu menos esperava.
            - Professora Glícia? Tu tá fazendo o que aqui?
            - Ora! E eu vou perder a oportunidade de ver homem bonito? E de graça!
            A expectativa era tão grande que não podia aparecer ninguém na porta que logo achávamos que era ele. A apresentação acabou, e nada de Fialho. Então Milson se levantou e disse:
            - Filhotes, infelizmente Fialho não virá.
            - Aaaaah! Vou embora. – disse Glícia.
            - Mas ele disse que virá outro dia.
            Todos ficaram decepcionados, principalmente o grupo. Os alunos estavam doidos para tirar fotos com ele e postar no Facebook. Jéssica infelizmente não pôde encher o cartão de memória da sua nova “tekpix”. E o professor Milson não esperava por essa decepção, depois de tudo: das longas conversas matinais, dos e-mails trocados. Ele nunca imaginaria que Fialho fosse dar um bolo nele.
            Mas eis que a porta se abre outra vez, e as esperanças se renovam. Todos em uma só voz:
            - Fialho?
Gabriel de Oliveira


Nenhum comentário:

Postar um comentário