quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Um pote de jujubas

 Uma mesa quadrada refletia partes das silhuetas dos garotos em um tom esverdeado pelo ar, um agradável aroma de calabresa. Ao longe, conversas rotineiras reverberavam pelo campus. Quatro garotos rodeavam um caderno em branco. Ideias? Nenhuma.
Subitamente, um pote foi colocado sobre a mesa, ceifando a conversa. Era um pote engraçado, transparente. Tinha um lacinho vermelho ao redor de sua tampa. Em seu interior, podia-se ver muitas jujubas coloridas e açucaradas. Cada jujuba parecia querer saltar para fora do vidro que as aprisionava. Tive pena daquelas pobres jujubas. Amáveis calouras de Logística nos abordavam:
- Ei, meninos, vocês não gostariam de nos ajudar?
O jogo era o seguinte: apostaríamos na quantidade de jujubas dentro do pote:
-Quem acertar, ganhará o pote de jujubas e o lacinho vermelho.
Olho para o pote, agora, e me sinto sufocado. Sinto-me angustiado. Nem os cristais de açúcar confortam-me.
Lembro-me de um Ônibus que peguei um dia. Totalmente lotado. Nele, jujubas de todas as cores apertavam-se e até disputavam o menor espaço pareceu-me que o pote ia quebrar. Senti a mesma angustia e sensação de sufocamento que sinto agora.
É assim que uma sardinha se sente quando enlatada? Penso no caos que e a hora do rush na capital indiana, Nova Deli. Jujubas lotam as ruas de um lado para o outro. Todas de baixo do forte sol que castiga a superpopulosa cidade. Parece-me que o pote vai quebrar.
E quando, em um dia de verão, o elevador lotado demora a chegar no andar esperado, jujubas suadas apertam-se totalmente importantes dentro do pote. Realmente parece-me que o pote vai quebrar.
Em um grande espetáculo, jujubas coloridas, felizes e saltitantes se esbarram em puro êxtase espalhando cristais de açúcar pelo chão.
Por que esse pote ainda não quebrou?
Caso quebrasse, o que aconteceria? Eu estaria livre desse aprisionamento. Eu poderia, finalmente, saborear os doces cristais de açúcar. Teria fim toda a minha angustia. Teriam fim todos os males que me afligem. Oh, doce liberdade!
Penso, agora, no lacinho vermelho. Ele dança justo à brisa quente. Parece não notar nada que ocorre ao seu redor. O lacinho goza de uma liberdade que as jujubas não têm, liberdade essa que eu queria ter. E é apenas um sonho. Tão simplório...

Alberto Bezerra
Elton Rafael
Francisco Robério
Lucas Gabriel

Ninguém é filho de chocadeira

Todos nós teremos como primeira namorada o ventre materno.
Minha mãe sempre me cobrou que fosse um bom filho. Nunca fui dos melhores, confesso, mas ela nunca desistiu.
Ela nunca me levou para Disney, Rio de Janeiro ou exterior. Dinheiro me deu pouco, mas me deu muito amor.
Lembro como se fosse hoje o dia tão temido de sua cirurgia de rins. Como toda manhã, tive que ir para a escola, mas aquele dia era diferente, queria estar ao seu lado.
- Você tem que ir para se tornar um rapaz bem inteligente – afirmou ela, enquanto penteava meu cabelo.
Naquele momento, o seu olhar me disse que eu podia ser o que eu quisesse. Não demorou muito para que a primeira lágrima solasse em seu rosto. Foi então que ela me abraçou por um bom tempo interminável. Cada segundo parecia horas.
Hoje em dia, ela brinda os 40, pois a vida está apenas começando.
Mãe é o nosso porto seguro, mas às vezes a vida nos obriga a amadurecer cedo. Foi assim quando passamos a não mais dividir o mesmo teto. Não ter mais roupa lavada, casa arrumada, comida na boca é chato. Chatíssimo! Mas sabe o que é pior? Pior é não ter colo de mãe, aquelas velhas reclamações pelo horário de chegada da rua, do tão aconchegante carinho materno.
Você só descobre realmente quem é uma pessoa quando seu relacionamento é cirurgiado. Porque ninguém mente na dor. O sofrimento traz consigo honestidade que não se caracteriza por nenhum outro sentimento.
Se seu relacionamento ainda não foi cirurgiado, espere, pois “somos o que ficamos depois de sofrer”,  já diz Carpinejar.
Mãe, deixe eu dormir mais dez minutos. 

Bruno Almeida 

Ciúmes

Início de namoro é tudo muito bom. Beijos quentes e abraços apertados. É tudo tão doce quanto mel.
Isso só nos primeiros meses. Depois o casal começa a querer um tempo só, a querer espaço e, daí, surgem as brigas, os ciúmes. Ah, os ciúmes...  a parte mais complicada de um relacionamento. A cabeça pensa até o que não quer, tudo é motivo para uma nova discussão.
Deveríamos classificar o ciúme como uma doença. O negócio é sério, principalmente nas mulheres. Elas imaginam até o inimaginável. Criam histórias, tiram suas próprias conclusões e depois não nos deixam explicar o que realmente aconteceu. E, quando deixam, fingem que acreditam na gente, mas ainda continuam com suas paranoias na cabeça.
Já o homem, quando sente ciúmes, não demonstra. Faz birra, fica de cara feia. Como uma criança que não quer dividir o brinquedo. Gosta de ser bajulado, de receber carinho até se sentir bem de novo.
Uma vez presenciei uma cena de ciúmes na rua. A mulher reclamava histericamente com o rapaz. Acusava-o de traição, pois o teria visto saindo de uma loja com outra mulher. E, como já era de se esperar, ela não acreditou.
Achei uma cena forte. A moça parecia mais um leão prestes a atacar a pobre gazela, que era o rapaz. Ciúme deveria mesmo ser classificado como uma doença. Mas uma doença com fases, pois acho que nem todo ciúme é obsessivo e escandaloso como o da moça. Existe o ciúme que é apenas cuidado ou medo de perder a pessoa amada. É um ciúme mais calmo. O que não deixa a raiva subir à cabeça e dar a oportunidade ao outro de se explicar antes de qualquer conclusão. Esse tipo é raro nas mulheres.
Apesar de complicado, o ciúme é normal no amor. Obsessivo ou não, no fundo, o parceiro está sempre querendo demonstrar o carinho que sente pelo outro.

