Destinos? O primeiro deles foi
Mossoró, terra abrasante, solina, de temperatura canícula, quase insuportável,
que até mesmo na sombra dava para sentir aquele bafo soalheiro, quase um
mormaço, já que nem vento tinha (isso tudo pra dizer que é um calor dos
infernos!). Segundo o professor de Geografia, não há vento porque Mossoró está
localizada em um verdadeiro buraco - literalmente, a cidade fica em uma
depressão. Geográfica, não pelo calor.
O
intuito da viagem era levar os alunos a um congresso da revista EPOCA (não
confunda com a revista Época! Entre essas duas não há nenhuma relação) - Escola
Potiguar de Ciência e suas Aplicações. Ao contrário do que dizem, não fui fazer
programa lá em Mossoró. Na verdade, fiz um programinha para ir. E eu não fiz
só, mas sim com dois colegas que também participaram do serviço - David e Júlio
-, ou seja, três empenhados em um programa só, dando tudo de si, ao máximo,
para no final, serem contemplados por um programa digno de excelência.
Porém,
esse programa na verdade foi um simulacro, quase um disfarce que se sustentava
à base de exterioridade e ideais que nem em prática foram colocados. Foi uma
encenação durante a apresentação. Três boys
fizeram um programa que ensina Matemática para cegos (ou pelo menos deveria),
mas que na verdade não fizeram muita coisa. De professor digital para
deficientes visuais só tinha o vídeo de apresentação mesmo. Na verdade, era
como um filme do século XXI, cheio de efeitos especiais e montagens para
parecer um programa de verdade. Ali deu para perceber que para crescer basta a
oportunidade. Não precisa nem ser lá essa coisa toda. Um exemplo disso é
Chibério, que, como ele mesmo diz, não era merda nenhuma e hoje tá aí, o “dotô”
do Campus!
E
na pausa para o break-fast? Todos os
alunos famintos foram atacar as mesas de salgados e bebidas. Nessas merendas
sempre tem aqueles que aparentam não ter comido nada nos últimos três dias.
Pegam o copo que deveria ser de refrigerante e enchem de salgado, secam uma
jarra de suco sozinhos, fingem que vão pegar um bolinho e na mão vêm quatro,
etc. Isso foi o que mais se viu durante tais pausas.
Também
há geralmente os deslocados. Taygor e Victor são a prova mais viva de que a
vagabundagem está em qualquer lugar. Pareciam estar lá só pra curtir e não para
aprender - que é o verdadeiro objetivo da viagem. Nessa de Mossoró, não foi
diferente, eles deram uma de jogador de bilhar e passaram o dia no playground do hotel, jogando sinuca como
se não tivesse acontecendo palestras nas salas de aula. O desinteresse é
extremo! Acho que pensaram que estavam em um boteco perto do terminal
rodoviário de São Gonçalo, só pode. Outros ficaram deitados na beira da piscina
de calça jeans e farda, como a
Lorena. Ela deve ter pego um belo bronze! Como se já não bastasse a marca que a
farda nos deixa. Se você pedir para qualquer aluno do IF tirar a camisa, vai
ver que todos têm uma marca característica nos braços. É como se todos fizessem
o que a Lorena fez. Há, ainda, os que aproveitam para fazer um book de fotos (ou pelo menos é o que
parecia). O fotógrafo, Raddson, com sua máquina mais profissional que Milson Santos,
professor de Português, dando aula, mandava os fotografados fazerem cada pose
mais forçada que a outra, em lugares onde não tinha nada a ver tirar uma foto.
Fora
essas coisas de alunos, o resto da viagem foi bastante comportada, graças ao
professor que vive fazendo programa por todos os lados. Esse Gilbran... Onde
estiver, ele faz programa, em casa e até no colégio! E quando ele não tem seu
material para fazer programa, deve ficar pensando em como vai ser prazeroso o
próximo programa que vai fazer.
Seguindo
o clima de viagem, houve outra que muito nos marcou, com diferença de duas
semanas entre a primeira. Dessa vez, coordenada pelo que se diz o Gatto do Campus, o professor Wilson Gatto, com
presença de outros dois docentes que foram no intuito de melhorar o aprendizado
dos alunos no percurso – Glícia (Artes Visuais) e Cosme Neto (professor de
História).
Bom,
pra descrever a viagem foi dado um roteiro que era mais ou menos o seguinte:
Itinerário
descritivo pré-conceitual: (1) Tangará, ponto de parada para nosso café da
manhã; (2) Currais Novos, ponto turístico onde visitaríamos a mina Brejuí; (3)
Acari, lugar do açude de Gargalheiras, potente barragem que guarda as águas de
uma represa; (4) Portalegre, linda cidade serrana onde passaríamos a noite para
descansar; (5) Apodi, lugar do Lajedo de Soledade, um sítio arqueológico com
grande importância nacional; e (6) Ipanguaçu, grande polo fruticultor do RN,
onde visitaríamos uma cultura de mangas.
Mas
após a viagem criei meu próprio roteiro:
Itinerário
descritivo pós-conceitual: (1) Tangará: só presta pra comer pastel, e do ruim;
(2) Currais Novos: quase uma Mossoró, só que com túneis subterrâneos pra tirar
ferro e vender; (3) Acari: só tem um rio de água verde e podre, parece um balde
de tinta acrilex gigante. Acho que se colocar a mão ali é capaz de adquirir uma
contaminação por bactérias! (4) Portalegre: lugar onde ninguém dormiu. Não
vimos nada de cidade linda, só uma piscina no hotel e uma sinuca para aqueles
jogadores de bilhar; (5) Apodi: só pedras rachadas, cocô de bode pra todo lado
e algumas pinturas nas paredes. O bom de lá são as minicavernas que mais
parecem ser climatizadas; (6) Ipanguaçu, lugar onde o motorista fez a merda de
colocar o ônibus quase dentro de um córrego, aí tivemos que andar mais de 1 km
por dentro de pés-de-manga com um gordinho falando de manga Tommy, Kent e Kate, aquelas
mangas que ninguém vê porque são as melhores e só vão para exportação.
Sem
esquecer de citar os ótimos motoristas enviados à missão de nos conduzir pelo
território norte-rio-grandense. O que conduziu a turma de Edificações, que
infelizmente teve que ir, se perdeu duas vezes, atrasando a viagem em mais de 4
horas (Como alguém se perde com GPS e outro companheiro na pista!?). Mas o
nosso motorista também falhou na missão. Quando chegou na fazenda de manga, ele
quase jogou o ônibus córrego a dentro. O pneu de trás ficou na ribanceira e o
dianteiro ficou suspenso! Mário Jorge, aquele cara de peso da sala, estava bem
no assento em que o pneu caíra, aí gritaram “Mário! Corre pra esse lado! Sua
presença aqui é fundamental para fazer baixar o pneu suspenso!”. O riso foi
incontrolável!
Mas
é isso aí... Éramos loucos por uma aula de campo. Apesar de alguns percalços, em
geral elas são ótimas, como foram as nossas. Deu para rir, entreter, aprender
(ou não), dormir (ou não), comer bem, conhecer novos ares, paisagens e pessoas.
Foram produtivas, não há como negar!
Arthur Cohen
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