sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Correr-dores

Todo dia é uma corrida diferente, um olhar diferente, uma disputa diferente, para chegar à sala de aula, para fugir de nossos medos, para reencontrar um amigo. Corridas disputadas contra si próprio nos corredores sagazes do IFRN-São Gonçalo do Amarante. Disputas que muitas vezes são ganhas, mas também são perdidas injustamente, sem nem ao menos saber em qual corredor começou e com qual corredor vai terminar. Passagens onde podemos vislumbrar, só de passagem, as conversas, os namoros e até mesmo as tristezas dos alunos de nosso Câmpus.
As dores correm, juntamente com as lágrimas: dores de uma aluna de Informática que não conseguiu atingir a média na matéria do medo, matéria da dor - Programação Orientada a Objetos. Já vimos muitas de suas vítimas pelos corredores. Dores de um aluno de Edificações e um de Informática, que sempre estão juntos e quando passam e escutam aquele toque de violão ao longe, aquela melodia cuja letra todos assimilam com suas vidas, têm algumas lembranças. Até que surge aquele momento tão esperado por uns, e tão rejeitado por outros, pois ninguém sabe o que o outro está sentindo, pode ser uma simples dor de cabeça, como pode ser apenas uma vontade imensa de pôr tudo pra fora, chorar no ombro amigo, ou rir de tudo que passa pelo corredor.
Estar com amigos em direção ao refeitório, antes do toque para o intervalo é o mesmo que deixar um segurando firmemente o silêncio do outro naquele corredor frio e silencioso, mas são amigos e continuam a caminhar no corredor, agora nem tão silencioso como antes. São tantos alunos, tantas vozes, num barulho estridente, até que alguém de alma boa e descontraída começa a falar, mas sua voz soa como se fosse apenas mais uma voz do embaralhado de vozes que saíam cantando, atrapalhando, ajudando, decifrando. Cada voz com seu objetivo, cada uma querendo viver sua doce e rápida vida.
Os corredores nos apoiam. Eles são nosso suporte, dia após dia. Jogamos nossas mágoas em cima deles, em relação a notas. Todo final de semestre é sempre igual: aquela choradeira de um lado, aquela euforia do outro. Corredores, eles têm a opção, pelo nome, de correr, mas não correm nem se escondem, estão sempre conosco, no mesmo lugar, sempre nos esperando, para escutar mais uma história: de terror, de amor, de tristeza e de alegria, cada uma de uma voz que tem um sonho totalmente diferente da outra.
Dores dos corredores. Não sei como eles conseguem ficar todo esse período com a gente, vendo as corridas, vendo os sonhos, sentindo nossas dores, suportando aquela garota de Edificações aos prantos por não ter conseguido que seu amado a correspondesse. Ela realmente o amava, assegura o corredor, e a notícia correu corredores acima, até que ela resolveu seguir em frente. Corredores, sempre aguentando nossas demoradas e longas discussões, a respeito da prova que acaba de acontecer, a respeito da vida, a respeito de um olhar. Ah, corredores, perto de vocês, mas longe de alguém, estar sozinho em sua companhia é estar relaxado ao escutar aquela música preferida, compartilhar aquele sonho antigo, mostrar aquela euforia retórica.
O tempo e o corredor. Acho que eles são amigos. Corredores precisam de tempo para bater seus recordes e o corredor tem todo tempo do mundo para esperar pacientemente junto com seu parceiro sentimental a hora em que ele tenha que partir, para mais uma de suas corridas. Um dia irá voltar para o colo quente e aconchegante do corredor, que espera pacientemente a sua chegada com mais histórias.
Confidente e confiante é o corredor. Vê vários e vários casais se amando, se apaixonando e se beijando, mas continua lá, nem corre nem sai do lugar, aguarda sempre que preciso esperando outro casal apaixonado despejar sua paixão ali, ao seu lado.  Conquistando um ao outro nos seus “amassos” quentes e inesperados, silenciosamente quietos como uma leoa prestes a capturar sua presa, eles conseguem acalmar-se no corredor. Um dos mais vistos é o casal A, A de amor, de amizade; A de Arthur e Alexandra, que por mais que tenham demorado oficializar esse romance incrivelmente bonito, fizeram a coisa certa, e hoje estão transbordando um pouco desse amor pelo corredor, que absorve e se sente lisonjeado por estar ali.
E a cada novo ano os corredores vão ganhando volume, novos amigos. Este ano ele recebeu de braços abertos as novas turmas, de Logística, de Informática e de Edificações. Juntamente com as turmas anteriores no intervalo das doze horas, o corredor é uma animação só. Conversas aqui, na fila do almoço; conversas ali, muitas pessoas da nossa turma na tão disputada e desejada “Caverna do dragão” - aquele pedacinho denominado tão especial. Não lembro o porquê de tal nomenclatura, mas amigo é amigo, e, amigo que se preze, sempre tem um apelido aqui ou ali. O corredor não poderia ficar de fora.
Em relação ao amor indescritível entre as duas isoladas e individualistas turmas de Informática e Edificações, o corredor relata que por trás de todo o duelo, existe sim uma fraternidade entre os cursos. Claramente, víamos nos corredores aquele alvoroço, na época da tão disputada e acirrada SEMADEC, e com ela os corredores presenciaram o horror, o desespero, o medo e a dor dos alunos dos cursos que participaram dessa empolgante competição. O corredor, ao fim, visualizou a vitória do curso de Informática, com persistentes dez pontos de diferença. E infelizmente notou também o desânimo da parte dos alunos de Edificações, que demonstraram não gostar muito do resultado, mas nada, nem mesmo esse grande confronto, fez com que sua enorme benevolência deixasse de existir.

Dores, sonhos, sentimentos, todos compartilhados com ele: amigo, inesquecível corredor. Sempre que precisar, sei que estará aqui, para o que der e vier, para me apoiar, para me ajudar, para me suportar, me ouvir; de ouvidos bem abertos para escutar todo e qualquer lamento, de coração na mão, para me acompanhar naquela ou em outra solidão; e, de braços abertos, para me aconchegar, sentir meu cheiro e me sentir mais perto. Corredor, não corra! Partilhe sua dor, sinta nosso calor, não esqueça nosso amor. 

                                                                                                                        Rafael Cardozo

Um comentário: