
Morena,
cabelos longos e castanhos, olhos verdes e corpo bem desenhado. Não era a
mulher mais bonita do mundo, mas com certeza uma mulher bastante desejada entre
os homens do bairro. Todos babavam rios quando ela passava com aquele vestido
de babadinhos cor de rosa, rezando para que aquele famoso vento de Deus
pairasse sobre o lindo monumento e lhes mostrassem a entrada para o céu. Essa
era Paula. Apesar de toda sua fartura, era uma mulher recatada, fidelíssima ao
seu marido Gomes, um cara de pouca estatura, olhos puxados, parecia um japonês,
porém “engraçadinho”, como dizia Paula, quando suas amigas perguntavam o que
ela tinha visto naquela metade de gente. Era um homem trabalhador, mas, acima
de tudo, se achava o dono do mundo, só porque desposava da mulher mais desejada
das redondezas. Aparentemente eram um casal feliz, com tudo nos eixos,
entretanto na vida nem tudo são flores.
Certo
dia, Gomes vinha de seu trabalho, louco para ver sua mulher e dar aquele cheiro
bem gostoso no cangote. Abriu a porta e, de imediato, percebeu que havia
sons eróticos consumindo toda a casa. Naquele momento, Gomes arregalou os olhos, pôs as mãos na
cabeça e pensou: ”Não acredito que a Paulinha está me traindo”. Com o susto e o
ódio que subiram por sua cabeça, engatilhou sua arma e seguiu em direção ao
quarto para enfiar uns três tiros nos peitos do safado que estava com ela na
cama. Ao chegar próximo ao quarto, percebeu que a porta estava entreaberta e,
mesmo com toda a fúria que o consumia,
conseguiu entrar com mais sutileza que um gato.
“O
quê? Mas que pouca vergonha é essa, Paula?”
Naquele
momento, ele acabara de presenciar uma das cenas mais horrendas de sua vida:
sua mulher entregue e, ainda pior, enroscada, como nunca havia se enroscado com
ele antes, mesmo depois de tantos anos de casados. A cena era horrível. Aquilo
o deixou perplexo, a ponto de deixar cair sua arma. À procura de uma explicação para tudo que estava
acontecendo, foi logo dizendo:
“Amor,
pelo santo dos casamentos destruídos, o que levou você a me trair dessa
maneira?”
Pelas
suas palavras de desespero, essa traição tinha algo diferenciado. A decepção
era tanta que ele chegou a querer que fosse uma traição comum a de todos os
cornos, mas não era. Além de virar corno, sucedeu-se que virou da maneira mais
humilhante possível.
“Ai,
meu Deus! Calma, Gomes, eu ia te contar, só não queria que soubesse dessa
maneira”.
Depois
dessa desculpa esfarrapada e da cara de pau que ele percebeu em Paula, criou
coragem, pegou sua arma do chão e, mesmo com o coração partido, sem olhar
direito, descarregou-a naquelas duas vidas que estavam sobre sua cama.
Atordoado, Gomes fugiu desesperadamente pelo mundo a fora. Depois de alguns
dias, ele descobriu que sua amada,
milagrosamente, sobrevivera e estava internada em um hospital perto de onde
eles moravam. Imediatamente escreveu uma carta de despedida e uma última prova
de amor, que dizia:
“Meu
ex-amor, você sabe que vou ficar com sabor de saudade de uma paixão tão bonita,
que era a nossa. Descobri que você estava viva e isso me deixou triste, mas ao
mesmo tempo feliz. Pensei em ir aí e acabar logo o serviço ou tentar uma
reconciliação, mas já que tirei a pessoa que você amava, vou te deixar viver e
encontrar outra mulher que te agrade como a última, embora me sinta extremamente
envergonhado. Me lembro todos os dias do que você me fez passar. Afinal, tem
coisas que a gente não esquece!”.
Thiago Pereira
Lorena Dias
Conto produzido a partir da letra da canção brega Meu ex-amor, de Amado Batista .
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