Monaliza Freire 

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

O fluxo imigratório para o Brasil no século XXI

Brancos, negros e mestiços. Essa é a definição da cultura étnica brasileira que aprendemos desde o ensino primário. Essa “definição” de livros de Historia da um parecer de que esse evento foi algo estático, que aconteceu em um determinado período, constituiu a sociedade brasileira e acabou. A verdade é que o movimento dos imigrantes para o Brasil começou no período colonial e jamais parou.
Contudo, percebemos reações adversas da sociedade brasileira diante de tantos imigrantes. Há quem apoie, sem discriminações ou julgamento, diferente daqueles que se sentem “ameaçados”. Esta ameaça ocorre em virtude da competitividade do mercado de trabalho, onde muitos imigrantes já chegam com altas graduações e “roubam” a vaga de concorrentes brasileiros.
Isso de certa forma, não é bom para o país porque deixa muitos brasileiros inseguros e indignados. O fato é que tudo isso acontece porque a nossa legislação de imigração ainda é da época da ditadura, que facilita e desburocratiza cada vez mais a entrada de estrangeiros, diferentemente de outros países, como os EUA, que possui leis e burocracias muito severas.
Podemos ressaltar também que a vinda de muitos imigrantes pode aumentar a probabilidade de entrada de novas doenças no país, como o temido ebola e por esse motivo, é questionável a integridade fisiológica dos estrangeiros.
Em vista dos argumentos apresentados, é imprescindível que o governo faça uma revisão nas leis relacionadas à imigração, criando uma autoridade nacional migratória, tendo mais cuidado com as emissões de vistos temporários daqueles que vem à procura de emprego, além de um rígido controle de saúde. Quanto aos brasileiros, estes devem coibir a xenofobia e buscar o direito da igualdade universal.


Raddson Ricelle –  estudante do 3º ano do curso de  Informática no IFRN – Câmpus São Gonçalo do Amarante

Redução da maioridade penal no Brasil

Atualmente, uma grande adversidade que o Brasil encara é o ingresso cada vez maior de adolescentes no mundo do crime. E como se já não bastasse essa problemática, outra surge quando um menor de idade comete um grave delito: condenar ou reabilitar?
Primeiramente, é importante destacar que a desigualdade social no Brasil e a falta de educação nas escolas públicas são os fatores que mais contribuem para que esses jovens entrem no crime. Então, tentar combater esse problema depois que a raiz da personalidade do jovem já foi formada não é a solução.
Mas o fato é que a sociedade precisa de respostas imediatas, considerando que uma reforma na educação  é algo que demandaria muito tempo. Um adolescente entre 15 e 17 anos já é capaz, psicologicamente, de responder por seus atos, e, dessa forma, pode ser punido. Porém, jogar esse jovem na cadeia junto com detentos adultos seria uma forma de influenciá-los a decair. Manda-lo para os centros de recuperação que não funcionam como devem é criar um pensamento de impunidade. Infelizmente, o que s epode fazer de imediato é analisar cada caso judicialmente e psicologicamente (e não simplesmente mandar qualquer adolescente para a cadeia) e igualmente fazer os centros de reabilitação funcionarem de verdade.
De fato, todo criminoso tem quer ser punido, independente disso ser ou não a solução para a criminalidade praticada por menores, sendo a verdadeira solução desta o investimento na educação e a melhor distribuição de renda no país. Reduzir a maioridade penal no Brasil visando à solução da criminalidade  é ilógico, mas se for visando responsabilizar o jovem por suas ações, isto sim é considerável.

Raddson Ricelle –  estudante do 3º ano do curso de  Informática no IFRN – Câmpus São Gonçalo do Amarante

COTAS VS EDUCAÇÃO

As cotas para universidades são a melhor forma de provar que o Brasil é um pais que vive em processo de experimentação para ver o que pode ou não dar certo. As cotas sociais deixam claro que um aluno que estuda em escola pública é mais despreparado para entrar em uma universidade do que um que vem da escola privada. Demonstram, assim, o quanto a educação que é dada pelo governo não tem qualidade.
Nesse contexto, o uso de cotas seria uma forma de igualar a entrada de alunos das escolas publicas e privadas nas universidades, considerando que os estudantes de instituições publicas são afetadas constantemente com a falta de material didático e de professores.
Já a cota racial é uma desculpa de tentar criar a desigualdade que os negros sempre sofreram  no meio social e no mercado de trabalho. A verdade é que a nota do concurso é o fator que conta para a entrada de uma pessoa em uma universidade, independente da raça.
Dessa forma, podemos perceber que o governo quer mascarar a todo custo, a falta de investimento na educação. Portanto, para utilizar a política de cotas, que haja melhorias no ensino fundamental e médio para que, desse modo, o jovem de escola pública tenha oportunidade igual, valendo-se do sei próprio esforço, não só na sua carreira acadêmica, mas em toda a sua vida.

Raddson Ricelle –  estudante do 3º ano do curso de  Informática no IFRN – Câmpus São Gonçalo do Amarante

O país de todos!

É certo afirmar que o Brasil não possui uma identidade cultural pura, e sim miscigenada . Tal característica parte do movimento imigratório desde 1500 ao século XXI. Assim, a chegada de pessoas nesse território pode ocasionar tensões sociais, porém contribui para elevar a diversidade étnica e a riqueza cultural.
Observando o quadro geral do movimento migratório para o Brasil nesse século, percebe-se que sua principal causa é a econômica. Nosso país é considerado a potência do Mercosul e um importante pais emergente, que está entre as 10 maiores economias do mundo. Indivíduos que não encontram opções de trabalho e sobrevivência nos seus países de origem migram em busca de condições favoráveis para melhorarem ou manterem seu padrão de vida. Esse é o caso dos europeus, que enfrentam a crise socioeconômica em seu continente, pintando um quadro inverso ao de um século atrás quando a evasão partia do Brasil.
Além disso, o nosso país é conhecido pela sua excelente maneira de receber os estrangeiros. Dessa forma, devemos honrar essa tradicional característica da nossa cultura. Como fizemos muito bem na Copa do Mundo, evento que acabou de acontecer, ao receber os turistas.

Para isso o Estado brasileiro deve garantir a dignidade humana dos imigrantes por meio da elaboração e fiscalização de leis da não exploração dessa mão de obra. Ademais, é necessário promover a relação entre esses novos conterrâneos com os cidadãos do Brasil, de modo que não haja diferenças de tratamento entre eles. Assim, poderemos dizer que o país, da mesma forma que seu maior monumento, estará de braços abertos para o mundo.

Pedro Lucas –  estudante do 3º ano do curso de  Informática no IFRN – Câmpus São Gonçalo do Amarante 

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

2014: o ano das eleições!

Nunca as eleições foram tão repercutidas como esta de 2014 – morte do candidato Eduardo Campos, polêmicas nos debates, ataques diretos em horário eleitoral, etc. De fato, o Brasil parece respirar política este ano. Porém, mesmo nessa atmosfera eleitoral, o povo brasileiro já não está tão convicto em quem votar, diante de tanta sujeira.
O discurso da candidata Marina Silva é cheio de vanglorias da sua juventude militante, além das suas fortes contradições. Ela tenta representar um sentimento de mudança, mas defende a autonomia do Banco Central, além de ser totalmente manipulada pela retórica do pastor Silas Malafaia e de não ter uma posição própria sobre seus argumentos.
O candidato Aécio Neves tenta, a todo tempo, se livrar de suas polêmicas na mídia. Recentemente, requisitou a Google, Bing e Yahoo! Que retirassem todas as buscas que associem seu nome a casos de corrupção e ao suposto uso de drogas. Em Minas Gerais, foi processado por desviar 4,3 bilhões de reais da saúde, além de construir um aeroporto particular de 14 milhões na fazenda de seu tio.
Não tão diferentemente, a candidata Dilma é o alvo de críticas e constrangimentos rente ao mundo, principalmente na copa. Por outro lado, devemos analisar o que ela já fez pelo Brasil, embora tenha deixado muita coisa a desejar. Em seu governo, entregou mais de 1,7 milhões de moradias com o Minha Casa, Minha Vida; criou 422 escolas técnicas e 18 universidades federais; duplicou mais de 5699 km de rodovias; colocou 14 mil médicos em 3800 municípios com o Mais Médicos. Ela fez pouco, contudo, mudou a vida de muitos brasileiros.

Tendo em vista a realidade do nosso país atualmente, com a saída de 36 milhões de cidadãos da extrema pobreza e a entrada de 42 milhões na classe média, podemos considerar que o governo Dilma tem capacidade para emergir e crescer cada vez mais rumo à construção de um novo Brasil.

Raddson Ricelle –  estudante do 3º ano do curso de  Informática no IFRN – Câmpus São Gonçalo do Amarante 

Álcool e direção


A combinação de álcool e direção é responsável pelos maiores índices de acidentes de transito no Brasil. A lei seca, implementada há 6 anos, propõe punir os motoristas que dirigem com a quantidade de álcool no organismo acima do valor permitido através das fiscalizações,
De fato, houve um perceptível plano de conscientização efetuado pelo governo com o uso de outdoors informativos, painéis nas Br’s, mídias nos pontos de ônibus, propagandas na TV. A Lei Seca trouxe consigo uma grande campanha de conscientização. Não há possibilidade dos condutores veiculares passarem despercebidos e não serem informados dos riscos de dirigirem embriagados. A verdade é que, embora os índices de acidentes provocados pela embriaguez no volante tenham diminuído, ainda há muitos motoristas imprudentes.
Antes de jugarmos tais fatos, devemos primeiro refletir sobre a dependência da sociedade brasileira aos veículos automotores. A Lei Seca traz um certo problema para quem gosta de beber até tarde longe de casa: falta de transporte público. Por esse motivo, muitos motoristas, embora conheçam o riscos, acabam se aventurando nas estradas de forma imprudente.
Portanto, é necessário que o transporte público funcione em horários da madrugada, que o governo continue investindo em políticas de conscientização. Dessa forma, teremos menos motoristas voltando pra casa bêbados em seus veículos, diminuindo os acidentes nas estradas. Se existisse o bom senso das pessoas também, a lei não seria necessária.

   Raddson Ricelle –  estudante do 3º ano do curso de  Informática no IFRN – Câmpus São Gonçalo do Amarante 

Quem escolher?


                   Os senadores e deputados compõem o Poder Legislativo do nosso país. A eles, é atribuída a função de elaborar as leis que regulam o Estado. Nas eleições de 2014, iremos decidir quem nos representará no Congresso Nacional. Serão vários deputados federais e estaduais e apenas um senador. Então, quem é o melhor para representar o Rio Grande do Norte no Senado: Wilma de Faria (PSB), Lailson (PSOL) ou Fátima Bezerra (PT)?

            Para tomarmos essa decisão, devemos levar em consideração o passado desses candidatos e o que eles fizeram pelo nosso estado. Um candidato como o professor Lailson, por exemplo, não seria a melhor escolha, tenho em vista que nunca atuou na política e não trabalhou, de fato, para a melhoria de áreas como a saúde e a educação do RN.
            A candidata Wilma de Faria já tem experiência em cargos públicos. Atuou em nosso estado como governadora, prefeita e, agora, vice-prefeita de Natal. Porém, nos 8 anos que atuou como governadora, esteve envolvida em quase uma dezena de escândalos. Entre eles, está o da construção da Ponte de Todos, que superfaturou cerca de R$ 20 milhões, segundo o Jornal de Hoje. Além disso, ela deixou uma dívida de quase R$ 1 bilhão para o atual governo.
            Fátima Bezerra, do PT, além de ter muita experiência na política, é ficha limpa. Atualmente, ela atua como deputada federal. Nesse cargo, Fátima já garantiu diversos benefícios para o estado. Ela vem garantindo a entrega de equipamentos (carros e computadores, por exemplo) em Conselhos Tutelares do RN e viabilizou a construção de várias unidades do IFRN.
            Como no Senado o poder de atuação é maior, Fática Bezerra promete fazer muito mais pelo estado. Ele pretende combater as drogas com educação e esporte e melhorar a educação. Em todos os anos que Fátima atuou em cargos públicos, ela sempre teve compromisso com a honestidade e com a educação. Além disso, seu partido tem um histórico de apoio aos trabalhadores. Portanto, ela é a melhor opção para nos representar no Senado.


Régia Carla Medeiros  Silva –  estudante do 3º ano do curso de  Informática no IFRN – Câmpus São Gonçalo do Amarante

É preciso melhorar

                      Há 6 anos, entrou em vigor, no Brasil, a Lei Seca. Essa lei objetiva reduzir os acidentes de trânsito causados pela combinação do álcool com o volante. É notória a sua eficiência no país através dos números de diminuição de acidentes provocados por motoristas embriagados. Porém ainda há barreiras a serem ultrapassadas para que a Lei Seca tenha eficácia total no Brasil.
            Primeiramente, não há postos de fiscalização suficientes para dar conta de toda a região urbana do país. A falta de monitoramento, muitas vezes, leva as pessoas a não se preocuparem em procurar outras formas de transporte ou simplesmente definir uma pessoa para ser o motorista da vez no momento em que forem beber.
            Em segundo lugar, existem vários policiais corruptos que aceitam suborno em troca da liberação de motoristas alcoolizados. Essa carência de policiais totalmente honestos tem atrasado a redução integral da permanência de motoristas embriagados no trânsito.
            Sendo assim, é necessária a ampliação e a fiscalização dos próprios postos de monitoramento. Essa fiscalização poderia ser feita através de câmeras de segurança espalhadas pelos postos. Ainda poderiam existir programas de incentivos financeiros para policiais que se mostrassem honestos em suas atividades. Além disso, a conscientização da população através de programas de televisão e de palestras em escolas e faculdades é indispensável. O problema da embriaguez no trânsito não poderá ser resolvido somente com o que está no papel. Por isso, a união do Governo e do povo brasileiro é imprescindível para o êxito da implantação da Lei Seca no país. 


Régia Carla Medeiros  Silva –  estudante do 3º ano do curso de  Informática no IFRN – Câmpus São Gonçalo do Amarante 

