Só pode namorar depois dos 15
anos. Não namore muitas vezes, vai acabar ficando falada. Emagreça mais, assim
ninguém vai te querer. Lembre-se! Não passe dos limites da bebida. SEXO SÓ
DEPOIS DO CASAMENTO. Nem pense em “se tocar” isso é coisa do demônio. Alise seu
cabelo. Tenho certeza de que vai ficar mais bonita. Vista roupas mais
compostas! Que tipo de short é esse? E essa saia, mostrando tudo? Isso é um
vestido? Parece uma blusa de tão curto.
Qual
a mulher que nunca ouviu no mínimo uma dessas frases? Tenho 18 anos e já tive o
desprazer de ouvir cada uma delas. Seguidas de um belo sermão sobre “como ser
uma mulher direita”. Nunca quis ser desse tipo. Que escuta tudo calada. Que faz
o que mandam e jamais o que sente vontade. Sempre fui chamada de “puta”,
“rodada”, “desbocada”. E sinceramente, eu levava como lindos elogios. Nunca me
abati. Nunca cansei de ser quem eu queria ser.
Com
12 anos, primeiro namorado. O primeiro de muitos até hoje. Meu primeiro porre
foi aso 15. Na festa de aniversário de uma amiga. Com 16 perdi minha virgindade.
Com um amigo do meu pai, que era 14 anos mais velho que eu. Meus pais
descobriram. Fizeram-me várias perguntas. Muitas ofensas. E uma quase expulsão
de casa. Me tornei a vergonha da família. Meus pais eram evangélicos. Mas eu
ainda questionava a existência desse “Deus que tudo pode”.
Uma
simples menina de 16 anos estaria abatida com a situação. Mas eu não. Pra mim,
isso não passava da opinião de pessoas do século passado. Pessoas que não
entendem que a vida é muito curta pra ser pequena. Pessoas que vivem pra provar
pra sociedade que seguem seus padrões ridículos. Mas, se eu posso ser quem eu
quiser, por que eu iria tentar ser só mais uma “bela, recatada e do lar”?
25/05/2015.
Meu aniversário de 17 anos. Meus pais me liberaram pra ir a uma festa. Marquei
com duas amigas. Era pra ser a noite perfeita. Assim, que chegamos, percebi um
garoto me olhando. Meu ex-namorado. Passamos várias horas conversando. Ele me
pagou duas bebidas. Não me pergunte o que aconteceu no resto daquela noite. Eu
não sei. Acordei no outro dia. Em uma praça. Quase nua. Só conseguia pensar em
como voltar pra casa. Machucada. Dolorida. Com o corpo cheio de marcas.
Consegui ajuda de uma mulher que passava na rua, de carro. Cheguei. Meus pais
preocupados. Me levaram ao médico. Estuprada. Mas, como assim? Por quem? Não
quero acreditar que meu ex fez isso comigo! Não pode ser! Mas foi. No final da
tarde. Me mostraram o vídeo que fizeram comigo, enquanto eu estava desacordada.
Caralho! 10 homens! Eu fui estuprada por 10 idiotas e ainda fui exposta desse
jeito na internet? Nunca mais saio de casa! Eu pensava que minha vida tinha
acabado naquele momento. Pensei em me matar. Em fugir. Mas meus pais ”e fizeram
ficar. Conseguiram prender todos os 10 ridículos.
Na
prisão, os outros detentos se revoltaram com a história. 4 foram mortos. Os
outros 6 foram estuprados. Da mesma forma que fizeram comigo.
Desde
aquele dia, minha vida se encheu de remédios, psicólogos, médicos. Hoje, um ano
depois, melhorei física, emocional e psicologicamente. Mas minha revolta ainda
não saiu de mim. Até hoje me pergunto. Por que as mulheres não podem sair à
noite com a roupa que sentirem vontade? Beber o quanto quiserem, sem medo? Nós
temos que aproveitar a vida livremente. Sem ter que se preocupar se algum idiota
irá se aproveitar se nós. O que mais me deixou indignada foram os comentários
que fizeram sobre o assunto do meu estupro. “A culpa foi dela. Mulher não pode
sair e beber muito. Tem que manter o controle! ”.
Ei,
machista! Mulher pode sim! Mulher pode fazer o que ela quiser! Se eu quiser ser
puta, me deixe ser! Se eu quiser vestir vestidos curtos, me deixe vestir! A
vida é minha e igual a todos, eu tenho direito. Não sou melhor ou pior que
algum homem, nem que alguma mulher recatada. Sou puta. Sou santa. Sou minha.
Sou mulher. Independente de como eu estiver, eu não mereço ser estuprada. Não
quero ser melhor que ninguém. Só quero ser livre.
Lorena Beatriz
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