terça-feira, 12 de julho de 2016

Trabalhar pra quê?

Não vou. Não quero. Nem pensar. Estou fora. É melhor ficar em casa. Jogar vídeo game. Acordar cedo. Pegar ônibus lotado? Jamais. Isso é para os fracos. Eu é que não vou. Não quero. Pra que trabalhar? Prefiro comer e dormir. Comer e dormir. Na casa de mamãe, tenho tudo. Tudo. Não preciso me matar de trabalhar. Por um salário. Deus que me livre. Sou mais jogar bola. Enquanto o povo trabalha, eu aproveito a vida.
 - E quando seus pais morrerem? – perguntou Júlio.
            Eles é que deixem pensão. Tão achando que vou sair de casa. Nunca! Nem pensem que vou procurar emprego. Entregar currículo. No sol quente. Vou não. Daqui não saio. Daqui ninguém me tira. Não troco meu sossego por um salário miserável. Sem contar ser mandado por um patrão abusado. Não irei aguentar. Receber ordens? Nunca.
            Eu não irei a lugar nenhum. Não movo uma palha. Trabalhar pra quê? Quando morrer, nem riqueza levarei. Por isso aproveito o momento. Carpe diem. E meu pai? Trabalhou 30 anos por uma aposentadoria. Mal dá pra pagar os remédios. Pra feira? Nenhum centavo. Mas que bosta! Nunca que irei trabalhar 30 anos. Estou fora. Virar escravo dos outros. Nunca na minha vida.
            - E quando começar a namorar? Pra sair com a namorada? Com que dinheiro a levará ao cinema? E pra casar? Não terá festa? E os filhos? O que terá para oferecer-lhes? Seu pai é um pé rapado. Nem conte com ele. Comigo também não.
            - Se preocupe não, mãe. Tratarei de arrumar uma “coroa” que tenha dinheiro.
            - E qual mulher quer um pé rapado como você?
            - Não importa. Se uma não quiser, arranjo outra. Há tanta coroa por aí querendo gastar. Curtir. Arrumarei uma bem rica que more em Ponta Negra. Que ande de Mercedes. Mulher pra mim não faltará. Quem dispensará um negrão como eu? Hein? Gostosão! Qualidades não me faltam. Minha vida será só curtição.
            - Meu filho, o trabalho dignifica o homem.

            Isso é o que o povo diz. Se trabalhar dignificasse o homem, os políticos não roubavam. Se trabalhar fosse bom, jumento vivia bem. Eu não vou trabalhar. Ah, não vou! Dispenso. 

Everton Luís

Nenhum comentário:

Postar um comentário