sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Pistoleiro do amor

Entre cactos, bolas de mato seco, saloons e balas, assim vivia o povo da vila de Santa Rosália. Enquanto parte da vila dormia, a noite apenas começava no cabaret da Madame Bardô.
As garotas dançavam, os homens da velha vila se embebedavam, jogavam baralho e, encantados, as flertavam. Sol e Luna, as gêmeas mais bonitas e desejadas daquela região, dançavam cancan enquanto, sentado no balcão, Frank Miller, mais uma vez, tentava seduzir alguma mulher que quisesse lhe dar amor. Miller era o fiel ajudante do xerife Alfred Besan, que mal saía de seu gabinete devido ao seu alto índice de gordura e de preguiça. Alfred era conhecido pelos feitos do ajudante. Homem corajoso e destemido, Frank sempre enfrentava os bandidos que tentavam roubar o Big Bank, o banco da vila.
Miller era sempre bem sucedido em seus confrontos. Sua pistola brilhava, as esporas das botas eram bem afiadas, roupas e chapéu sempre alinhados, mas Frank nunca encontrava uma mulher para ser sua. Todas as noites, ia ao cabaret, mas nem as meretrizes se entregavam àquele que parecia apenas um reles ajudante. Uma vez, as gêmeas decidiram dar uma noite de alegria e prazer àquele pobre moço. Subiram as escadas do cabaret até os quartos e entraram no 609. Frank, encantado com aquelas belas mulheres, não via a hora de se deliciar naquelas curvas. As gêmeas, que sempre faziam tudo junto, adoravam mandar nos homens. Na hora, mandaram Frank, com a boca, tirar suas meias rendadas, desvencilhar os laços de seus corseletes e beijar seus corpos por inteiro. Frank foi o homem mais feliz daquela noite, mas ainda se sentia só.
Até que um dia, Frank viu uma moça de cabelos negros, pele branca e olhos cor de mel no cabaret. Ele nunca tinha visto aquela mulher. Curioso, foi logo perguntando a um garçom quem era aquela moça, e ele respondeu:
- Essa é a meretriz de ouro, meu caro. Ela é exclusiva do coronel Kill.
Kill era um coronel muito respeitado e temido daquela região, mas Frank se apaixonou por aquela que seria proibida para ele. Miller, sempre corajoso, foi logo atrás da moça misteriosa. Viu-a entrando no 512 e percebeu que a meretriz estava só. Entrou no quarto e deu de cara com a moça nua, deitada na cama. Seios fartos, curvas como a de um violão, era quase impossível não se apaixonar. Frank, ligeiro como bala, foi logo se despindo. Corpos suados, mãos entrelaçadas, respiração ofegante, foram dez minutos de amor. No outro dia, o pobre rapaz apaixonado pela meretriz foi ao cabaret para conversar com a moça. Pensava ele em se declarar para ela, pois achava que ela seria sua.
Chegando ao quarto, deparou-se com a meretriz deitada com o coronel. Frank não pensou duas vezes. Tomado pela raiva, sacou sua pistola e matou o coronel Kill e aquela que por uma noite preencheu o vazio de seu coração. Frank Miller seguiu solitário, procurando dentre as mulheres aquela que chamaria de sua, mas sempre de cabeça erguida, enfrentando os perigos e baleando a dor.

 Victor Morais

Conto produzido a partir da letra da canção brega Pistoleiro do amor, de José Orlando. 

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