A tão falada fila para desprovidos
de auxílio financeiro da instituição é o lugar para aquele que não tem um
abadá, ou melhor, uma bolsa de estudos, ficar esperando uma refeição, ou um
“acabou a comida e encerramos por hoje”. Essa frase gera uma dor tão grande,
uma mágoa, uma angústia por ter ficado quase uma hora na fila e não poder
almoçar... E isso aconteceu comigo esses dias, então sei o quanto é ruim. Mas
no meu caso foi ainda pior porque, mesmo ouvindo a frase que todos da fila
temem, eu almocei e ainda sobrou comida para alimentar muitos outros
angustiados da pipoca. Ou seja, a comida não acabava, era somente estória.
Nesse dia, eu esperei mais de uma
hora na fila para almoçar e, quando faltavam apenas cinco pessoas na minha
frente...
- Pode parar, querida! A comida
acabou – disse o nutricionista para a garota que recolhia as assinaturas de
quem entrava no refeitório.
Entrei já angustiado no refeitório,
pois sabia que nesse dia não ia almoçar, quando de repente me deparei com
travessas de arroz e feijão cheias! E, antes que o nutricionista saísse com o
resto dos pratos nas mãos, falei:
- Ei! E nossos pratos?
- Esses vocês não podem usar –
respondeu-me, saindo apressado.
- E quais são os que nós podemos
usar?
- Esses aí – e fez um sinal com seu
nariz arrebitado para a pilha de pratos sujos.
- Basta lavá-los, que podemos comer.
- E quem irá lavar? – perguntou ele.
- Nós! – respondi confiante.
- Vocês não podem lavar – e com um
abanar de cabelo igual a Joelma da banda Calypso, saiu em direção à cozinha.
Eu e mais os cinco que estavam na
minha frente fomos atrás de pratos de colegas que iam terminando de comer.
Quando conseguimos os pratos usados e nos servimos, veio outra surpresa. Onde
estão os talheres? Me perguntando isso, vi o nutricionista entrar na cozinha,
então perguntei a um velho que o seguia com uma pilha de pratos sujos:
- Senhor, e os nossos talheres? O
nutricionista levou!
- E eu com isso? – respondeu em tom
ignorante.
- Você não pode ir pegar não, é?
- Não tenho nada a ver com isso. Te
vira!
E lá nos colocamos novamente a
esperar talheres sujos para poder comer um prato de arroz e feijão.
Por fim, nós conseguimos almoçar e
cada um seguiu para sua atividade. Restou a dúvida: “é assim todos os dias
nesse IF?” Pois se for, está errado, e queremos que mude. Isso não é só um
direito nosso, mas também o dever deles! Pois se não mudar, o jeito vai ser
ficar na pipoca e, dessa vez, já não é a fila, nem a área isolada do Carnatal,
mas sim a pipoca mesmo, aquela salgada que vendem na cantina. É o único jeito.
Arthur Cohen
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