
Sendo
um carreteiro, já ouvi muitas histórias sobre tudo que vocês possam imaginar:
sobre todos os fantasmas que existem nessas estradas do meu Brasil; de como um
velho de mais de 70 anos deu uma surra em 2 pivetes que tentaram roubá-lo, de
traições de todos os tipos, de mulheres que traíram seus maridos por outras
mulheres, de homens que trocaram suas esposas por outros homens, e muitas
outras coisas como essa.
Eu
havia acabado de chegar de uma das minhas viagens e, como de costume, fui
almoçar em um restaurante que eu sempre frequentava. Cheguei, sentei próximo ao
balcão e pedi meu almoço. Agora o que havia me chamado a atenção foi o fato de
uma moça estar sozinha numa mesa no canto do restaurante. Ao olhar bem para o
seu rosto, vi uma lágrima cair.
Não
suporto ver mulher chorando. Fui lá conversar com ela e, para a minha surpresa,
me apaixonei pelo seu rosto. Seu cabelo
era preto e comprido, seus olhos tinham a cor verde, sua pele era branca como
se nunca tivesse tomado sol, e eu via lágrimas escorrerem naquele lindo rosto.
Fiquei
paralisado naquele momento. Foi quando uma doce voz me chamou
-Moço!
Moço! Há algo de errado?
-Ann...
Err... não, está tudo bem.
-Que
bom então!
-Eu
não pude deixar de notar que você estava chorando. Sei que não é da minha
conta, mas por que não fala para mim o que aconteceu? Às vezes é bom falar com
alguém.
Ela
me deu um pequeno sorriso e disse:
-Eu
fui despedida de meu emprego há alguns meses, não tive condições de continuar
pagando aluguel e fui mandada embora. Agora estou sozinha sem emprego e sem
lugar para morar.
-Sei
que é inesperado e tudo o mais, mas eu conheço um lugar onde você pode ficar.
-Sério!?
Onde?
-Eu
tenho um amigo que mora por aqui e ele é dono de um hotel. Tenho certeza que
ele deixará você ficar por lá, além do que será um pedido meu, ele nunca
negaria.
-Moço,
não sei como te agradecer.
-A
moça poderia me dizer seu nome?
Ela
riu.
-Sim.
Meu nome é Fernanda.
-É
um lindo nome.
Levei-a
até o hotel do Augusto e expliquei a situação para ele. Augusto era meu melhor
amigo, brincávamos juntos quando crianças, conheci ele em uma das viagens que
meu pai fazia e me levava junto, sempre fazíamos favores um para o outro.
Ele
entendeu tudo e arrumou um quarto para a minha nova amada. Deixei-a no hotel.
Fui para minha casa e aquela mulher não me saía da cabeça. Eu havia pedido o
número dela e, como eu não parava de pensar nela, resolvi ligar. Passamos horas
conversando e assim continuou por muitos dias. Saíamos juntos sempre, até que
um dia eu a pedi em namoro. Feliz, ela aceitou. Tudo estava muito bem entre
nós. Juntamos nossas coisas e fomos morar juntos, pensávamos em casamento e até
em formar família.
Mas
de uma hora para outra, ela começou a ficar estranha comigo, não me olhava nos
olhos. Eu achei que tinha feito algo de errado para ela. Tinha que fazer uma
viagem e fui com aquele aperto no peito.
Quando
cheguei em casa, ouvi gritos vindo de dentro do nosso quarto. Não pensei duas
vezes. Peguei meu revólver, pensando em encontrar um ladrão ou algo do tipo,
atacando a minha mulher.
Porém,
ao abrir a porta, o que eu encontrei não foi um ladrão, antes fosse. O que vi
foi Augusto, meu melhor amigo, e a minha mulher na cama. Os gritos que eu ouvia
não eram gritos de alguém sendo atacado, mas sim gritos de prazer.
Naquela
hora, o meu sangue ferveu mais que o motor da minha carreta. O meu dedo se
mexeu sozinho. Não hesitei em matar os dois. Nunca fui preso por esse crime,
pois a polícia não achou provas e, como todos achavam que eu estava viajando,
consegui me safar.
Hoje
vivo de bar em bar, contando a todos sobre a ingratidão daquela mulher, que um
dia amei.
Robério Nunes
Conto produzido a partir da letra da canção brega Ingratidão, de Reginaldo Rossi.
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