quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O julgamento


O melhor companheiro que uma mulher poderia desejar. Esse era Marcelo, cavalheiro à moda antiga, daqueles que mandam flores e fazem de tudo para agradar sua mulher. Escravo do trabalho. Trabalhava de domingo a domingo para dar uma boa vida a Márcia, mas não se importava, tudo valia a pena quando voltava para casa e de longe avistava sua amada no portão a esperá-lo. Marcelo sempre apressava o passo, não via a hora de estar nos braços de Márcia. Ela também, ao vê-lo chegando, corria em sua direção e pulava em seus braços.
Já em casa, o quarto dos dois se enchia de amor.Todo dia era assim. Nos abraços quentes de Márcia, Ricardo se acendia. E, sem qualquer censura ou preconceito, o amor deles acontecia. Nas curvas do corpo de Márcia, ele era feliz. Não se imaginava mais sem aquela mulher ao seu lado.Ultimamente, sonhava até em ter um filho com ela, já estava na hora daquele amor render um fruto.
No dia seguinte, mal trabalhou direito, sonhando acordado com o filho que queria ter com Márcia. O expediente acabou mais cedo. Marcelo foi correndo para casa, não via a hora de contar seu desejo a Márcia, mas aquele dia não era igual aos outros. Márcia não o esperava no portão. “O que teria acontecido?” Marcelo, como de costume, apressou o passo, mas dessa vez de preocupação. Ao chegar em casa, procurou-a por todos os cômodos. Chegando ao quarto, a porta estava aberta. Foi então que ele se deparou com uma cena deprimente. Seus olhos não queriam acreditar no que viam. Ali, no seu ninho de amor, estava Márcia, se entregando a outro homem. Num ímpeto, Marcelo foi até o armário, pegou sua velha pistola, herdada de seu avô antes de morrer, e voltou ao quarto.
- Márcia, sua desgraçada! Você me traiu! – gritava ele. E chorava ao mesmo tempo.
- Não! Não é isso que você...
Antes que Márcia pudesse acabar de falar, Marcelo descarregou todas as balas no casal.O amante ainda tentou fugir, porém não conseguiu. Os dois morreram ali mesmo. Marcelo, ainda arrasado, sentado no chão do quarto, vendo aqueles dois corpos abraçados, sem vida, gritou:
-Por que você fez isso comigo, Márcia !?!!
Os vizinhos, assustados com toda aquela confusão, rapidamente ligaram para a polícia, que não tardou a chegar. Na cena do crime, Marcelo ainda se encontrava lá. Chorava num canto do quarto. De certa forma estava morto também.
Marcelo foi preso. Em seu julgamento não houve dúvidas. Todos os jurados o consideraram culpado.


Bruno Almeida
Conto produzido a partir da letra da canção brega O julgamento, de Amado Batista. 

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