domingo, 22 de fevereiro de 2015

O gol trocado

        — Cara, onde você está?
        — Estou saindo de casa, espera um pouco mais.
        — O jogo já vai começar. Se você não chegar logo, começaremos sem você.
            Desligou o telefone.
Terminei de calçar meu tênis e saí correndo de casa. Estava totalmente atrasado. Que diferença faria chegar atrasado ou não? Não seria titular mesmo, só me apressei porque sabia que os boys eram chatos quando o assunto era horário.
O ginásio estava lotado. Nunca pensei que fosse ver tantos alunos juntos para assistir a uma partida de futsal. De um lado da arquibancada, a torcida azul entoava o seu grito de guerra:
“Uh, é Informática! Uh, é Informática! “.
Do outro lado, a torcida vermelha devolvia:
“Uh, sai do chão, EDIFICA é tradiçããão!”.
De certa forma, ver aqueles alunos, dos dois cursos mais rivais do campus São Gonçalo do Amarante fazendo todo o ginásio tremer, me deu um friozinho na barriga.
Os jogadores do time de Informática já estavam se aquecendo no canto da quadra. Minha sorte foi o juiz ter se atrasado para fazer o sorteio das equipes.
— Pensei que você não vinha hoje! – disse Allan, meu amigo e colega de curso em Informática, aparentemente mais aliviado com minha chegada.
— Não tenho culpa se não é da minha natureza acordar cedo.
— Tá, tá... Agora deixe de enrolação e comece a se aquecer.
O jogo começou. E, para minha surpresa, adivinha só... Reserva! Como se não bastasse ter acordado às dez horas da madrugada, ainda me acertaram com a bola bem no centro do rosto.
— Você está bem?
— Claro que estou. Até porque... quem não adoraria levar uma bolada bem no meio da cara a essa hora da manhã?
Acabou o primeiro tempo do jogo e nós perdíamos por 1x0 para o time de Edificações. Não que eu ligasse para perder ou ganhar – eu não estava nem aí para o jogo. Meu rosto estava inchando e cada vez mais vermelho. Só você vendo a situação!
O segundo tempo era a minha chance de entrar no jogo. Todos já tinham jogado, só eu não tinha entrado em quadra. Mas eis que apareceu o nosso professor de Eletrônica: Chibério, um nanico que mal chegava a seu 1 metro de altura.
— Quem é o técnico de vocês?
— Não temos técnico! – respondeu Bruno, um outro boy do time de Informática, meio preocupado com o jogo.
O Chibério assumiu a função ausente até então.

*

Um chute a gol.
— Não deixa ele chutar, porra!
— Vai atrás da bola, caramba!
— Chuta pra fora, Tiago!
— Olha o ladrão, Elton!
— Marca, marca, marca...

*

Um gol perdido na cara do goleiro.
— Esse Tiago é um perna-de-pau mesmo!
— Volta para ajudar na zaga, Tiago.
— Esse Tiago não joga nada – disse o nanico que agora era o nosso técnico – Quem de vocês joga melhor do que ele?
— Agora eu entro...
Mas Daniel não contou conversa, saltou da arquibancada e assumiu a posição de Tiago. Pronto! Não jogo mais.
Já estava me conformando com a ideia de que não jogaria, quando Daniel tocou para Allan, que marcou um golaço. A torcida foi ao delírio:
— “Uh, é Informáticaaa! Uh, é Informáticaaaa! “.
Enfim, o Chibério me colocou no jogo.
— Temos pouco tempo para virar o jogo, foque no gol!
- Agora sim, eu entro e arraso! Vou meter  meu gol!
Passei fácil pelo primeiro. O segundo foi mais fácil ainda. O terceiro levou entre as pernas. Moleza. Goleiro para um lado e bola para o outro. Golaço!!!
Todo o ginásio ficou em silêncio. Em seguida, veio a  comemoração:
— Uh, sai do chão! EDIFICA é tradiçããão!
A torcida adversária estremeceu.
Soou o apito do juiz.


Breno Silva

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