segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Muito mais que simples panos

Se tem uma coisa que faz um indivíduo ficar nos trinques e todo cheio de charme, é uma boa roupa. Não há nada mais cool e transado que sair por aí desfilando e expondo o pedaço de pano da moda. Super fashion. Te garanto que até ajuda a disfarçar alguns defeitos físicos. Porque, afinal, uma boa roupa pode disfarçar as piores deformações, melhor ainda se ela for caríssima! