quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O julgamento


Era quase uma hora da tarde. O meu julgamento já ia começar. Todos se levantaram. O juiz entrou, pediu que todos se sentassem e me disse que eu podia começar a contar minha versão do crime.
“Quando já eram quase cinco horas da tarde, senhor juiz, eu não aguentava mais de saudades da minha Sheila e resolvi voltar para casa mais cedo que o esperado. Não via a hora de chegar em casa e encontrar minha pequenina. Ela sempre estava me esperando chegar, lá fora no portão, com aquele olhar singelo que me dizia tanto. Quando entrávamos em casa, nós  nos abraçávamos de forma tão quente, tão cheia de vida, me esquecia de todos os problemas. Nosso amor era puro e verdadeiro.
Mesmo tendo-a visto pela manhã, eu já não suportava mais estar longe dela. Então resolvi voltar para casa mais cedo, para encontrar minha linda. Saí do trabalho, fui para casa morrendo de saudades , não via a hora de abraçá-la e nos amarmos intensamente. Ah, aquela mulher linda, doce e meiga, que conseguia me levar para as nuvens!. Não podia mais esperar para encontrar minha Sheilinha. Eu precisava vê-la, abraçá-la e beijá-la. Entrei no carro e fui em direção a minha casa. Cinco minutos depois, lá estava eu chegando ao meu lar. Virei à esquina e notei algo estranho. A casa estava toda fechada.
Parei em frente de casa, peguei minha chave reserva e saí de dentro do carro. Aproximei-me da porta, estava tudo calmo. Sem dúvidas, aquilo estava muito estranho. Por que ela não estava me esperando lá fora, como sempre fazia? Por que a casa estava toda trancada? Eu não estava entendendo nada. Aquilo nunca tinha acontecido antes. Sheila nunca saíra de casa sem me avisar. Mas por que ela não estava ali? A primeira coisa que me veio à cabeça foi que aquilo era um assalto e, se era um assalto, Sheila deveria estar precisando de mim. Peguei uma arma que sempre levo no porta-luvas do carro, e saí dele ligeiramente. Entrei com cautela em casa, para não assustar os possíveis ladrões. Não me deparei com nada de anormal. Fui até a cozinha, fui à área de serviço e não vi nenhum sinal de Sheila. Retornei à sala de estar, olhei para o quarto, a porta estava encostada. Achando que minha amada estava a dormir, entrei cuidadosamente em nossa suíte e vi uma cena que jamais apagarei de minhas lembranças.
Eu não acreditei no que meus olhos estavam testemunhando. Em nossa cama, aquela que eu mais amava se entregava totalmente a outro homem. Louco pelo triste golpe que sofri, saquei a arma e não percebi que atirava loucamente contra os dois. Observando os corpos estendidos no chão do quarto, abraçados e sem vida, vi crescer uma ferida no meu peito. De certa forma eu também já não mais vivia, pois parte de mim estava morta e ensanguentada, jogada no chão feito um animal.

Então, senhor juiz, eu peço a sua atenção para minha explicação. Minha única defesa. Naquela hora, eu estava inconsciente, mas agora a dor me atormenta e me machuca de amor. Como agiriam cada um de vocês que estão presentes nesse tribunal, se vissem aquela cena e estivessem no meu lugar? Por isso eu peço que ouçam a voz do coração. Não há pessoa que sofra uma traição e não cometa loucuras por amor."

Guilherme Lima

             Conto produzido a partir da letra da canção brega O julgamento, de Amado Batista.

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