sábado, 17 de janeiro de 2015

A RAPOSA E AS UVAS


                   Lembro-me com muita saudade de tudo. Parece que foi ontem. Era uma noite de sábado, a lua estava linda, as pessoas pareciam alegres, o clima estava agradável. Lembro-me de que tinha os cabelos castanhos e os olhos negros, era um pouco forte e gostava de andar sempre arrumado. Costumavam me chamar de raposa, por ser um rapaz muito namorador. Gostava  de me divertir com muitas moças. Recordo-me de que estava muito ansioso à espera que o bailinho que acontecia toda semana começasse logo. Ora, muitos brotinhos estariam presentes na festa, não iria perder jamais tal oportunidade. O bailinho acontecia em um clube que ficava próximo à praça. Ao lado, havia um barzinho que lotava de gente após o término da festa. Já havia passado das nove horas, todos aguardavam o início do evento. O clube já era velho, mas isso não importava. O que todos queriam mesmo era se divertir e esquecer dos problemas da vida.
    O bailinho começa. Pessoas de diferentes estilos marcavam presença. Muitas moças bonitas dançavam felizes ao som da orquestra. Ah, que noite fantástica foi aquela, não só por ter dançado com muitas mocinhas, mas também por ter sido um dos dias mais importantes da minha vida. Quando a orquestra começou a tocar “Besame Mucho”, uma linda morena me chamou atenção. Ela era fantástica, tinha os olhos verdes e o sorriso encantador. Foi também seu jeito meigo que logo me conquistou. Pela primeira vez na vida, senti algo diferente dentro de mim. Era um sentimento muito bom que me trazia nervosismo e, ao mesmo tempo, paz. Senti meu coração bater muito forte. Logo ali, tive a certeza de que ela era o amor da minha vida. Sem saber direito o que dizer, dirigi a palavra:
    - Boa noite, senhorita!                                                                                      
    Ela me olhou fixamente por alguns segundos e respondeu:
    - Boa noite!
    Confesso que estava muito nervoso. Jamais havia sentido tão nobre sentimento por outra pessoa. Então, fiz um convite:
    - Quer dançar comigo?
    - Sim, vamos! – respondeu ela.
    Enquanto dançávamos ao som da orquestra, conversamos:
    - És uma moça encantadora! Como te chamas?
    - Sou Madalena!
    - Me chamo Paulo!
    - Muito prazer!
    - O prazer é todo meu!
    Dançamos até o fim da festa. Conversamos muito. Lembro-me que ela usava um vestido rodado e seu cabelo estava com laquê. Seus olhos, que eram a mistura de tudo que há de mais bonito no mundo, brilhavam mais que o sol.
    Ao sairmos do baile, fomos ao barzinho. Ela me contou um pouco de sua vida. Fiz o mesmo. Depois de algum tempo conversando, fomos para casa, mas antes marcamos de nos encontrarmos novamente no baile da semana seguinte.
    A felicidade reinava dentro de mim. Estava simplesmente apaixonado. Logo eu, que nunca fui homem de uma mulher só.
    Passei a semana inteira aguardando ansiosamente pelo nosso novo encontro. Finalmente chega o sábado. Dançamos durante toda a festa. Em seguida, fomos ao barzinho. Tudo como na semana anterior, mas naquele dia fui deixá-la em sua casa. Ao chegarmos lá, em frente ao portão, um beijo, um abraço, minha mão, sua mão.
    Toda semana era sempre a mesma coisa. Dançávamos no baile ao som da orquestra, em seguida íamos ao barzinho, e depois eu ia a deixar em casa. Ela era uma moça muito bonita, usava o perfume “Chanel”. Eu estava completamente atraído por aquela mulher. Ela me jurava coisas bonitas, dizia que me amava. Eu fazia sempre o mesmo, retribuía todo o amor e carinho em dobro. Eu me sentia como a raposa atraído pelas uvas, assim como acontecia em uma fábula. Gostava sempre de fazer essa comparação. Madalena era uma moça doce, assim como as uvas; e eu era a raposa, que não conseguia esconder meu desejo. Outra coisa que me fazia gostar dessa comparação era o fato de antes ser um rapaz muito namorador.
    Certo dia, decidi falar com o pai dela para pedi-la em namoro, já que ele me conhecia de todas as vezes que ia deixar sua filha em casa. Ao término do bailinho, fomos caminhando até a casa dela. O seu sorriso estava mais encantador que nunca. Seus olhos brilhavam mais que o sol radiante do meio-dia. Quando chegamos, falei educadamente com Seu Antônio, pai de minha amada, e pedi permissão para namora-la. A resposta que obtive dele foi melhor que eu esperava:
    - Ora, rapaz! Filha minha não namora. Filha minha casa!
    Naquele momento, tudo o que me veio na cabeça foi pedi-la em casamento:
    - Madalena, meu amor! Você aceita casar comigo?
    Vi os olhos de minha amada cheios de lágrimas. Seu Antônio também parecia muito feliz. Acho também que não aconteceria o contrário. Ele soube naquele momento que minhas intenções com a filha dele eram mais que sérias.
    - É claro que eu aceito! – respondeu Madalena, muito emocionada.
    Acho que nunca havia ficado tão feliz quanto naquele momento. Minha morena era tudo pra mim. Foi ela que fez com que a raposa se atraísse pelas uvas. Ela mudou completamente a minha vida. Me libertou da vida de namorador barato que eu levava. Eu nunca havia sentido antes tanto amor e desejo por uma mulher.
    Depois de alguns meses, nos casamos. Foi tudo perfeito: nossa festa, nossa lua de mel. Aquele tempo foi o melhor de toda a minha vida. Passamos vinte anos casados. Tivemos quatro lindos filhos. Vivemos muito felizes durante todo esse tempo.
    Certo dia, quando estávamos caminhando durante o crepúsculo, algo terrível aconteceu: uma bala perdida atingiu Madalena. Meu mundo acabou ali, nunca me vi tão perdido quanto naquele momento. Uma dor terrível apertou meu coração. Minha amada estava caída no chão. O sangue se espalhava pela calçada. Dei apenas um alto e desesperado grito:
    -NÃO!
    Madalena estava morta. Naquele momento, entrei em êxtase. Passei muito mal. Não podia acreditar que minha amada estava morta. Pensei em várias coisas naquele momento: suicídio, vingança. Mas felizmente o amor por meus filhos falou mais alto. No dia seguinte, a enterramos. Foi o dia mais triste de toda a minha vida. Só o que me fazia acreditar que tudo aquilo um dia iria passar era os meus filhos. Frutos do nosso amor, presentes da nossa linda história.
    Hoje, completaríamos cinquenta anos de casados. Sei que ela se foi há muito tempo, mas nunca a esquecerei. Afinal, foi ela que mudou minha vida, foi ela que me ensinou o que é o amor verdadeiro, por isso estará sempre guardada em meu coração.
    “Lembro com muita saudade daquele bailinho, onde a gente dançava bem agarradinho, onde a gente ia mesmo é pra se abraçar.”

