
- Pedro, tô fudido!
- O que foi, homem?
- Ano passado o professor de
Eletricidade ainda me passou, mas esse ano...
- Acredito não, Taygor! Passou não?
- Passei não, essa droga!
- Vacilou! Também, você mal assiste aula
e, quando está em sala de aula, é só pra dormir. Assim não tem como passar, né?
- O problema agora é como vou falar isso
pra pai e mãe. Acho que nem vou falar.
- Mesmo que você não fale, eles vão
ficar sabendo de todo jeito. O pessoal da pedagogia ligará pra sua casa. É
melhor você falar.
- É mesmo... Acho que sei o que vou
fazer.
E resolveu deixar uma mensagem grudada
na tv.
Oi,
pai! Oi, mãe! É com muita tristeza que escrevo para vocês. Quando vocês
estiverem lendo esse recado, já devo estar em Pipa, curtindo o fim de ano com
Malu, aquela menina que conheci quando fui preso no show de reggae lá na
Ribeira. Só volto ano que vem, se arranjar dinheiro pra voltar. Ah, se vocês
não sabiam, agora sabem que eu já fui preso, mas relaxem: fui solto quando a
festa acabou.
Diana, a mãe do insensato, quase
desfalecida, não consegue ler o resto da mensagem e chama pelo pai do
indivíduo.
- Naldo, venha aqui pelo amor de Deus!
- O que foi? Tá passando mal?
- Leia isso. Diga que não é verdade o
que eu estava lendo. Show de reggae na Ribeira? E eu pensando que ele ia pro
Midway com os amigos da escola!
- Nesses shows de reggae só dá coisa que
não presta: maconha, vagabundo, só coisa ruim. O que Taygor tava fazendo ali,
Diana? Com quem é que ele tava num canto desses?
-
Meu filho preso?! Que horror! – Diana não se conformava - Nunca pensei que
viveria pra ver uma coisa dessas. Isso devem ser as más companhias que ele
arranjou lá no IF.
-
Preso? É o quê? Acredito não! Esse vagabundo...
E Naldo continua a leitura.
Estou
apaixonado por ela, apaixonado pelas suas tatuagens, por aquele cabelo de
“dreads”, por aqueles ferros e “piercings”, estou pensando até em botar um...
Mas tenho que contar a vocês que não é só isso. O João Vitor, aquele negrinho
que rouba dinheiro da igreja do pai dele, que veio aqui em casa com o professor
Milson, que só assiste aula bêbado e faz “programas”... Lembram dele? Ele está
com a gente. Porém, não se preocupem comigo. Já tenho 16 anos e sei muito bem
me virar sozinho.
Naldo estava enfurecido com o que
acabara de ler. Diana continuava passando mal.
- Mas como é que pode! Aquele menino que
veio aqui com o professor parecia tão comportado. Lembra, Naldo? Fiquei até
contente quando soube que era filho de pastor, achei que Taygor estava em boa
companhia... E o menino bebendo, fazendo até programas? Deve ser por isso que nosso
filho está entrando no mau caminho. Ele não era assim!
Mal sabia ela que o seu filho é que
estava levando o filho do pastor à perdição. Em matéria de curtição, o Enrico já
era pós-graduado, aprovado com louvor e distinção.
- Esse filho da mãe tá pensando que é o
que pra fazer isso? Ele tá pensando que se governa! Isso é culpa sua, Diana,
que sempre fez os gostos dele.
- Pelo amor de Deus, não vamos brigar
agora. Leia o fim dessa mensagem e vá pegá-lo onde ele estiver!
Com
amor e carinho do seu querido filho.
Ah,
pai, mãe, isso é só uma brincadeirinha, viu! Estou na casa da Cecília, minha
namorada. Só queria mostrar para vocês que há coisas bem piores na vida do que
as minhas notas, que devem estar aí em cima do balcão. Não se estressem! Ano
que vem eu recupero.
Pedro Lucas
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