
Não, eu não sou ladrão!
Não é vitimismo meu dizer
que eu sou a vítima da história. Pois é! Eu sou a vítima... De quê? Eu sou a
vítima que nunca tive a oportunidade de estudar; a vítima que, pela cor, nunca
fui aceito em um trabalho de qualidade; vítima de pessoas, como você, que, pelo
motivo de eu ser negro, me trata como bandido; vítima de policiais; vítima do
desemprego, da fome, da morte, da desgraça, da rua...
Ei, espera! Por que está me
algemando? Eu não roubei nada!
Por que não prendem os caras
de ternos, que nos roubam pela fé ou pelo trabalho escravo? Ou então os que nos
roubam no Congresso Nacional! É, no Congresso Nacional! Aquele espaço, de
homens ricos, brancos, que decidem a nossa vida e me tornam um bandido porque
eu quero estudar e ter um trabalho digno.
Para! Você está me
machucando! Estou fazendo o que você pede, não vê que eu estou andando?
O que mais me dói é estar
gritando pra todo mundo ouvir e ninguém me escuta. Só porque eu sou negro...
Olha essa multidão de gente
branca... Socorro! Parem! Um negro não pode andar mais em uma cidade grande?
Eu não sou ladrão!
Mês passado se foram três
amigos meus da periferia, semana passada mais dois irmãos meus, hoje sou eu! E
amanhã, quem será? Será um rico engravatado? Ou será mais um pobre enterrado,
morto por um saldado, morto por ser negro.
Salve, salve, meu pai Ogum!
Guerreiro contra a injustiça. Eu espelho essa tua guerrilha. Eu luto contra a
desigualdade. Eu mostro a realidade. Negro também é gente...
Ogunhê!
Mikael Lucas
Negro também é gente.
ResponderExcluirBelíssimo texto!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBelíssimo texto!
ResponderExcluirÓtima leitura ��
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