
"(...)
Mas o destino
A cada instante me separa de você
Deste jeito eu sei que vou enlouquecer
É demais pra mim sozinho a solidão (...)"
Caro diário,
Hoje liguei para ela. Foram 23 ligações. Nenhuma
correspondida. O que será que ela está fazendo? O que seria mais importante que
o seu namorado? Acho melhor ela não estar me evitando.
23
de setembro de 2004,
Rodrigo.
Querido diário,
Rodrigo ligou 23 vezes. Não aguento mais. Ele é
louco. Não suporto mais estar perto dele. Não nasci para ficar presa a ninguém,
muito menos no mundo dele!
23 de setembro de 2004,
Letícia.
Já são 00 horas e 03 minutos. Não sei o que
Letícia está fazendo. Estou a ponto de enlouquecer. Por que ela está me
evitando? Eu a amo. Amo mais que a mim! Não sou nada sem ela. Nada vai nos
separar. NUNCA! Não posso perdê-la.
24 de setembro de 2004,
Rodrigo.
Querido diário,
Estou animada. Tenho tantas coisas para esse
final de semana. Aniversário de Amanda, compras, shopping, cabeleireiro. Estou
mesmo precisando relaxar. Esse último ano na faculdade está me matando. Falando
nisso, tenho que terminar alguns trabalhos. Antes que Rodrigo ligue 1000 vezes!
24
de setembro de 2004,
Letícia.
Letícia
não deu notícias. Estou bastante preocupado. Já foram 47 ligações, 29 torpedos,
10 e-mails e nada dela me responder. NADA. Ela só pode estar louca!
24
de setembro de 2004,
Rodrigo.
O aniversário de Amanda, melhor amiga de Letícia, foi bastante agitado. Rodrigo
apareceu sem ser convidado. Deu grande show. Fez Letícia odiar ter achado que
aquele final de semana seria para relaxar. Rodrigo brigou e ameaçou bater no
irmão de Amanda. O que só demonstrou mais a sua obsessão por ela.
Caro diário,
Hoje foi um dia terrível! Letícia já não está
falando comigo e, depois do ocorrido, não vai querer falar nunca mais! O que
será de mim sem ela? O que será da minha vida? Estou sofrendo com a ausência
dela. Não imagino um futuro sem ser ao lado do grande amor da minha vida.
26
de setembro de 2004,
Rodrigo.
Queridíssimo diário,
Desculpe não ter relatado o ocorrido
dos dias atrás. Estava ocupada. Não tive nenhuma oportunidade de contar os causos.
Mas irei relatá-los.
No dia 25, fui ao shopping, cabeleireiro, fiz
compras. Relaxei. Apesar de ter sido perturbada o dia inteiro, acho que não
preciso dizer por quem...
No dia 26, fui ao aniversário de Amanda. Estava
tudo lindo. Até Rodrigo chegar. Ele grudou em mim feito carrapato. Ah! Já são
86 ligações, 47 torpedos, 19 e-mails... meu Deus! Voltando ao aniversário...
ele entrou sem convite. Quase agrediu o irmão da aniversariante só porque ele
me abraçou. O que é uma grande besteira! Tive que me desculpar e me retirar da
festa para não acabar em uma tragédia.
Esses dias só tenho me dedicado à faculdade.
Nada de Rodrigo por perto por um bom tempo.
01 de outubro de 2004,
Letícia.
Letícia não aguentava mais. Estava farta. E
acredite, ela chegaria ao seu limite mais tarde. Afinal, Rodrigo não desistiria
de possuí-la. Muito menos de amá-la.
Ela me abandonou. Não fala comigo há dias. Ela
acha que eu não estou sofrendo? Estou enlouquecendo. Estou morrendo aos poucos.
Por qual motivo ela me quer longe dela? Se ela não for minha, não será de mais
ninguém!
01 de outubro de 2004,
Rodrigo.
Para a surpresa de Letícia, algo inesperado
aconteceu. Rodrigo foi buscá-la na faculdade. Parecia estar ligeiramente
alcoolizado. Letícia sabia que ele não era acostumado a beber. Poucas doses o
faziam mudar mais ainda de personalidade.
Ele deu um leve sorriso, que foi o bastante para
fazer Letícia estremecer. Ela não falava com ele há pelo menos 10 dias, o que a
fez ficar mais preocupada ainda. O que queria ele? Não havia entendido o
recado? Ela não o queria por perto. Houve uma breve troca de olhares. Ela
hesitou entrar no carro, mas preferiu não contrariá-lo. Depois de alguns
quilômetros percorridos, Letícia quebrou o silêncio:
— Você está
bem? — disse ela tentando parecer despreocupada.
— Você acha que eu estou bem? Acha,
Letícia? — disse ele alterado.
Ela o olhou fixamente, enquanto o carro
parecia voar da pista.
— Você é louco! Louco! — ela gritou.
