
Meu coração disparou. Minhas
mãos começaram a suar. Ele nos mandou ficar quietos enquanto vasculhava o
local. Foi aí que o observei melhor: olhos castanhos claros, pele morena e
cabelos cacheados. Era uma beleza comum, suave. Na medida certa.
No momento do assalto, havia
poucas pessoas no Banco: um senhorzinho, uma mulher com seu filho de colo, duas
atendentes e um gerente. E eu. Recém-separada de um casamento de três anos.
Traída. Dei tudo de mim para dar certo. Já meu ex-marido, nem tanto. Desde a
separação me sinto vazia. Me sinto sem nada. E agora, além de tudo, sendo
assaltada.
Nesse momento, a sirene da
polícia soou do lado de fora. Ele voltou com sacolas de dinheiro. A porta é
derrubada. A polícia invade o Banco, apontando armas.
Ele me pega com violência.
Aponta uma arma para minha cabeça.
-Se afastem! Ou mato ela! E
todo mundo aqui. Afastem!
-Calma! Não vamos atirar.
Não machuque ninguém. Vamos negociar! Se entregue – fala a polícia.
Meu Deus! Vou morrer. E
agora? A polícia se afasta um pouco. Alguns policiais baixam as armas. Tento
falar com ele. Acalmá-lo.
-Por que você está fazendo
isso? Liberte todo mundo. Você não tem saída.
-Cala a boca! Você não sabe
de nada. Não vou para a cadeia.
-Você vai acabar com sua
vida.
-Não! O dinheiro. Minha mãe
precisa.
-Sua mãe?
-Ela está doente. Vai
morrer! Precisa de cirurgia!
-Deve haver outra forma de
conseguir o dinheiro. Uma maneira honesta.
-Honesta?! Não tem! Já
tentei. Tentei arranjar um emprego, fazer bico. Até pegar empréstimo neste maldito
Banco. Não consegui nada.
Algo dentro de mim queria
ajudar. Fique compadecida. Senti pena. Ele era só alguém que não teve
oportunidade. Que queria ajudar a mãe doente. Olhei para os três únicos
policiais presentes do lado de fora. Provavelmente chamando reforços. Um
segundo afastava os curiosos que estavam na porta do Banco. E o último, atento
a tudo que acontecia do lado de dentro.
-Se entregue, por favor!
-Cala a boca!
Nesse momento, um policial avança
em direção ao assaltante. Os dois entram em luta corporal. Com dificuldade, ele
é imobilizado e algemado.
Logo, sou amparada pelas pessoas
ao redor enquanto o levam para a viatura. Vou para delegacia junto com os
outros reféns. Decido não prestar queixa.
Volto para casa. Com os
noticiários e reportagens, descubro seu nome: Ricardo. Foi levado para
penitenciária da cidade. Como será que ele está? Com fome? Com sede? E até com
frio?
Alguns dias se passam. Só
penso nele. Meus amigos me falam que ando triste. Distraída. Sua imagem não sai
da minha cabeça. Conseguiria ajudar de alguma forma? Conseguiria tirá-lo do
mundo do crime? Estou maluca. Penso 24 horas em um assaltante. Desejando-o como
amante.
Preciso agir. Fazer algo.
Seria loucura visitá-lo? Não. Claro que não. Só quero ver como ele está. Se
está bem. O que é que tem? A própria Bíblia diz: amai o próximo.
No dia seguinte, vou até lá.
Entro na penitenciária. Digo que sou sua namorada. Quem sabe? Levo para ele um
bolinho. Um doce. Um suquinho. Algo para amenizar sua dor. Sou levada para uma
sala. Ali fico. Esperando. Estou nervosa. Mãos suadas. Tecnicamente, é nosso
primeiro encontro, não é mesmo? A porta se abre. Meu coração dispara. Alguém
entra. É ele.
Amanda Pinheiro
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