segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

O caráter inválido


Sempre ouvi de todos à minha volta o quão é importante e socialmente correto respeitar os mais velhos ou inválidos.  Principalmente, aqueles que trabalharam duro a vida inteira para que pudessem desfrutar do direito à aposentaria no final das contas.
Acontece que, esses dias, eu me deparei com uma notícia capaz de abalar as estruturas de qualquer ser pensante. Tão “destruidora mesmo” que, se eu fosse um gorducho gozando de muita saúde, ex-apresentador de um famoso e ridículo telejornal natalense (não mais ridículo que o próprio apresentador, tenho que concordar) e no fim do mandato como deputado federal, talvez eu conseguisse me aposentar por invalidez.
Qualquer semelhança não é mera coincidência. E o caso é que a notícia foi justamente essa. Sim, você também está ou ficou abalado, não é?! Se a resposta for sim, prossiga, no entanto, se achou algo natural, me desculpe, mas acho melhor você parar por aqui. O gordinho não só se aposentou por invalidez (como a doença que motivou a aposentadoria não foi divulgada, permitam-me acreditar que acharam uma quantidade muito inferior de massa encefálica nesse ser de admirável intelectualidade), mas também ganhou como bônus, pelo seu árduo trabalho e serviços prestados a todos os norte-rio-grandenses, um plano de saúde vitalício. Sugiro que segure as pontas, meu camarada, pois, se você for um cidadão comum, as coisas serão um pouco mais difíceis para o seu lado. Conseguir a aposentadoria em tempo recorde? Esqueça. Por invalidez? Só se você estiver tetraplégico e em coma induzido. Mas, mesmo assim, ainda não terá o privilégio de receber o milagre da cura.  Milagre? Sim, isso mesmo. Dias após o deputado ter sido considerado inválido para o árduo serviço público, circularam pelas redes sociais vídeos e fotos do cara de barriga grande e cérebro pequeno andando de quadriciclo e se divertindo à beça. Não se tem certeza sobre as datas das imagens, apenas que a doença não se trata de invalidez, mas de incompetência.
Acho mesmo que quem deveria aposentar Paulo Wagner e José Agripino, por exemplo, deveria ser a própria sociedade natalense, da mesma forma que fez com Micarla, Rosalba, Henriquinho e W(V)ilma. O nosso querido deputado é só mais um a quem permitimos ocupar um lugar no celeiro de Brasília.
A coisa é tão absurda que eles nem disfarçam mais. Brincam com o senso de ridículo na cara dura, nos camarotes, nas praias, nas boates, na TV. Tem gente que vê e ainda pensa “Ah, coitadinhos. Têm que se divertir mesmo. Trabalham tanto!”. Me permitam fazer uso da ironia (vai que algum desses está lendo e não entende, né?!): o trabalho duro deles é tão grande quanto o salário.
Vale lembrar que eu desejo imensamente a aposentadoria de inválidos como Paulo Wagner. Daquelas em que se vai para nunca mais voltar e ninguém ouve mais nem falar, porque, de inválido mesmo, só o caráter. 


Larissa Araújo 


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