quarta-feira, 13 de julho de 2016

Doce

Era minha primeira vez. Nunca tinha ido a uma rave. Tanta gente. Tanta bebida. Eu, um garoto do lar. Do interior. Um “matuto”.
  -- Fala, matuto. Quer beber?
   -- Não, obrigado!
    -- É só um gole, vai.
    -- Não, eu não bebo.
  Ele continuou insistindo. Eu permaneci recusando. Nós éramos da mesma faculdade. Do mesmo curso. Ele me apresentou algumas garotas. Bonitas. Formosas. Elas então me perguntaram:
              -- Você quer um doce?
              -- Um doce?
              -- Sim!
              -- Que tipo de doce?
              -- Um tipo que te deixa feliz, que te enturma.
              -- Então, eu quero!
              Peguei o doce. Era azul. Veio em um saco transparente. Tomei. Tinha um gosto estranho. Um gosto de arco-íris. Já que é pra tomar, tomei. Doce após doce. Bebida após bebida. Depois disso, não sei o que aconteceu. Acordei em um quarto. De um hotel. Ou de um motel? Não sei! Em uma cama com cinco, seis. Sete, talvez! Eram muitas garotas. De todas as cores. Tipos. Sabores.
              Fui pra casa. Tonto. Cansado. Andando como um ser embriagado. Cheguei. Fui direto ao banheiro. Vomitei. Depois, fui para a faculdade.
            Estou mal vestido? Estou fedendo? Não! Acabei de tomar banho. Todos estavam me olhando. Raivosos. Encontrei com o cara. Da noite passada. Me olhou.
              -- O que você está fazendo aqui?
              -- Eu estudo aqui, esqueceu?
              -- Depois do que aconteceu ontem, não pensei que se atreveria.
              -- Ontem?
              Olhei para os lados. Pessoas que nunca tinha visto. Agora nos cercavam. Suas palavras eram como grunhidos. Só pude discernir um. Estuprador.
           Iniciou-se uma perseguição. Frenética. Não sei a razão dessa correria. Mas minha vida está em risco. E não sei o motivo. Ai! Fui atingido por uma pedra. O sangue começou a fluir. Manchando a camisa. Subi em uma moto. Ela estava jogada na rua. Que pessoa desatenta! Esqueceu a chave na ignição. Fugi como o diabo foge da cruz. Larguei a moto no caminho. Cheguei em casa. Fui direto ao computador. Abri o facebook. Encontrei o meu fim.

                          Garoto de 19 anos comete estupro

                          Era minha foto. O sangue congelou.

                          “Ele me drogou e me violentou! ”

                        Eu fiz isso? Não pode ser! A garota me era familiar. Já nos conhecíamos? Acho que não!
                          Mas o que está acontecendo?  Me enganaram? Armaram pra mim? Será? Não pode ser! O doce! Fui pesquisar. Não era um doce. Era uma droga.
                          Que barulho é esse? Corri. Olhei pela janela. Eram mulheres. Um tipo diferente. Rebeldes. Lutadoras. Eram feministas.
                          -- Você é mais um dos monstros machistas!
                          Ela deve ter visto a notícia! Eu não lembro de nada. Pensei em dizer isso. Seria perda de tempo. Elas não entenderiam. Quem está batendo? Será que tentam me matar? Era um policial. Me algemou. Me levou no camburão.
                          Quando me dei conta, estava na prisão. Em uma cela com vários criminosos. Um deles começou a dizer:
                          -- Carne nova no pedaço!
                          -- Me deixem em paz!
                          -- Um estuprador querendo paz? Hahahaha.
                          -- Eu não sou um estuprador.
                          -- Claro que não!
                          Eles começaram a me cercar. Olhares malignos. Famintos.
                          -- O que estão fazendo?
                          -- Você vai provar do próprio veneno!
                          Mais perto. Cada vez mais perto. Eles me encurralam. Será o meu fim? E tudo ao meu redor escurece.

Victor Xavier




Nenhum comentário:

Postar um comentário