Todo dia é uma corrida diferente, um
olhar diferente, uma disputa diferente, para chegar à sala de aula, para fugir
de nossos medos, para reencontrar um amigo. Corridas disputadas contra si
próprio nos corredores sagazes do IFRN-São Gonçalo do Amarante. Disputas que
muitas vezes são ganhas, mas também são perdidas injustamente, sem nem ao menos
saber em qual corredor começou e com qual corredor vai terminar. Passagens onde
podemos vislumbrar, só de passagem, as conversas, os namoros e até mesmo as
tristezas dos alunos de nosso Câmpus.
As dores correm, juntamente com as lágrimas:
dores de uma aluna de Informática que não conseguiu atingir a média na matéria
do medo, matéria da dor - Programação
Orientada a Objetos. Já vimos muitas de suas vítimas pelos corredores.
Dores de um aluno de Edificações e um de Informática, que sempre estão juntos e
quando passam e escutam aquele toque de violão ao longe, aquela melodia cuja
letra todos assimilam com suas vidas, têm algumas lembranças. Até que surge aquele
momento tão esperado por uns, e tão rejeitado por outros, pois ninguém sabe o
que o outro está sentindo, pode ser uma simples dor de cabeça, como pode ser
apenas uma vontade imensa de pôr tudo pra fora, chorar no ombro amigo, ou rir
de tudo que passa pelo corredor.
Estar com amigos em direção ao
refeitório, antes do toque para o intervalo é o mesmo que deixar um segurando
firmemente o silêncio do outro naquele corredor frio e silencioso, mas são
amigos e continuam a caminhar no corredor, agora nem tão silencioso como antes.
São tantos alunos, tantas vozes, num barulho estridente, até que alguém de alma
boa e descontraída começa a falar, mas sua voz soa como se fosse apenas mais
uma voz do embaralhado de vozes que saíam cantando, atrapalhando, ajudando, decifrando.
Cada voz com seu objetivo, cada uma querendo viver sua doce e rápida vida.
Os corredores nos apoiam. Eles são
nosso suporte, dia após dia. Jogamos nossas mágoas em cima deles, em relação a
notas. Todo final de semestre é sempre igual: aquela choradeira de um lado,
aquela euforia do outro. Corredores, eles têm a opção, pelo nome, de correr,
mas não correm nem se escondem, estão sempre conosco, no mesmo lugar, sempre
nos esperando, para escutar mais uma história: de terror, de amor, de tristeza
e de alegria, cada uma de uma voz que tem um sonho totalmente diferente da
outra.
Dores dos corredores. Não sei como
eles conseguem ficar todo esse período com a gente, vendo as corridas, vendo os
sonhos, sentindo nossas dores, suportando aquela garota de Edificações aos
prantos por não ter conseguido que seu amado a correspondesse. Ela realmente o
amava, assegura o corredor, e a notícia correu corredores acima, até que ela resolveu
seguir em frente. Corredores, sempre aguentando nossas demoradas e longas
discussões, a respeito da prova que acaba de acontecer, a respeito da vida, a
respeito de um olhar. Ah, corredores, perto de vocês, mas longe de alguém,
estar sozinho em sua companhia é estar relaxado ao escutar aquela música preferida,
compartilhar aquele sonho antigo, mostrar aquela euforia retórica.
O tempo e o corredor. Acho que eles
são amigos. Corredores precisam de tempo para bater seus recordes e o corredor
tem todo tempo do mundo para esperar pacientemente junto com seu parceiro
sentimental a hora em que ele tenha que partir, para mais uma de suas corridas.
Um dia irá voltar para o colo quente e aconchegante do corredor, que espera pacientemente
a sua chegada com mais histórias.
Confidente e confiante é o corredor.
Vê vários e vários casais se amando, se apaixonando e se beijando, mas continua
lá, nem corre nem sai do lugar, aguarda sempre que preciso esperando outro
casal apaixonado despejar sua paixão ali, ao seu lado. Conquistando um ao outro nos seus “amassos”
quentes e inesperados, silenciosamente quietos como uma leoa prestes a capturar
sua presa, eles conseguem acalmar-se no corredor. Um dos mais vistos é o casal
A, A de amor, de amizade; A de Arthur e Alexandra, que por mais que tenham
demorado oficializar esse romance incrivelmente bonito, fizeram a coisa certa,
e hoje estão transbordando um pouco desse amor pelo corredor, que absorve e se
sente lisonjeado por estar ali.
E a cada novo ano os corredores vão
ganhando volume, novos amigos. Este ano ele recebeu de braços abertos as novas
turmas, de Logística, de Informática e de Edificações. Juntamente com as turmas
anteriores no intervalo das doze horas, o corredor é uma animação só. Conversas
aqui, na fila do almoço; conversas ali, muitas pessoas da nossa turma na tão
disputada e desejada “Caverna do dragão” - aquele pedacinho denominado tão
especial. Não lembro o porquê de tal nomenclatura, mas amigo é amigo, e, amigo
que se preze, sempre tem um apelido aqui ou ali. O corredor não poderia ficar
de fora.
Em relação ao amor indescritível
entre as duas isoladas e individualistas turmas de Informática e Edificações, o
corredor relata que por trás de todo o duelo, existe sim uma fraternidade entre
os cursos. Claramente, víamos nos corredores aquele alvoroço, na época da tão
disputada e acirrada SEMADEC, e com ela os corredores presenciaram o horror, o
desespero, o medo e a dor dos alunos dos cursos que participaram dessa
empolgante competição. O corredor, ao fim, visualizou a vitória do curso de Informática,
com persistentes dez pontos de diferença. E infelizmente notou também o
desânimo da parte dos alunos de Edificações, que demonstraram não gostar muito
do resultado, mas nada, nem mesmo esse grande confronto, fez com que sua enorme
benevolência deixasse de existir.
Dores, sonhos, sentimentos, todos
compartilhados com ele: amigo, inesquecível corredor. Sempre que precisar, sei
que estará aqui, para o que der e vier, para me apoiar, para me ajudar, para me
suportar, me ouvir; de ouvidos bem abertos para escutar todo e qualquer
lamento, de coração na mão, para me acompanhar naquela ou em outra solidão; e,
de braços abertos, para me aconchegar, sentir meu cheiro e me sentir mais
perto. Corredor, não corra! Partilhe sua dor, sinta nosso calor, não esqueça nosso
amor.
Rafael Cardozo
AI MDS <3
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