Lívia Campos

Conto produzido a partir da letra da canção brega A raposa e as uvas, de Reginaldo Rossi.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

A ÚLTIMA VALSA



No meio daquela valsa, nossos olhos se cruzaram mais uma vez. Vi em seu olhar o convite que me fazia ir para junto dele. Nossos rostos se aproximaram e pude enxergar, mesmo sobre as marcas que o tempo havia deixado em sua cinzenta pele, a beleza que despertava em mim os desejos mais excitantes que havia na minha imaginação. Éramos tão parecidos, existiam tantas semelhanças entre nós. Talvez fosse isso que atraísse os nossos corpos.
Não resisti àquele convite que me parecia o último. Perdemos-nos em meio a tanta sedução. O seu sexo me conduzia às profundezas das trevas, a noite escura parecia nos abraçar. E por um instante esqueci que naquela mesma noite iria perder o meu templo de perdição. Somente aquele corpo me saciava. Como uma fera voraz, que dilacera a sua presa, eu loucamente sugava todo prazer que ele poderia me proporcionar. Quem, melhor que o meu pai, para me entregar por completa em suas prazerosas mãos?
No ápice das trevas do nosso amor, senti a lâmina penetrando lentamente o meu ventre. Sabendo que nunca mais estaria nos braços de meu pai. Serrei os dentes ferozmente em seus lábios, na intenção de sentir o sabor do seu sangue, assim como ele sentia o meu. Tudo se tornou a mais romântica escuridão, Satã estava a minha espera.

...

Sou um homem e um pai totalmente infeliz, pois presenteei o mundo com a maior beleza que poderia ser criada, a mulher mais bela que os meus olhos já conseguiram enxergar e objeto de desejos de muitos cavalheiros. Ela deve ser minha, só minha, eu que a criei e, por isso, sou seu dono. A sua mãe nunca foi capaz de se comparar a tamanha beleza. Sua pele branca como a cera que goteja das velas de funerais, seus cabelos negros como as noites sem estrelas, seu olhar sedutor que me fazia desejar a morte do que ser engolido pelas profundezas da sua alma. Os laços de sangue nos faziam desejar mais um ao outro, a semelhança em nossos traços nos atraía a conhecer as partes mais ocultas de nossos corpos nus. Eu desejava aquela mulher vestida de mistérios que jamais consegui desvendar. Não sabia se estava ficando louco ou era um delicioso pecado que, aos poucos, me dilacerava por dentro.
Na infância, sempre fomos muito próximos. Ela sempre me preferia em vez da mãe. Eu era uma espécie de príncipe das sombras para ela. Nunca achei estranha tal aproximação. Pelo contrário, o amor que sentia pela minha pequena filha apenas ia preenchendo o meu coração. Já com alguns anos de idade, em sua adolescência, ela se tornou uma criatura fria e sedutora, sabia usar seu corpo para seus interesses próprios, não resistia àquela tentação de Lúcifer. O meu desejo pela minha filha era enlouquecedor. Mas ela só desejava meu corpo e minhas carícias. Ela nunca me amou como um homem. Não queria acreditar que ela não sentia mais que meros desejos sexuais por mim. Eu a amava e queria ela toda para mim. Não era possível existir vida se não fosse para viver ao lado daquela alma sombria que eu mesmo criei. Deixei-me cair nas mãos de minha própria criação, pois não havia forças para lutar contra o desejo que pulsava em minhas veias.
Aos dezoito anos, ela foi prometida em casamento ao Duque da Genóvia, um jovem rico que estava oferecendo um dote pela mão da minha filha. Não tive outra chance a não ser aceitar e entregar o tesouro mais valioso que eu já tive em minha deprimente vida, pois estávamos falindo e não havia outra forma de salvar a família. No momento em que fechei negócio com o Duque, percebi que acabava de assinar a minha sentença de morte. Como eu poderia viver sem o prazer que a minha filha me fazia experimentar? Como eu iria viver sabendo que outro homem iria violar as partes mais excitantes e desconhecidas de seu corpo? Meus pensamentos me apunhalavam e me angustiavam aos poucos. Aquela mulher me pertencia. O seu corpo era somente meu. Os seus seios eram a porta do inferno que me levava a esquecer toda a tristeza. Eu sou o seu único dono e apenas eu poderia penetrar em seu corpo e me perder nas suas perigosas curvas.
Em um mês o casamento estava para acontecer. No dia do casamento, a minha única companhia era a bebida. Embriaguei-me de angústia e desilusão. O meu coração já não batia como antes, o ritmo ia se desfalecendo aos poucos. Mais me valia à morte do que viver sem aquilo que era vital para mim. Na valsa, senti que seria a última vez que teria domínio daquele demoníaco corpo. Cochichei em seu ouvido o meu desejo de penetrar pela última vez nas entranhas mais profundas do seu ser. Fomos para a biblioteca da mansão, onde, por um momento, me senti o noivo que iria alegrar aquela noiva. Embrenhei-me dentro do seu vestido e toquei nas partes do seu corpo que ainda me pertenciam. Meus lábios já conheciam todo o caminho a ser trilhado. Transamos como se fosse à última vez. O ciúme que me enfurecia por dentro se transformava em prazer. Novamente, aquela mulher me levou a loucura e, por um instante, fiquei inconsciente.
Avistei um vaso de rosas vermelhas como sangue, que estava em cima do grande piano no centro da biblioteca. Peguei uma rosa e a coloquei no meio dos seus belos seios. Acariciamos-nos. Dei-me conta de que o Duque já deveria estar à procura da minha filha, sua noiva, para partirem em lua de mel. Peguei um punhal, que sempre andava em minha cintura e em um golpe de amor e ódio, no meio do beijo frio, penetrei-o no ventre da minha filha. Ela me olhou, e ao sentir o golpe, mordeu meus lábios até sangrar. Tomado pelo ódio, pensei: “Se ela não pode ser apenas minha, não será de mais ninguém”.
 O sangue espalhado pelo vestido branco daquela filha de Satã, meu próprio sangue que estava realçando a aparência melancólica que ela possuía. O anseio de eternizar o nosso prazer me fez continuar a fazer amor com o cadáver de minha amada e bela filha. Não consegui parar. Logo em seguida, peguei as suas suaves mãos, juntas com as minhas, e acariciei meu corpo inteiro. Segurei novamente o punhal, e desta vez, desferi um golpe certeiro em meu coração. Foi a forma que encontrei para escapar da dor que a perda me traria. Quero permanecer para sempre com a minha amada. Que o inferno eternize o nosso amor.


