sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Ingratidão


            O que aconteceu comigo foi uma daquelas surpresas que só a vida pode lhe dar. Meu nome é Diogo Araújo, tenho 35 anos, nasci e fui criado em Sergipe e lá foi onde aprendi a trabalhar no que faço agora. Era quase uma herança de família. Meu avô ensinou ao meu pai e meu pai me ensinou. Ser carreteiro estava no sangue dos Araújos.
            Sendo um carreteiro, já ouvi muitas histórias sobre tudo que vocês possam imaginar: sobre todos os fantasmas que existem nessas estradas do meu Brasil; de como um velho de mais de 70 anos deu uma surra em 2 pivetes que tentaram roubá-lo, de traições de todos os tipos, de mulheres que traíram seus maridos por outras mulheres, de homens que trocaram suas esposas por outros homens, e muitas outras coisas como essa.
            Eu havia acabado de chegar de uma das minhas viagens e, como de costume, fui almoçar em um restaurante que eu sempre frequentava. Cheguei, sentei próximo ao balcão e pedi meu almoço. Agora o que havia me chamado a atenção foi o fato de uma moça estar sozinha numa mesa no canto do restaurante. Ao olhar bem para o seu rosto, vi uma lágrima cair.
            Não suporto ver mulher chorando. Fui lá conversar com ela e, para a minha surpresa,  me apaixonei pelo seu rosto. Seu cabelo era preto e comprido, seus olhos tinham a cor verde, sua pele era branca como se nunca tivesse tomado sol, e eu via lágrimas escorrerem naquele lindo rosto.
            Fiquei paralisado naquele momento. Foi quando uma doce voz me chamou
            -Moço! Moço! Há algo de errado?
            -Ann... Err... não, está tudo bem.
            -Que bom então!
            -Eu não pude deixar de notar que você estava chorando. Sei que não é da minha conta, mas por que não fala para mim o que aconteceu? Às vezes é bom falar com alguém.
            Ela me deu um pequeno sorriso e  disse:
            -Eu fui despedida de meu emprego há alguns meses, não tive condições de continuar pagando aluguel e fui mandada embora. Agora estou sozinha sem emprego e sem lugar para morar.
            -Sei que é inesperado e tudo o mais, mas eu conheço um lugar onde você pode ficar.
            -Sério!? Onde?
            -Eu tenho um amigo que mora por aqui e ele é dono de um hotel. Tenho certeza que ele deixará você ficar por lá, além do que será um pedido meu, ele nunca negaria.
            -Moço, não sei como te agradecer.
            -A moça poderia me dizer seu nome?
            Ela riu.
            -Sim. Meu nome é Fernanda.
            -É um lindo nome.
            Levei-a até o hotel do Augusto e expliquei a situação para ele. Augusto era meu melhor amigo, brincávamos juntos quando crianças, conheci ele em uma das viagens que meu pai fazia e me levava junto, sempre fazíamos favores um para o outro.
            Ele entendeu tudo e arrumou um quarto para a minha nova amada. Deixei-a no hotel. Fui para minha casa e aquela mulher não me saía da cabeça. Eu havia pedido o número dela e, como eu não parava de pensar nela, resolvi ligar. Passamos horas conversando e assim continuou por muitos dias. Saíamos juntos sempre, até que um dia eu a pedi em namoro. Feliz, ela aceitou. Tudo estava muito bem entre nós. Juntamos nossas coisas e fomos morar juntos, pensávamos em casamento e até em formar família.
            Mas de uma hora para outra, ela começou a ficar estranha comigo, não me olhava nos olhos. Eu achei que tinha feito algo de errado para ela. Tinha que fazer uma viagem e fui com aquele aperto no peito.
            Quando cheguei em casa, ouvi gritos vindo de dentro do nosso quarto. Não pensei duas vezes. Peguei meu revólver, pensando em encontrar um ladrão ou algo do tipo, atacando a minha mulher.
            Porém, ao abrir a porta, o que eu encontrei não foi um ladrão, antes fosse. O que vi foi Augusto, meu melhor amigo, e a minha mulher na cama. Os gritos que eu ouvia não eram gritos de alguém sendo atacado, mas sim gritos de prazer.
            Naquela hora, o meu sangue ferveu mais que o motor da minha carreta. O meu dedo se mexeu sozinho. Não hesitei em matar os dois. Nunca fui preso por esse crime, pois a polícia não achou provas e, como todos achavam que eu estava viajando, consegui me safar.
            Hoje vivo de bar em bar, contando a todos sobre a ingratidão daquela mulher, que um dia  amei.

Robério Nunes
Conto produzido a partir da letra da canção brega Ingratidão, de Reginaldo Rossi.

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