Finalmente
sexta. O dia em que todos os homens, solteiros ou casados, escondidos de suas
esposas, esperam para curtir a noite no cabaré mais badalado da cidade, o
Arpeg. Com Lorenzo não era diferente. Rapaz solteiro, com 27 anos e uma fortuna
invejável, chamava a atenção de todos e todas do cabaré com suas belíssimas
roupas e joias caras que usava. Só bebia e comia do bom e do melhor.
Porém,
aquela sexta à noite foi um pouco diferente para o rapaz. Há horas percebia que
uma bela jovem o olhava sem parar. Era um olhar disfarçado, de quem queria
chegar para conversar, mas não tinha coragem. Muito interessado na moça, o
rapaz decidiu cortejá-la:
-
O que faz uma moça tão bela sozinha numa noite como esta?
-
Está à espera de um cavalheiro que lhe pague uma boa bebida – respondeu ela.
O
rapaz sorriu e pediu ao garçom duas doses do uísque mais caro que o bar podia
ter.
-
O cavalheiro aqui pode, pelo menos, saber o nome da dama?
-
Ah, claro! Chamo-me Laura. E o nome do cavalheiro, como é?
-
Lorenzo. Impressão minha ou a senhorita
não é da cidade?
-
Não, sou não. Cheguei há pouco tempo e me “hospedei” aqui.
-
Se hospedou? Neste cabaré?
-
Sim, uma moça solteira e sem dinheiro não pode escolher muito, não acha? Tenho
que ficar onde me aceitam e fazer o que me mandam. Estou cansada, já passei por
tanta coisa esses últimos anos que, se eu for contar, passaremos o resto da
noite falando nisso.
-
Tenho todo tempo do mundo... – respondeu o rapaz, curioso para saber a história
da moça.
Foi
a noite toda de conversa, como se já se conhecessem há muito tempo. Laura
contou toda sua história a Lorenzo, desde sua infância sofrida até os dias de
hoje. O rapaz, comovido com a história dela, ofereceu seu teto por alguns dias.
-
Vamos, aceite! Minha casa é grande. Não posso deixar que uma senhorita como
você fique nesta situação. Sem contar que podemos nos conhecer melhor, e tenho
que confessar que me interessei por você – fala o rapaz, com um tom de
interesse malicioso.
-
Não vou incomodar?
-
Claro que não, minha linda.
-
Então aceito.
Os
dois saíram do cabaré para a casa de Lorenzo. E, ao chegar, Laura ficou
encantada com tudo que havia naquele casarão. Os cômodos eram cheios de móveis
antigos e caros, quadros de pintores famosos e belas pratarias.
A
moça não se intimidou, e já foi logo perguntando se os dois iriam dormir no
mesmo quarto. O rapaz, com um sorriso meio safado, respondeu que ela escolheria.
Sem
demorar muito, Laura já estava nos braços de Lorenzo. Foi uma madrugada longa.
Dias
depois, os dois ficam noivos. Lorenzo estava cego de paixão. Fazia de tudo por
sua amada. Tinha orgulho em dizer pros amigos que iria ter uma esposa. Vivia
enchendo-a de presentes caros, vestidos, joias, jantares românticos nos
restaurantes mais caros. Laura amava. Viver no luxo era o que mais queria. Um
mês e pouco depois de se conhecerem, casaram-se.
Algum
tempo depois, Lorenzo começou a perceber que Laura já não ligava tanto para
ele. Ela não queria mais saber de beijinhos e abraços do rapaz, parecia sentir
desprezo, não tinha mais aquela paixão.
-
O que está acontecendo, meu amor? Por que te sinto tão longe de mim? –perguntou
o rapaz num tom triste e carente.
A
moça sem piedade nenhuma, curta e grossa, foi logo respondendo:
- Vou embora desta casa e do seu amor. Pra dizer mesmo a verdade eu nunca te amei, por teu pão
e tua casa foi que eu fiquei.
- Por que está me dizendo isso agora? O
que aconteceu? E tudo que nós passamos, Laura? - Os olhos do rapaz se encheram
de lágrimas.
- Nunca te amei, Lorenzo. Nunca fui
somente tua.
-Eu acreditei em você! Te dei um teto, fiz
de tudo por você!
-Nunca te pedi nada.
A raiva subia à cabeça de
Lorenzo, mas o que sentia por Laura era algo muito maior.
-Te dou mais uma chance, por favor, fique ! – implorava o
rapaz.
-Não quero, cansei! Não nasci
para essa vida de casada. Vou embora, já disse.
- Mas Laura...
-Adeus, Lorenzo. Deixei, na
mesa da cozinha, o número da conta do banco, para que você possa mandar minha
pensão. Afinal, somos casados - Um sorriso irônico estava estampado no rosto da
moça.
E então ela se foi.
Foi uma tarde tão triste
quando ela partiu, na curva daquela estrada ela então sumiu. Era como folha
seca que vai aonde o vento quer. Lorenzo
tinha se enganado quando dizia ter uma mulher.
Monaliza Freire
Conto produzido a partir da letra da canção brega Folhas secas, de Amado Batista.
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