segunda-feira, 11 de julho de 2016

Da Guerra



Não sou da guerra. Não sou. Prefiro ficar em casa. Ao invés de ir me alistar. Quando dezoito completar. Ir pro Exército, pra quê? Não vou aguentar receber mais ordens. Já basta o mau-humor da minha mãe. Não adianta insistir. Prefiro pagar uma multa. Muitas pessoas vão pro Exército. E enriquecem as empresas funerárias. Vou nada. Isso não é pra mim. Não sei por que minha mãe quer que eu vá. Meu pai diz que é obrigatório. Que não vou arrumar emprego. Tô nem aí. Quero ver eles me obrigarem. Não vou mesmo. Obrigatório uma ova. Jogar em um videogame. Um daqueles jogos de guerra. Muito melhor do que viver aquilo. Coisa pra doido. Fui um dia desses pro interior. Vi um bocado de soldados. Fazendo trabalho de jardineiro. Como pode isso? Ah, agora entendi aquele cartaz. “Sirva Seu País”. Servir o país é arrancar grama? Não tente fazer com que eu mude de ideia. Gosto da minha casa. Da minha família. Odeio guerra. O Rodrigo, meu vizinho, que o diga. Se alistou. Lá dentro foi assediado. Por um sargento gay. Deus me livre. Virar namoradinha de um sargento? Quero nada. Já tenho namorada. Ontem mesmo encontrei Rodrigo. Lá na praça. Ele queria me convencer. Fazer com que eu me alistasse.
            -Se aliste, rapaz. Você vai adorar!!!!!!!!!! Posso ligar para o sargento. Ele pode até arrumar uma promoção para você.
            -Mas isso vai depender de quê? O que tenho que fazer?
            -Coisa pouca. Só umas noites na barraca dele.
            -Não sou desses. Dispenso. Vá você.
            -Já fui! Olhe pra mim. Veja o quanto fui beneficiado. Frequento locais chiques. Já comprei um apartamento. Tudo isso ganhei fazendo o que ele queria.
            -Não. Não vou. Melhor ficar em casa.
            -Mas pagando bem, que mal tem?
            -Mesmo assim. Não vou. Não dou valor. Nem por todo dinheiro do mundo. Para mim, Exército é coisa para loucos.
            -Lembre-se de Leonor. O seu amor. Com o dinheiro que vai ganhar, você pode ir para lugares paradisíacos. Com ela. E deixar o sargentão pra lá. Logo outro ele vai arranjar.
            -Não adianta tentar me convencer. Já tenho minha opinião formada.
            Saí dali furioso. Onde já se viu? Não quero me alistar. E pronto. Fernando, o meu tio, era do exército. Morreu em batalha. Vivia dizendo para o meu pai me colocar em um grupo. Militar. Aqueles que ensinam coisas que se aprende na TV. Militarismo, pra quê? Vamos viver. Namorar. Curtir a vida. E não ficar fazendo guerra. Não quero acabar trancado em um quarto. Com aquele sargentão afeminado. Jamais. Guerra só traz mais guerra.

Danilo Micaías

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