sábado, 16 de julho de 2016

Moça, não sou obrigada a ser feminista

Frescura! É frescura sim. Um menino pode passar e você falar da bunda dele pra suas amigas. Mas se ele diz “Psiu!”, a senhora já vai pro Facebook protestar. Ah, me poupe! Deus me livre de uma feminista me ver falando isso. Elas dizem logo: “Se defende é porque gosta.” Ei, querida. Não gosto não. Nenhuma garota gosta. Mas, ao contrário de você, nós ignoramos. Não queremos chamar a atenção. Não nos fazemos de coitadinhas na internet.
Ontem, Juliana e Carol estavam lá em casa. Falando sobre esse papo de feminismo.
- Nós só queremos a igualdade de direitos. Queremos que nos parem de ver como coitadinhas. Não precisamos de um homem para nos defender. Somos tão fortes quanto eles. Podemos nos defender de qualquer coisa. Sozinhas. – disseram elas.
Ligo a TV. Está passando o caso do homem que entrou no quarto da Ana Hickmann. Tentou matá-la.
O suposto fã fez a apresentadora. O cunhado. Sua mulher de reféns. Obrigou os três a se sentarem de costas. Começou a insultá-los. O cunhado levantou-se. Foi em direção ao criminoso. As vitimas saíram correndo do apartamento. Gustavo, cunhado de Ana, entrou em luta corporal. Conseguiu desarmar o agressor.”
- Nossa! Mas que cara machista esse Gustavo. A Ana é que deveria ter entrado em luta corporal. Salvaria todos. – ironizei. E disse mais: Ninguém nunca fala sobre esse peso. Jogado nas costas do homem. O homem só tem privilégios!
Carol percebendo minha ironia, abriu logo o bocão:
- Pelo amor de Deus! Você não percebe que o machismo afeta a todos, inclusive aos homens? Eles têm sempre que ser heróis. Por isso, eu quero igualdade em tudo. E não privilégios. Quero ser respeitada pelo que sou. Pelo que faço. Não pelo que visto.
Não fiquei calada. Rebati:
- Igualdade? Somos seres diferentes. Homem e mulher. Feminismo só serve para quebrar a harmonia. Com falsas palavras cheias de glitter. Temos dois tipos de seres na nossa espécie. Somos diferentes. Temos responsabilidades diferentes. Temos deveres diferentes.
Mas ela não desiste de tentar me levar para o lado feminazi. Disse:
- Então, temos nossos deveres. Vamos cada um escolher os nossos. Não vamos deixar que digam do que somos e não somos capazes. Podemos fazer tudo.
Que menina insistente! Quando coloca uma coisa na cabeça, não tem quem tire. Mas para o azar dela, eu não sou fácil de ser convencida. Virar feminista? Jamais!
- Mulher, acorda! Então, se você pode fazer tudo, trate de se colocar no seu lugar.
Ela não hesitou em perguntar:
- E onde é o meu lugar?
Quis encerrar logo aquele mimimi. Eu já não aguentava mais. Então disse:
- Qualquer lugar. Longe de mim.
Acho que fui um pouco grossa. Carol percebeu. E, antes que a coisa ficasse pior, ela cortou o assunto. Mudou de canal. Levantei. Fui fazer pipoca. Quando voltei, estava passando em um desses canais de fofoca, fotos da primeira-dama do Brasil, Marcela Temer, ao lado do seu esposo Michel Temer.
- Eu acho engraçado como a vida sexual da Dilma parecia algo questionável. Relevante. Inclusive para a mídia. Mas todos tratam com naturalidade um velho nojento e asqueroso que “pega novinha”, né?! Sabe quantos anos ele tinha quando se apaixonou por ela? 62! Isso mesmo. Ela tinha 19. Uma menina ainda. Esse Temer é um ridículo! – disse Juliana, toda revoltada.
Não acredito que ouvi isso. Elas só podem estar me testando. Acabei de sair de uma discussão. Já vou ter que entrar em outra? E o pior de tudo é que Juliana vestia uma blusa. Escrito assim: toda forma de amor é válida. Olhei pra cara dela. Perguntei:
- Você lê o que está escrito em suas roupas antes de comprar?
- Eu estou falando sério! – disse ela.
- Eu também.  Vocês questionam tanto o amor. Dizem não ter cor. Nem sexo. Nem idade. Agora vem com essa. – acrescentei.
Ela se calou por alguns segundos. Pareceu ficar em resposta. Depois de um tempo, ela disse:
- É, pode até ser. Mas olha essa diferença de idade. Ele é praticamente um pedófilo.
Pedófilo??? Novamente, não pude acreditar no que estava ouvindo. É muita asneira para uma pessoa só. Não pude me conter:
- Como assim pedófilo?? 19 anos já é maioridade. Apesar de ser jovem, não significa que ela não sabia o que estava fazendo. Além do mais, os interesses da “menina” de 19 anos em se relacionar com um homem mais velho, melhor remunerado, não passam pela tua cabeça, não?
- Esse é o problema. Ele a comprou. – ela disse.
Cada palavra que saía da boca de Juliana me deixava mais indignada. Como é que essas feministas sempre arrumam um jeito de colocar a culpa nos homens? É incrível!
- Juliana, você é inacreditável. Quanta babaquice! Por que você e suas amigas mimizentas não ficam caladas? Fariam um favor para a humanidade.
Confesso que me exalto um pouco quando me tiram do sério.
Carol ouvindo tudo aquilo, se meteu:
- Ju, desiste! Essa daí é antifeminista roxa. Nem adianta discutir.
- Meninas, eu não sou obrigada a ser feminista! – disse.
Carol até já parecia conformada. Mas Juliana não. Ela estava mesmo disposta. Fazer minha cabeça era seu objetivo. Ela disse:
- Mas a mulher pode ser o que ela quiser. Graças ao feminismo.
Eu, já cheia daquele assunto, fui bem direta:
- Ora. Pois, se eu posso ser o que eu quiser, não sou obrigada a ser feminista, certo?
- Mas... – Juliana já ia rebater. Não deixei. Continuei:
- Eu não pedi para ninguém queimar sutiã por mim, pedi? Nem para colocarem peitos de fora. Muito menos levantar os braços com sovaco peludos, para lutar por uma coisa que eu não preciso. Se eu posso ser o que eu quiser, então respeitem a minha opinião.
Juliana, inconformada, ia dizer algo, mas Carol a impediu.
- Não. Tudo bem. Você está certa. Não vamos mais discutir isso. Não vai dar em nada mesmo. – disse ela.
Pegou a pipoca. Aumentou o volume da TV. Assim, terminamos o dia. Carol conformada. Juliana nem tanto. E eu com dor de cabeça. Nunca ouvi tanto mimimi em um dia só.



 Elainne Priscila

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