terça-feira, 12 de julho de 2016

Bela, farrista e do bar

Num sábado à noite, lá estava eu, numa festa com minhas amigas. Me divertindo. Bebendo. Dançando até o chão. Saia curta, blusa mostrando a barriga, rosto maquiado e salto 15. Nem parecia quem eu era de verdade. Entre doses e mais doses. Entre homens e mais homens. Passando o rodo.
Do nada, um homem chega em minha direção.
- Tu não tem o senso do ridículo não, mulher?
- Oxe, por quê?
- Ainda pergunta? Meu Deus! Olhe pra você. Suas roupas. Essas bebidas. Pra completar, uma ruma de macho. São 3 horas da manhã, mulher! Você deveria estar em casa. Cuidando dos filhos. Dando de comer ao marido. Respondi com sangue nos olhos:
- Você é louco? Te vi desde o começo da festa. Ficando com várias. Bebendo. Você pode e eu não? Não tenho marido nem filhos. Não devo satisfação a ninguém.
- Não tem filhos e marido? Então é puta.
- Do que você me chamou?
-Puta. Olhe suas roupas. Essa saia beira cu. Essa blusa pequena. Vai acabar sendo estuprada. E eu acho e pouco.
- Estou sim de roupa curta. Não significa que estou dando liberdade a ninguém. Você está sem camisa. Com a cueca aparecendo. Com uma bermuda colada. De longe dá pra ver a tua barraca armada. Se fora assim, será estuprado também.
- Eu sou homem. Eu posso. Se quiser, ando até pelado... Pego quantas quiser. Você, não. Sua obrigação é ficar cuidando da casa.
- Ora, por quê? Sou mulher, não uma prisioneira. Vou pra onde quero. Faço o que quero. Não é por isso que tenho que ser desrespeitada.
- Você é mulher. Não deveria estar em um lugar assim. Nem fazendo isso tudo.
- Não é questão de dever e sim de querer. Estou aqui pra me divertir, assim como você. Estou comemorando minha conquista.
- Tu lá tem direito de nada! Ouça o que estou lhe dizendo. Do jeito você está aqui vai se dar mal. Você mesma que está pedindo. É o que irá acontecer.
O homem disse isso com um tom de ameaça e foi embora. Desde aquela hora não o vi mais.
Mais de 4 horas da manhã. A festa acabou. Fui para o carro com as meninas. Todas entraram. Menos eu. Antes de entrar, um homem armado me puxou. Me colocou dentro de um carro preto. Vidros escuros. Advinha quem era. Ele. Isso, ele mesmo. Ele me levou para uma casa longe de tudo. Não estava só. Tinha mais três homens lá. Me levaram para o quarto. O que ele tinha dito aconteceu. Quatro homens de uma só vez.  Mas não foi minha culpa. Não fiz nada de errado. Tudo o que eu queria naquele momento era morrer. Estava a acontecer. Eles não queriam provas. Um tiro. Eu caí no chão. Pouco depois, uma sirene. Mais tiros. Dessa vez não foi na minha direção. Enquanto isso, eu sangrava no chão. Agora estou aqui. Deitada. De vez em quando vêm trocar o meu soro. Minha mãe chora muito. Desculpe, mãe. Estava apenas comemorando. Minha aprovação em medicina. Esperava salvar vidas. Pelo jeito não vou salvar nem a minha.


Luana Lins

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