
- E quando seus pais morrerem? – perguntou Júlio.
Eles é que deixem pensão. Tão achando que vou sair de
casa. Nunca! Nem pensem que vou procurar emprego. Entregar currículo. No sol
quente. Vou não. Daqui não saio. Daqui ninguém me tira. Não troco meu sossego
por um salário miserável. Sem contar ser mandado por um patrão abusado. Não
irei aguentar. Receber ordens? Nunca.
Eu não irei a lugar nenhum. Não movo uma palha. Trabalhar
pra quê? Quando morrer, nem riqueza levarei. Por isso aproveito o momento.
Carpe diem. E meu pai? Trabalhou 30 anos por uma aposentadoria. Mal dá pra pagar
os remédios. Pra feira? Nenhum centavo. Mas que bosta! Nunca que irei trabalhar
30 anos. Estou fora. Virar escravo dos outros. Nunca na minha vida.
- E quando começar a namorar? Pra sair com a namorada?
Com que dinheiro a levará ao cinema? E pra casar? Não terá festa? E os filhos?
O que terá para oferecer-lhes? Seu pai é um pé rapado. Nem conte com ele.
Comigo também não.
- Se preocupe não, mãe. Tratarei de arrumar uma “coroa”
que tenha dinheiro.
- E qual mulher quer um pé rapado como você?
- Não importa. Se uma não quiser, arranjo outra. Há tanta
coroa por aí querendo gastar. Curtir. Arrumarei uma bem rica que more em Ponta
Negra. Que ande de Mercedes. Mulher pra mim não faltará. Quem dispensará um
negrão como eu? Hein? Gostosão! Qualidades não me faltam. Minha vida será só
curtição.
- Meu filho, o trabalho dignifica o homem.
Isso é o que o povo diz. Se trabalhar dignificasse o
homem, os políticos não roubavam. Se trabalhar fosse bom, jumento vivia bem. Eu
não vou trabalhar. Ah, não vou! Dispenso.
Everton Luís
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