quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Eu não sou brinquedo

           - Eu não sou brinquedo, porra!
Meu nome é Eduardo. Sou um universitário. Curso Física e tenho vinte e dois anos. Estou sendo levado pela polícia. Fui incriminado por ter assassinado minha noiva Jéssica. Não afirmo, ainda, que a matei, mas não mentirei. Contarei tudo.
        Tudo começou quando eu estava em casa, de cama, doente. Desde a semana anterior, minha noiva, Jéssica, cuidava de mim. E, como sempre, muito carinhosa e atenciosa comigo. Jéssica era um anjo. Linda e bondosa. Por volta das seis horas da noite, minha amada despediu-se de mim e se foi. Eu estava feliz, mesmo estando doente. Eu me sentia amado. Deitei-me cedo. Embora ainda me sentisse tonto e febril, os sintomas sempre enfraqueciam após o tratamento da minha noiva.
            No meio da noite, acordei com o celular tocando. Era Vitor, um amigo meu, que ligava. Ele me disse que todos estavam na festa da universidade, menos eu. Disse-me também que Jéssica estava lá. E, para a minha surpresa, ela estava beijando outro.
            - Mas que merda você está falando, Vitor? – Foi tudo que consegui falar.
            Minha tão amada noiva estaria me traindo? Aquela que, há algumas horas, cuidara tão atenciosamente de mim?
           Mesmo doente, peguei o meu carro e fui até lá. Dirigi-me aos dormitórios para internos. Chegando lá, entrei pela porta destrancada do quarto indicado por todos. Eu saí logo. Vi Jéssica e outro homem deitados juntos. Voltei para casa, ainda questionando a veracidade daqueles fatos, e fui me deitar.
         No outro dia, já me sentindo melhor, levantei e fui tomar o café. Jéssica, que tinha cópias das minhas chaves, estava preparando meu café na cozinha quando a vi. Perguntei como fora a noite. Ela beijou-me e disse que só não fora melhor, porque eu não estava ao seu lado. Perguntei o que houvera para tornar a noite tão memorável. Ela me disse que passara a noite pensando em mim.
       Nessa hora, não sei o que deu em mim. O meu sangue ferveu. Entrei em fúria. Dei um tapa em seu rosto. Gritei com ela. Chamei-a de tudo que eu pude. Contei tudo o que vira na noite passada.
         Por fim, minha amada sorriu. Disse-me que nunca fizera aquilo e que me amava. Peguei a faca na mesa ao nosso lado. Perguntei se ela falara a verdade. Ela respondeu positivamente com a cabeça.
     Eu a esfaqueei. Depois, larguei a faca e chorei. Joguei-me sobre o cadáver ensanguentado daquele anjo de asas manchadas.
         Agora, me encontro depondo ao delegado, com meu amigo Vitor, que é advogado, sobre o crime que cometi.
            Para a imprensa, disse apenas o seguinte:
            - Eu não sou brinquedo para ninguém brincar comigo.


Alberto Palhares


Conto produzido a partir da letra da canção brega Eu não sou brinquedo, de Genival Santos.



 

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