Eram manhãs
calorosas e aconchegantes no mês de junho de 2013. Era a volta às aulas no
nosso Campus. Eram abraços apertados,
beijos e sorrisos de todas as formas no rosto dos alunos e servidores da
instituição. Eram tantas palavras boas de ouvir, como um “que saudades eu
estava de você”. Era aquele famoso “fuzuê” que aluno adora fazer. Um fuzuê do
qual até mesmo os professores faziam parte na hora das aulas, um fuzuê de alegria.
Entretanto, não é sempre que esse “fuzuê” de
alegria prevalece. A alegria nos faz sorrir à toa, nos faz sentir um bem dentro
da gente, uma vontade grande de ser feliz. Mas o que seria desse sentimento se
não conhecêssemos a tristeza? Ela prevaleceu em meados de julho. Não só nossa
turma, mas a escola toda também se comoveu com o ocorrido com uma das alunas de
nossa classe, que por sua vez é nossa querida e adorável amiga. Costumávamos
vê-la sentada pelos corredores do Instituto com um sorriso contagiante ao falar
com seu namorado pelo celular. Na hora
do intervalo, lá estava ela conversando com ele, sorrindo feito uma criança,
tão apaixonada, uma cena bonita de se ver. Ao passar por ela, já era costume
dizer: “É amor demais!” E realmente era, quer dizer, e realmente é!
No entanto, a morte, com sua aparição inesperada, fez com que aqueles
dias se tornassem apenas lembranças de uma menina que já não era tão feliz
assim. O destino é um manipulador mesmo. Da mesma forma que a felicidade pode
bater à nossa porta, a tristeza pode entrar pelos fundos da casa. No final da
história, elas sempre andam juntas. É nesse contexo que devemos perceber como nossas
vidas são frágeis. O destino sempre terá o controle delas. Tudo pode acabar. Numa
esquina, ao dormir, ao acordar, quem sabe? É tudo tão fugaz, tão inesperado. E
foi nesse momento que realmente paramos para refletir sobre isso, sobre as
pessoas que nos cercam, o quanto elas são importantes para nós e que, em algum
momento, elas irão partir, e nós teremos que estar preparados.
Quando soubemos do falecimento do namorado de nossa amiga, um sentimento
de tristeza nos inundou por inteiro. As moças sentiam a dor como se ele fosse o
seu amado; e os rapazes, como se ele fosse um de seus irmãos. Era como se o que
ela tivesse sentindo fosse transmitido para cada um de nós, pois lágrimas foram
poucas para expressar aquela erosão de sentimentos. O que mais doía era tentar
imaginar como ela lidava com a situação: se o seu coração batia forte e
machucado ou se ele nem mesmo batia. O seus pensamentos não focavam em mais
nada a não ser nele, no seu amor, amor que acabara de partir, deixando com ela
uma história que ainda não havia acabado. Tantas juras, tantos planos e sonhos
que ainda iriam ser vividos, e que, de repente, ele é tirado de seus braços,
tirado de uma forma tão cruel e miserável.
Na escola,
as manhãs eram marcadas pelo silêncio, pela preocupação e cuidado com cada
palavra pronunciada ao vento, tendo em vista que estávamos tratando de algo tão
delicado... Da grande perda que nossa amiga acabara de sofrer, e, devido a este
fato, não comparecia às aulas. E foi naquele momento, de angústias e corações
machucados, que fomos visitá-la em sua casa, pois era justamente disso que ela
precisava, de nós, seus amados amigos, da nossa força, do nosso carinho e do
nosso cuidado, para que ela pudesse recomeçar. Ela precisava se sentir amada, e
principalmente, perceber que não estava sozinha, que nos tinha para superar
aquela situação, e que, aos poucos, juntos, voltaríamos a sorrir, a brincar, a
achar, na vida, uma luzinha brilhando no fim do túnel, uma luzinha chamada
felicidade. Mesmo que a dor pudesse ter nos roubado isso, nós o conquistaríamos
novamente.
Hoje, a
única certeza que temos é de que, por mais que estejamos ao seu lado, tentando
ouvir sua risada e tentando, de alguma maneira, não deixá-la chorar, sabemos
que em alguns momentos de seu dia, ela se sente perdida, sente um vazio em seu
coração, um vazio que só ele pode preencher.
Sentimo-nos
tão impotentes, frágeis e pequenos diante da crueldade do mundo em que vivemos,
onde vidas são apagadas como uma simples vela é soprada quando não é mais
necessária. Essas circunstâncias nos fazem ficar sem fé, e, inevitavelmente,
começamos a criar uma espécie de bloqueio, um medo de confiar, um medo danado
de amar, de se entregar às coisas boas da vida e às pessoas boas que passam por
ela.
Novembro, 2013
David Moreira
Tainara Lima
Nenhum comentário:
Postar um comentário