sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Amizade acima da dor

Eram manhãs calorosas e aconchegantes no mês de junho de 2013. Era a volta às aulas no nosso Campus. Eram abraços apertados, beijos e sorrisos de todas as formas no rosto dos alunos e servidores da instituição. Eram tantas palavras boas de ouvir, como um “que saudades eu estava de você”. Era aquele famoso “fuzuê” que aluno adora fazer. Um fuzuê do qual até mesmo os professores faziam parte na hora das aulas, um fuzuê de alegria.
 Entretanto, não é sempre que esse “fuzuê” de alegria prevalece. A alegria nos faz sorrir à toa, nos faz sentir um bem dentro da gente, uma vontade grande de ser feliz. Mas o que seria desse sentimento se não conhecêssemos a tristeza? Ela prevaleceu em meados de julho. Não só nossa turma, mas a escola toda também se comoveu com o ocorrido com uma das alunas de nossa classe, que por sua vez é nossa querida e adorável amiga. Costumávamos vê-la sentada pelos corredores do Instituto com um sorriso contagiante ao falar com seu namorado pelo celular.  Na hora do intervalo, lá estava ela conversando com ele, sorrindo feito uma criança, tão apaixonada, uma cena bonita de se ver. Ao passar por ela, já era costume dizer: “É amor demais!” E realmente era, quer dizer, e realmente é!
No entanto, a morte, com sua aparição inesperada, fez com que aqueles dias se tornassem apenas lembranças de uma menina que já não era tão feliz assim. O destino é um manipulador mesmo. Da mesma forma que a felicidade pode bater à nossa porta, a tristeza pode entrar pelos fundos da casa. No final da história, elas sempre andam juntas. É nesse contexo que devemos perceber como nossas vidas são frágeis. O destino sempre terá o controle delas. Tudo pode acabar. Numa esquina, ao dormir, ao acordar, quem sabe? É tudo tão fugaz, tão inesperado. E foi nesse momento que realmente paramos para refletir sobre isso, sobre as pessoas que nos cercam, o quanto elas são importantes para nós e que, em algum momento, elas irão partir, e nós teremos que estar preparados.
Quando soubemos do falecimento do namorado de nossa amiga, um sentimento de tristeza nos inundou por inteiro. As moças sentiam a dor como se ele fosse o seu amado; e os rapazes, como se ele fosse um de seus irmãos. Era como se o que ela tivesse sentindo fosse transmitido para cada um de nós, pois lágrimas foram poucas para expressar aquela erosão de sentimentos. O que mais doía era tentar imaginar como ela lidava com a situação: se o seu coração batia forte e machucado ou se ele nem mesmo batia. O seus pensamentos não focavam em mais nada a não ser nele, no seu amor, amor que acabara de partir, deixando com ela uma história que ainda não havia acabado. Tantas juras, tantos planos e sonhos que ainda iriam ser vividos, e que, de repente, ele é tirado de seus braços, tirado de uma forma tão cruel e miserável.
Na escola, as manhãs eram marcadas pelo silêncio, pela preocupação e cuidado com cada palavra pronunciada ao vento, tendo em vista que estávamos tratando de algo tão delicado... Da grande perda que nossa amiga acabara de sofrer, e, devido a este fato, não comparecia às aulas. E foi naquele momento, de angústias e corações machucados, que fomos visitá-la em sua casa, pois era justamente disso que ela precisava, de nós, seus amados amigos, da nossa força, do nosso carinho e do nosso cuidado, para que ela pudesse recomeçar. Ela precisava se sentir amada, e principalmente, perceber que não estava sozinha, que nos tinha para superar aquela situação, e que, aos poucos, juntos, voltaríamos a sorrir, a brincar, a achar, na vida, uma luzinha brilhando no fim do túnel, uma luzinha chamada felicidade. Mesmo que a dor pudesse ter nos roubado isso, nós o conquistaríamos novamente.
Hoje, a única certeza que temos é de que, por mais que estejamos ao seu lado, tentando ouvir sua risada e tentando, de alguma maneira, não deixá-la chorar, sabemos que em alguns momentos de seu dia, ela se sente perdida, sente um vazio em seu coração, um vazio que só ele pode preencher.
            Sentimo-nos tão impotentes, frágeis e pequenos diante da crueldade do mundo em que vivemos, onde vidas são apagadas como uma simples vela é soprada quando não é mais necessária. Essas circunstâncias nos fazem ficar sem fé, e, inevitavelmente, começamos a criar uma espécie de bloqueio, um medo de confiar, um medo danado de amar, de se entregar às coisas boas da vida e às pessoas boas que passam por ela.

                        Novembro, 2013

            David Moreira
            Tainara Lima

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