No ônibus que
transportava os alunos, só se ouvia o som do Grafitão. Quando toca o Grafitão,
até quem diz que não gosta acaba entrando no clima e fazendo o objeto mais
próximo de tambor de batuque. Com a turma, não foi diferente. Alguns
aproveitavam para mostrar seus dotes como dançarinos e transformavam o corredor
da condução em uma pista de dança. A música mais tocada
era Teia nela. Pra quem não conhece,
aí vai um trecho da letra:
Oh Mary Jane, deixa eu ser seu homem aranha
Mary Jane, sei que você me ama não me engana
Teia nela, teia nela, teia nela
Teia nela, teia nela, teia nela
Como a maioria das
músicas de Grafith, essa também tem pouca letra, e várias palavras com sentido
ambíguo, que levam sempre o ouvinte a pensar maliciosamente.
Estava programada uma
parada em que os alunos iriam pernoitar.
Local escolhido: um hotel bem amplo e aconchegante, com restaurante e
área de lazer com piscina e espaço para jogos, como sinuca e totó. As suítes do
hotel tinham duas camas de solteiro e uma de casal, um frigobar, e uma varanda
com uma bela vista para a Serra de Portalegre. Um luxo! Não demora muito para
começarem a jogar uns aos outros na piscina. Até quem não pretendia tomar
banho, acabou se molhando de alguma forma. O molha-molha foi só uma das
brincadeiras que lá ocorreram. Também teve o “txu-txu”: uma espécie de dança em que vários alunos
rodeavam uma vítima e faziam movimentos indecentes para frente e para trás.
A hora de dormir
finalmente tinha chegado. O professor responsável pela viagem determinara que
cada quarto seria ocupado por um grupo de quatro pessoas, todas do mesmo sexo.
Decretou também que a partir das dez horas da noite, não queria nenhum aluno
perambulando nos corredores. Muitos que estavam cansados da viagem e das várias
paradas durante o caminho, foram logo dormir. Mas alguns ainda tinham energia
para uma aventura noturna, que quebraria as regas do professor Wilson. Sabe
como é adolescente... Hormônios em ebulição, à flor da pele, não querem perder
uma oportunidade pra fazer o que não presta (ou o que presta).
Não havia barreiras para
os aventureiros. As proibições do professor entraram em um ouvido e saíram pelo
outro. As varandas dos quartos, por serem muito próximas umas das outras,
serviram como porta de acesso a todos os quartos que não estavam trancados. E,
atiçados pelo desejo, lá foram os alunos, que mais pareciam aranhas, subindo e
descendo varandas com uma destreza de quem já nasceu para aquilo, loucos para
chegarem em um quarto que fosse ocupado por meninas e aí .... “teia nela, teia
nela, teia nela”. Houve até quem caísse, em uma das escaladas. Quase se quebra
todo lá em baixo, mas isso é apenas um detalhe. Um deles até ganhou o apelido
de Spider, provavelmente porque sua
escalada atrás de uma Mary Jane deve ter dado certo.
No dia seguinte, todos,
inclusive os docentes presentes, estavam sabendo das aventuras noturnas de
alguns alunos. Na volta à escola, foi relatado ao diretor, como toda boa
fofoca, tudo que tinha acontecido e até o que achavam que havia acontecido. E
tudo descrito com muitos detalhes pelos professores. Segundo alguns deles,
vários casais, que nem sequer existiam, dormiram juntos. Houve relatos, também,
de pessoas que perderam a virgindade na viagem. Mas para considerarem que você
estava de caso com alguém, bastava sentar ao lado no ônibus, e não demoraria
muito a começarem os comentários. Como sabemos, toda fofoca é baseada naquilo
que achamos, e no que os outros dizem, então não é certo afirmar nada sobre os
acontecidos dessa aula de campo.
Na sala dos professores,
nos corredores do Campus, na sala do
segundo ano de Informática, em todos os recantos do Instituto, não se falava em
outra coisa. A ladainha era sempre a
mesma:
- Teia nela, teia nela, teia nela...
Gerardo Neto
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