- Eu não sou brinquedo, porra!
Meu nome é Eduardo. Sou um universitário. Curso Física e tenho vinte e
dois anos. Estou sendo levado pela polícia. Fui incriminado por ter assassinado
minha noiva Jéssica. Não afirmo, ainda, que a matei, mas não mentirei. Contarei
tudo.
Tudo começou quando eu estava em
casa, de cama, doente. Desde a semana anterior, minha noiva, Jéssica, cuidava
de mim. E, como sempre, muito carinhosa e atenciosa comigo. Jéssica era um
anjo. Linda e bondosa. Por volta das seis horas da noite, minha amada
despediu-se de mim e se foi. Eu estava feliz, mesmo estando doente. Eu me
sentia amado. Deitei-me cedo. Embora ainda me sentisse tonto e febril, os
sintomas sempre enfraqueciam após o tratamento da minha noiva.
No meio da noite, acordei com o
celular tocando. Era Vitor, um amigo meu, que ligava. Ele me disse que todos
estavam na festa da universidade, menos eu. Disse-me também que Jéssica estava
lá. E, para a minha surpresa, ela estava beijando outro.
- Mas que merda você está falando,
Vitor? – Foi tudo que consegui falar.
Minha tão amada noiva estaria me
traindo? Aquela que, há algumas horas, cuidara tão atenciosamente de mim?
Mesmo doente, peguei o meu carro e
fui até lá. Dirigi-me aos dormitórios para internos. Chegando lá, entrei pela
porta destrancada do quarto indicado por todos. Eu saí logo. Vi Jéssica e outro
homem deitados juntos. Voltei para casa, ainda questionando a veracidade
daqueles fatos, e fui me deitar.
No outro dia, já me sentindo melhor,
levantei e fui tomar o café. Jéssica, que tinha cópias das minhas chaves,
estava preparando meu café na cozinha quando a vi. Perguntei como fora a noite.
Ela beijou-me e disse que só não fora melhor, porque eu não estava ao seu lado.
Perguntei o que houvera para tornar a noite tão memorável. Ela me disse que
passara a noite pensando em mim.
Nessa hora, não sei o que deu em
mim. O meu sangue ferveu. Entrei em fúria. Dei um tapa em seu rosto. Gritei com
ela. Chamei-a de tudo que eu pude. Contei tudo o que vira na noite passada.
Por fim, minha amada sorriu.
Disse-me que nunca fizera aquilo e que me amava. Peguei a faca na mesa ao nosso
lado. Perguntei se ela falara a verdade. Ela respondeu positivamente com a
cabeça.
Eu a esfaqueei. Depois, larguei a
faca e chorei. Joguei-me sobre o cadáver ensanguentado daquele anjo de asas
manchadas.
Agora, me encontro depondo ao
delegado, com meu amigo Vitor, que é advogado, sobre o crime que cometi.
Para a imprensa, disse apenas o
seguinte:
- Eu não sou brinquedo para ninguém
brincar comigo.
Alberto Palhares
Conto produzido a partir da letra da canção brega Eu não sou brinquedo, de Genival Santos.
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