quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Leviana


Eu amei aquela mulher. Amei de todo o coração. E ainda amo, mas agora é tarde. Não posso voltar atrás.Ela apareceu para mim quando eu mais precisei.
        Eu havia sido demitido do trabalho, não recebia nenhuma resposta positiva das entrevistas de emprego e estava prestes a ser despejado. Minha vida estava um caos. Eu não sabia o que fazer. Foi então que ela apareceu um dia, no bar ao qual eu sempre ia. Estava linda. Usava aquele vestido vermelho que lhe acentuava as curvas, os cabelos castanhos soltos caindo pelas costas. Linda. Foi impossível não olhá-la.
Ela veio e sentou-se numa mesa um pouco afastada. Esperei por um tempo, achando que ela estava à espera de alguém, provavelmente o namorado, mas ninguém apareceu. Levantei-me e segui em sua direção, levando também um drink.
            Ela me encarava enquanto eu me sentava. Fiquei um tempo apenas admirando o quanto ela era linda
            - Perdeu alguma coisa? – disse ela, com um sorriso brincando nos lábios.
            - Estava me perguntando a mesma coisa. Por que uma garota tão linda estaria num lugar assim? E sozinha?
            - Eu que pergunto. O que um cara tão... interessante faz por aqui? E ainda mais sozinho? – seu sorriso era encantador.
                Meu sorriso em resposta foi ainda maior.
            Aquela noite foi inesquecível. Nós tomamos mais alguns drinks e ela me contou por que estava no bar. Disse que esperava seu – agora – ex-namorado. Ela o havia traído com o melhor amigo dele e ainda tinham sido pegos no flagra. Ela pediu uma chance para se explicar e pediu que se encontrassem naquele bar. Ainda disse que se ele não viesse ela entenderia. Parece que ela já tinha sua resposta. Parecia estar muito arrependida, mas não dava pra voltar atrás.
            Já tinha até esquecido dos meus problemas até ela perguntar o porquê de eu estar ali. Contei toda a minha situação e ela escutou paciente. Depois ela disse que tudo ficaria bem, e eu realmente acreditei.
            Em algum momento ela olhou o relógio e disse que precisava ir embora, acordaria cedo para o trabalho. Nos despedimos e ela me deu o número do celular.
            Eu havia ficado encantado. Dormira extremamente bem pensando nela. No outro dia, fui a mais uma entrevista de emprego. Desta vez, mais motivado.
            Nós saímos e, com o passar do tempo, a cada encontro, parecia que nós estávamos mais ligados um ao outro. Até que eu a pedi em namoro e ela aceitou. Foi um dos melhores dias para mim. Levei-a para conhecer alguns amigos, inclusive o Paulo, um quase irmão pra mim. No mesmo dia, disse que havia recebido uma ligação e tinha sido contratado em uma boa empresa. Não podia estar mais feliz.
            Tudo melhorou com o tempo. Eu tinha um emprego melhor que o anterior, havia comprado uma casa nova, e agora tinha uma mulher que realmente me amava. Pelo menos era isso que eu pensava.
Certo dia, meu chefe resolveu me liberar mais cedo. Decidi então fazer uma surpresa para minha amada. Ainda faltavam duas horas para ela chegar do trabalho.
Fui tão burro...
Passei em uma floricultura e comprei algumas rosas brancas. Ela amava. Pensei em abrir uma garrafa de vinho que guardava há meses para alguma ocasião especial. Estava realmente feliz. Até chegar em casa e abrir a porta. Assim que o fiz, congelei. Nunca nada havia sido tão rápido quanto meu coração sendo quebrado pela cena que se seguia.
A mulher que eu amei como ninguém jamais vai amar; a quem eu entreguei meu coração sem hesitar, estava agora me traindo com a pessoa que se dizia meu melhor amigo.
Por um momento eles não perceberam que eu estava à porta. Então Paulo virou o rosto e olhou diretamente nos meus olhos. Sorriu.
Meu sangue ferveu.
A única coisa em que eu pensava era que precisava cortar o coração daquele infeliz como ele havia cortado o meu. Fui andando até a cozinha enquanto ela tentava se explicar. Peguei uma faca. Minha amada ficou desesperada. Jogou-se na minha frente quando eu fui em direção a seu amante, mas, cego pela dor, eu a empurrei e me joguei contra ele, que tentava fugir. Nós caímos, e eu, com um movimento rápido, consegui cravar a faca em seu peito.
Houve um grito estridente. Tudo parou. A cena toda estava em minha mente. Eu havia matado um homem, mas não me arrependia. Não sentia nada que não fosse a dor de ser enganado por uma leviana.


Laura Viana

Conto produzido a partir da letra da canção brega Leviana, de Reginaldo Rossi.

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