O som do grito de Letícia ecoava na cabeça de
Rodrigo, o que o fez ficar ainda mais perturbado.
— Rodrigo, pare este carro! — disse ela
tentando parecer mais calma.
— Letícia, você não me ama — disse ele quase
chorando — a sua ausência está me matando aos poucos. O seu cheiro, o seu
beijo, o seu corpo... eu preciso de você mais do que preciso do ar para
respirar. Sem você eu perco a razão de viver. Minha vida fica sem sentido.
Rodrigo parou o carro e só então Letícia percebeu
que já chegara em casa. Ela não tinha coragem de terminar, mas também sabia que
a obsessão dele só tendia a piorar, então falou:
— Rodrigo, estamos juntos há 2 anos e
eu não sei como pude acreditar por tanto tempo que você iria mudar! Você está
doente. Seu amor por mim não é normal! Você é obsessivo. Você me sufoca. Você
não me deixa viver. Acho melhor a gente dar um tempo.
Ele já esperava por tal coisa. Pegou o
carro e saiu em alta velocidade. Ninguém sabia o que ele faria agora. Qual
seria o sentido da vida para ele sem ela?
Caro diário,
Hoje não foi um dia fácil. Queria me dedicar a outras
coisas, mas não vai ser possível. Estou um pouco abalada. Estou com medo do que
ele possa fazer. Ele quem quis assim. Ele que fez o nosso amor virar um jogo de
posse... ele que acabou com tudo!
São 23 horas e 53 minutos. Eu não consigo dormir e
provavelmente não vou conseguir.
03 de outubro
de 2004,
Letícia.
Letícia realmente não dormiu. Ficou
remoendo a última mensagem que Rodrigo lhe enviou, a qual ela ainda não tinha
lido.
Querido diário,
Me sinto culpada e livre ao mesmo tempo. Não
dormi na noite passada pensando na última mensagem que Rodrigo me enviou: “Não
se engane. Amor como o meu você NUNCA mais encontrará. Eu nunca vou deixar de
te amar. Você é minha. MINHA!”.
Ele ainda não deu notícias após ontem.
Estou preocupada.
04 de outubro de 2004,
Letícia.
Caro diário,
Estou com tantas coisas da faculdade que não tenho tempo
de relatar os acontecidos. Faz 4 dias que não tenho notícias de Rodrigo. O
telefone dele só chama. O que me faz ficar mais preocupada ainda. Ele nunca
rejeitou uma ligação minha. Penso que está na casa de campo dos pais dele. Irei
lá no domingo.
07 de outubro
de 2004,
Letícia.
A moça mal sabia o que a esperava. Essa viagem mudaria
tudo. Letícia veria o que ela mais temia que acontecesse.
Querido diário,
Estou de saída
para a casa de campo. Estou menos preocupada. Os pais dele disseram que ele
realmente foi para lá. Espero que ele esteja bem.
09 de outubro de 2004,
Letícia.
A casa de campo era isolada. Poucas pessoas
conheciam a rota. Letícia fora lá duas vezes e gostara muito. Era linda. Porém,
o cenário que ela encontraria agora seria muito diferente.
Letícia, após algumas horas, chegou ao seu destino.
Estacionou o carro. Deu uma volta ao redor da casa. Achou até que Rodrigo não
estaria mais ali de tão silenciosa que estava a casa. Ao entrar na sala, ficou
chocada com a cena que viu. Rodrigo havia se matado, com um tiro na cabeça. O
corpo deveria estar ali há pelo menos dois dias e... Letícia não havia chegado
a tempo.
Ela, em profundo desespero, não teve reação a não ser
chorar desconsoladamente sobre o corpo fétido. Próximo ao corpo estava o diário
de Rodrigo. Letícia o abriu. Estava marcado. Na página, tinha as seguintes
palavras:
“Caro diário,
Você foi testemunha de tudo que fiz por Letícia. Se tudo
for como planejei, já estou morto e ela provavelmente estará lendo isso. Então,
não escreverei para você e sim para minha amada.
Meu amor, tudo que fiz foi para você.
Me perdoe por tudo que eu fiz que você não se agradou. Desculpe-me por tê-la
sufocado. Tirado o seu direito de viver. Não era a minha intenção. Eu a amo
tanto e te amarei para sempre. Acredite, meu amor, isso tudo foi por você! Não
se sinta culpada. Eu só não conseguiria viver sem você. Você é o sentido da
minha existência e, sem você... eu morreria de qualquer forma. Eu vivo e morro
por você, minha amada.
07 de outubro
de 2004,
Rodrigo.”
Ele a amava. A sua obsessão era o medo de perdê-la. Ele não
amaria mais ninguém. Ele não viveria por mais ninguém. Ele não morreria por
mais ninguém.
Érika Lorena
Conto produzido a partir da letra da canção brega O grande amor da minha vida, de Bartô Galeno
Conto produzido a partir da letra da canção brega O grande amor da minha vida, de Bartô Galeno
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