
Do nada, um homem chega em
minha direção.
- Tu não tem o senso do
ridículo não, mulher?
- Oxe, por quê?
- Ainda pergunta? Meu Deus!
Olhe pra você. Suas roupas. Essas bebidas. Pra completar, uma ruma de macho.
São 3 horas da manhã, mulher! Você deveria estar em casa. Cuidando dos filhos.
Dando de comer ao marido. Respondi com sangue nos olhos:
- Você é louco? Te vi desde
o começo da festa. Ficando com várias. Bebendo. Você pode e eu não? Não tenho
marido nem filhos. Não devo satisfação a ninguém.
- Não tem filhos e marido?
Então é puta.
- Do que você me chamou?
-Puta. Olhe suas roupas.
Essa saia beira cu. Essa blusa pequena. Vai acabar sendo estuprada. E eu acho e
pouco.
- Estou sim de roupa curta.
Não significa que estou dando liberdade a ninguém. Você está sem camisa. Com a
cueca aparecendo. Com uma bermuda colada. De longe dá pra ver a tua barraca
armada. Se fora assim, será estuprado também.
- Eu sou homem. Eu posso. Se
quiser, ando até pelado... Pego quantas quiser. Você, não. Sua obrigação é
ficar cuidando da casa.
- Ora, por quê? Sou mulher,
não uma prisioneira. Vou pra onde quero. Faço o que quero. Não é por isso que
tenho que ser desrespeitada.
- Você é mulher. Não deveria
estar em um lugar assim. Nem fazendo isso tudo.
- Não é questão de dever e
sim de querer. Estou aqui pra me divertir, assim como você. Estou comemorando
minha conquista.
- Tu lá tem direito de nada!
Ouça o que estou lhe dizendo. Do jeito você está aqui vai se dar mal. Você
mesma que está pedindo. É o que irá acontecer.
O homem disse isso com um
tom de ameaça e foi embora. Desde aquela hora não o vi mais.
Mais de 4 horas da manhã. A
festa acabou. Fui para o carro com as meninas. Todas entraram. Menos eu. Antes
de entrar, um homem armado me puxou. Me colocou dentro de um carro preto.
Vidros escuros. Advinha quem era. Ele. Isso, ele mesmo. Ele me levou para uma
casa longe de tudo. Não estava só. Tinha mais três homens lá. Me levaram para o
quarto. O que ele tinha dito aconteceu. Quatro homens de uma só vez. Mas não foi minha culpa. Não fiz nada de
errado. Tudo o que eu queria naquele momento era morrer. Estava a acontecer.
Eles não queriam provas. Um tiro. Eu caí no chão. Pouco depois, uma sirene.
Mais tiros. Dessa vez não foi na minha direção. Enquanto isso, eu sangrava no
chão. Agora estou aqui. Deitada. De vez em quando vêm trocar o meu soro. Minha
mãe chora muito. Desculpe, mãe. Estava apenas comemorando. Minha aprovação em
medicina. Esperava salvar vidas. Pelo jeito não vou salvar nem a minha.
Luana Lins
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