sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Podia ser pior!

          No fim do ano letivo, Taygor Enrico, um estudante de Informática do IFRN de são Gonçalo do Amarante, tinha que mostrar o resultado final aos seus pais e não sabia como fazer isso. Foi conversar com seu amigo Pedro, que, diferente dele, já havia passado por média.
        - Pedro, tô fudido!
        - O que foi, homem?
        - Ano passado o professor de Eletricidade ainda me passou, mas esse ano...
        - Acredito não, Taygor! Passou não?
        - Passei não, essa droga!
        - Vacilou! Também, você mal assiste aula e, quando está em sala de aula, é só pra dormir. Assim não tem como passar, né?
        - O problema agora é como vou falar isso pra pai e mãe. Acho que nem vou falar.
        - Mesmo que você não fale, eles vão ficar sabendo de todo jeito. O pessoal da pedagogia ligará pra sua casa. É melhor você falar.
        - É mesmo... Acho que sei o que vou fazer.
        E resolveu deixar uma mensagem grudada na tv.
        Oi, pai! Oi, mãe! É com muita tristeza que escrevo para vocês. Quando vocês estiverem lendo esse recado, já devo estar em Pipa, curtindo o fim de ano com Malu, aquela menina que conheci quando fui preso no show de reggae lá na Ribeira. Só volto ano que vem, se arranjar dinheiro pra voltar. Ah, se vocês não sabiam, agora sabem que eu já fui preso, mas relaxem: fui solto quando a festa acabou.
        Diana, a mãe do insensato, quase desfalecida, não consegue ler o resto da mensagem e chama pelo pai do indivíduo.
        - Naldo, venha aqui pelo amor de Deus!
        - O que foi? Tá passando mal?
        - Leia isso. Diga que não é verdade o que eu estava lendo. Show de reggae na Ribeira? E eu pensando que ele ia pro Midway com os amigos da escola!
        - Nesses shows de reggae só dá coisa que não presta: maconha, vagabundo, só coisa ruim. O que Taygor tava fazendo ali, Diana? Com quem é que ele tava num canto desses?
- Meu filho preso?! Que horror! – Diana não se conformava - Nunca pensei que viveria pra ver uma coisa dessas. Isso devem ser as más companhias que ele arranjou lá no IF.
- Preso? É o quê? Acredito não! Esse vagabundo...
        E Naldo continua a leitura.
        Estou apaixonado por ela, apaixonado pelas suas tatuagens, por aquele cabelo de “dreads”, por aqueles ferros e “piercings”, estou pensando até em botar um... Mas tenho que contar a vocês que não é só isso. O João Vitor, aquele negrinho que rouba dinheiro da igreja do pai dele, que veio aqui em casa com o professor Milson, que só assiste aula bêbado e faz “programas”... Lembram dele? Ele está com a gente. Porém, não se preocupem comigo. Já tenho 16 anos e sei muito bem me virar sozinho.
        Naldo estava enfurecido com o que acabara de ler. Diana continuava passando mal.
        - Mas como é que pode! Aquele menino que veio aqui com o professor parecia tão comportado. Lembra, Naldo? Fiquei até contente quando soube que era filho de pastor, achei que Taygor estava em boa companhia... E o menino bebendo, fazendo até programas? Deve ser por isso que nosso filho está entrando no mau caminho. Ele não era assim!
        Mal sabia ela que o seu filho é que estava levando o filho do pastor à perdição. Em matéria de curtição, o Enrico já era pós-graduado, aprovado com louvor e distinção.
        - Esse filho da mãe tá pensando que é o que pra fazer isso? Ele tá pensando que se governa! Isso é culpa sua, Diana, que sempre fez os gostos dele.
        - Pelo amor de Deus, não vamos brigar agora. Leia o fim dessa mensagem e vá pegá-lo onde ele estiver!
        Com amor e carinho do seu querido filho.
        Ah, pai, mãe, isso é só uma brincadeirinha, viu! Estou na casa da Cecília, minha namorada. Só queria mostrar para vocês que há coisas bem piores na vida do que as minhas notas, que devem estar aí em cima do balcão. Não se estressem! Ano que vem eu recupero.
       

Pedro Lucas 

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