quarta-feira, 13 de julho de 2016

Assalto

Me lembro quando ele entrou. Alto, bem vestido e sério. Aparentemente normal, como qualquer pessoa naquele Banco. Não demorou muito para anunciar o assalto. Merda. Logo hoje? Quase nunca saio de casa e, quando saio, dá nisso!
Meu coração disparou. Minhas mãos começaram a suar. Ele nos mandou ficar quietos enquanto vasculhava o local. Foi aí que o observei melhor: olhos castanhos claros, pele morena e cabelos cacheados. Era uma beleza comum, suave. Na medida certa.
No momento do assalto, havia poucas pessoas no Banco: um senhorzinho, uma mulher com seu filho de colo, duas atendentes e um gerente. E eu. Recém-separada de um casamento de três anos. Traída. Dei tudo de mim para dar certo. Já meu ex-marido, nem tanto. Desde a separação me sinto vazia. Me sinto sem nada. E agora, além de tudo, sendo assaltada.
Nesse momento, a sirene da polícia soou do lado de fora. Ele voltou com sacolas de dinheiro. A porta é derrubada. A polícia invade o Banco, apontando armas.
Ele me pega com violência. Aponta uma arma para minha cabeça.
-Se afastem! Ou mato ela! E todo mundo aqui. Afastem!
-Calma! Não vamos atirar. Não machuque ninguém. Vamos negociar! Se entregue – fala a polícia.
Meu Deus! Vou morrer. E agora? A polícia se afasta um pouco. Alguns policiais baixam as armas. Tento falar com ele. Acalmá-lo.
-Por que você está fazendo isso? Liberte todo mundo. Você não tem saída.
-Cala a boca! Você não sabe de nada. Não vou para a cadeia.
-Você vai acabar com sua vida.
-Não! O dinheiro. Minha mãe precisa.
-Sua mãe?
-Ela está doente. Vai morrer! Precisa de cirurgia!
-Deve haver outra forma de conseguir o dinheiro. Uma maneira honesta.
-Honesta?! Não tem! Já tentei. Tentei arranjar um emprego, fazer bico. Até pegar empréstimo neste maldito Banco. Não consegui nada.
Algo dentro de mim queria ajudar. Fique compadecida. Senti pena. Ele era só alguém que não teve oportunidade. Que queria ajudar a mãe doente. Olhei para os três únicos policiais presentes do lado de fora. Provavelmente chamando reforços. Um segundo afastava os curiosos que estavam na porta do Banco. E o último, atento a tudo que acontecia do lado de dentro.
-Se entregue, por favor!
-Cala a boca!
Nesse momento, um policial avança em direção ao assaltante. Os dois entram em luta corporal. Com dificuldade, ele é imobilizado e algemado.
Logo, sou amparada pelas pessoas ao redor enquanto o levam para a viatura. Vou para delegacia junto com os outros reféns. Decido não prestar queixa.
Volto para casa. Com os noticiários e reportagens, descubro seu nome: Ricardo. Foi levado para penitenciária da cidade. Como será que ele está? Com fome? Com sede? E até com frio?
Alguns dias se passam. Só penso nele. Meus amigos me falam que ando triste. Distraída. Sua imagem não sai da minha cabeça. Conseguiria ajudar de alguma forma? Conseguiria tirá-lo do mundo do crime? Estou maluca. Penso 24 horas em um assaltante. Desejando-o como amante.
Preciso agir. Fazer algo. Seria loucura visitá-lo? Não. Claro que não. Só quero ver como ele está. Se está bem. O que é que tem? A própria Bíblia diz: amai o próximo.
No dia seguinte, vou até lá. Entro na penitenciária. Digo que sou sua namorada. Quem sabe? Levo para ele um bolinho. Um doce. Um suquinho. Algo para amenizar sua dor. Sou levada para uma sala. Ali fico. Esperando. Estou nervosa. Mãos suadas. Tecnicamente, é nosso primeiro encontro, não é mesmo? A porta se abre. Meu coração dispara. Alguém entra. É ele.

Amanda Pinheiro

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