Flavínia Menezes

Conto produzido a partir da letra da canção brega A última valsa, de Sidney Magal

O GRANDE AMOR DA MINHA VIDA


"(...) Mas o destino

A cada instante me separa de você
Deste jeito eu sei que vou enlouquecer
É demais pra mim sozinho a solidão (...)"
                                               


                Caro diário,
Hoje liguei para ela. Foram 23 ligações. Nenhuma correspondida. O que será que ela está fazendo? O que seria mais importante que o seu namorado? Acho melhor ela não estar me evitando.
                                                                                  23 de setembro de 2004,
Rodrigo.

            Querido diário,
            Rodrigo ligou 23 vezes. Não aguento mais. Ele é louco. Não suporto mais estar perto dele. Não nasci para ficar presa a ninguém, muito menos no mundo dele!
23 de setembro de 2004,
Letícia.

Já são 00 horas e 03 minutos. Não sei o que Letícia está fazendo. Estou a ponto de enlouquecer. Por que ela está me evitando? Eu a amo. Amo mais que a mim! Não sou nada sem ela. Nada vai nos separar. NUNCA! Não posso perdê-la.
            24 de setembro de 2004,
Rodrigo.

            Querido diário,
            Estou animada. Tenho tantas coisas para esse final de semana. Aniversário de Amanda, compras, shopping, cabeleireiro. Estou mesmo precisando relaxar. Esse último ano na faculdade está me matando. Falando nisso, tenho que terminar alguns trabalhos. Antes que Rodrigo ligue 1000 vezes!
24 de setembro de 2004,
Letícia.

Letícia não deu notícias. Estou bastante preocupado. Já foram 47 ligações, 29 torpedos, 10 e-mails e nada dela me responder. NADA. Ela só pode estar louca!
24 de setembro de 2004,
Rodrigo.

            O aniversário de Amanda, melhor amiga de Letícia, foi bastante agitado. Rodrigo apareceu sem ser convidado. Deu grande show. Fez Letícia odiar ter achado que aquele final de semana seria para relaxar. Rodrigo brigou e ameaçou bater no irmão de Amanda. O que só demonstrou mais a sua obsessão por ela.

            Caro diário,
            Hoje foi um dia terrível! Letícia já não está falando comigo e, depois do ocorrido, não vai querer falar nunca mais! O que será de mim sem ela? O que será da minha vida? Estou sofrendo com a ausência dela. Não imagino um futuro sem ser ao lado do grande amor da minha vida.
26 de setembro de 2004,
Rodrigo.
            Queridíssimo diário,
            Desculpe não ter relatado o ocorrido dos dias atrás. Estava ocupada. Não tive nenhuma oportunidade de contar os causos. Mas irei relatá-los.
            No dia 25, fui ao shopping, cabeleireiro, fiz compras. Relaxei. Apesar de ter sido perturbada o dia inteiro, acho que não preciso dizer por quem...
            No dia 26, fui ao aniversário de Amanda. Estava tudo lindo. Até Rodrigo chegar. Ele grudou em mim feito carrapato. Ah! Já são 86 ligações, 47 torpedos, 19 e-mails... meu Deus! Voltando ao aniversário... ele entrou sem convite. Quase agrediu o irmão da aniversariante só porque ele me abraçou. O que é uma grande besteira! Tive que me desculpar e me retirar da festa para não acabar em uma tragédia.
            Esses dias só tenho me dedicado à faculdade. Nada de Rodrigo por perto por um bom tempo.
01 de outubro de 2004,
Letícia.

Letícia não aguentava mais. Estava farta. E acredite, ela chegaria ao seu limite mais tarde. Afinal, Rodrigo não desistiria de possuí-la. Muito menos de amá-la.

Ela me abandonou. Não fala comigo há dias. Ela acha que eu não estou sofrendo? Estou enlouquecendo. Estou morrendo aos poucos. Por qual motivo ela me quer longe dela? Se ela não for minha, não será de mais ninguém!
01 de outubro de 2004,
Rodrigo.
Para a surpresa de Letícia, algo inesperado aconteceu. Rodrigo foi buscá-la na faculdade. Parecia estar ligeiramente alcoolizado. Letícia sabia que ele não era acostumado a beber. Poucas doses o faziam mudar mais ainda de personalidade.
Ele deu um leve sorriso, que foi o bastante para fazer Letícia estremecer. Ela não falava com ele há pelo menos 10 dias, o que a fez ficar mais preocupada ainda. O que queria ele? Não havia entendido o recado? Ela não o queria por perto. Houve uma breve troca de olhares. Ela hesitou entrar no carro, mas preferiu não contrariá-lo. Depois de alguns quilômetros percorridos, Letícia quebrou o silêncio:

Você está bem? — disse ela tentando parecer despreocupada.

