sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Meus bordões ninguém tasca!

            Tenho que reconhecer, melhorei meu português. Sim, eu era um horror. Toda essa melhoria devo a um pessoa alta, desengonçada, carismática, mas responsável. Claro, meu professor de Literatura e Língua “Purtuguesa”, como ele mesmo fala.
            Ele é único. Uniquíssimo, se é que essa palavra existe. Não podemos falar dele e deixar suas características de fora, tais como: professor de bordões autenticados, ou seja, só pode usar quem pagar patente; mestre das artes maciais (mesmo sem ter ido uma vez sequer a uma academia de luta).
      Magnífico, não? “Adooooooro”. Eu posso usar, paguei patente. Admirador das belas artes. Até encenamos uma tragédia grega, Édipo Rei. Ele ameaçou o ator que interpretava Édipo.
            - Ensaia direito, peste! – exclamou o professor.
            - E eu estou fazendo o quê? – falou o ator, com a cara mais cínica.
            - Vou ter um infarto.
            -Tenha!
            Foi aí que o professor  Milson Santos decidiu colocar a filosofia de mestre das artes maciais em prática.
            -Vamos, faça logo, seu porra!
            - Faço se eu quiser.
            - Ai, Jesus, Maria, José! Ou eu dou uma voadora, ou eu te dou uma chinelada no rabo.
            E foi assim que conseguimos apresentar a peça. No tranco. Na linha “dura”.
Sempre foi assim, desde os primeiros dias de aula. Começou com :
- Mas é claaaaro!
Depois passou para:
- Jeeeesus! 
E não parou por aí.
- Macaíba?; se apronte que eu vou lhe usar; refaz, refaz tudo; deixa de ser pobre; nota abaixo de zero.
Esses são os mais falados e reproduzidos nos corredores pelos seus alunos/fãs...
            Se você for conversar com ele, certamente ouvirá alguns bordões.
- Olá, professor, como tá?
            - Bem, meu jovem.
            - Professor, como tá minha nota?
            - Um horror! ... Uma pobreza franciscana!
            - Como faço para recuperar?
            - Vá para o CA, me use, me chame, me procure, me invoque, vá atrás de mim.   Tudo isso com o alavancar das mãos.
            -Que é isso, fessor, sou nota dez!
            -  Dez zeros, amiguinho, seu interesse é abaixo de zero.
            - Faça uma prova, pra ver se eu não fecho.
            -Posso fazer mil provas e você não fecha.
            Não é de costume, mas o professor fez a prova. O garoto, muito nervoso, estava ouvindo “mil sons”. Ele até invocou os “Santos”. Todos eles. Era a temida prova do Enem, que tinha 45623 questões subjetivas com 45 linhas para a resposta.  Enem?  Sim. Este era o apelido dado à prova do professor.
Depois de três dias, o garoto, esperançoso, chegou e disse.
            - Professor, como vai?
            - Vou bem.
            - E minha prova?
            O professor deu uma risada que mais parecia com uma crise de tosse.
            - Heim, professor? Minha nota?
            - A nota? A nota você já sabe.


Mário Jorge 







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