— Você acha que eu estou bem? Acha, Letícia? — disse ele alterado.

Ela o olhou fixamente, enquanto o carro parecia voar da pista.

— Você é louco! Louco! — ela gritou.

O som do grito de Letícia ecoava na cabeça de Rodrigo, o que o fez ficar ainda mais perturbado.

— Rodrigo, pare este carro! — disse ela tentando parecer mais calma.

— Letícia, você não me ama — disse ele quase chorando — a sua ausência está me matando aos poucos. O seu cheiro, o seu beijo, o seu corpo... eu preciso de você mais do que preciso do ar para respirar. Sem você eu perco a razão de viver. Minha vida fica sem sentido.

Rodrigo parou o carro e só então Letícia percebeu que já chegara em casa. Ela não tinha coragem de terminar, mas também sabia que a obsessão dele só tendia a piorar, então falou:

— Rodrigo, estamos juntos há 2 anos e eu não sei como pude acreditar por tanto tempo que você iria mudar! Você está doente. Seu amor por mim não é normal! Você é obsessivo. Você me sufoca. Você não me deixa viver. Acho melhor a gente dar um tempo.

Ele já esperava por tal coisa. Pegou o carro e saiu em alta velocidade. Ninguém sabia o que ele faria agora. Qual seria o sentido da vida para ele sem ela?

 

Caro diário,

 

            Hoje não foi um dia fácil. Queria me dedicar a outras coisas, mas não vai ser possível. Estou um pouco abalada. Estou com medo do que ele possa fazer. Ele quem quis assim. Ele que fez o nosso amor virar um jogo de posse... ele que acabou com tudo!

            São 23 horas e 53 minutos. Eu não consigo dormir e provavelmente não vou conseguir.

03 de outubro de 2004,

 

Letícia.

 

            Letícia realmente não dormiu. Ficou remoendo a última mensagem que Rodrigo lhe enviou, a qual ela ainda não tinha lido.

 

            Querido diário,

 

             Me sinto culpada e livre ao mesmo tempo. Não dormi na noite passada pensando na última mensagem que Rodrigo me enviou: “Não se engane. Amor como o meu você NUNCA mais encontrará. Eu nunca vou deixar de te amar. Você é minha. MINHA!”.

Ele ainda não deu notícias após ontem. Estou preocupada.

 

04 de outubro de 2004,

 

Letícia.

 

Caro diário,

           

            Estou com tantas coisas da faculdade que não tenho tempo de relatar os acontecidos. Faz 4 dias que não tenho notícias de Rodrigo. O telefone dele só chama. O que me faz ficar mais preocupada ainda. Ele nunca rejeitou uma ligação minha. Penso que está na casa de campo dos pais dele. Irei lá no domingo.

07 de outubro de 2004,

 

Letícia.

 

            A moça mal sabia o que a esperava. Essa viagem mudaria tudo. Letícia veria o que ela mais temia que acontecesse.

 

Querido diário,

 

Estou de saída para a casa de campo. Estou menos preocupada. Os pais dele disseram que ele realmente foi para lá. Espero que ele esteja bem.

 

09 de outubro de 2004,

 

Letícia.

 

A casa de campo era isolada. Poucas pessoas conheciam a rota. Letícia fora lá duas vezes e gostara muito. Era linda. Porém, o cenário que ela encontraria agora seria muito diferente.

            Letícia, após algumas horas, chegou ao seu destino. Estacionou o carro. Deu uma volta ao redor da casa. Achou até que Rodrigo não estaria mais ali de tão silenciosa que estava a casa. Ao entrar na sala, ficou chocada com a cena que viu. Rodrigo havia se matado, com um tiro na cabeça. O corpo deveria estar ali há pelo menos dois dias e... Letícia não havia chegado a tempo.

            Ela, em profundo desespero, não teve reação a não ser chorar desconsoladamente sobre o corpo fétido. Próximo ao corpo estava o diário de Rodrigo. Letícia o abriu. Estava marcado. Na página, tinha as seguintes palavras:

 

            “Caro diário,

 

            Você foi testemunha de tudo que fiz por Letícia. Se tudo for como planejei, já estou morto e ela provavelmente estará lendo isso. Então, não escreverei para você e sim para minha amada.

 

            Meu amor, tudo que fiz foi para você. Me perdoe por tudo que eu fiz que você não se agradou. Desculpe-me por tê-la sufocado. Tirado o seu direito de viver. Não era a minha intenção. Eu a amo tanto e te amarei para sempre. Acredite, meu amor, isso tudo foi por você! Não se sinta culpada. Eu só não conseguiria viver sem você. Você é o sentido da minha existência e, sem você... eu morreria de qualquer forma. Eu vivo e morro por você, minha amada.

07 de outubro de 2004,

 

Rodrigo.”

           


            Ele a amava. A sua obsessão era o medo de perdê-la. Ele não amaria mais ninguém. Ele não viveria por mais ninguém. Ele não morreria por mais ninguém.


Érika Lorena

Conto produzido a partir da letra da canção brega O grande amor da minha vida, de Bartô Galeno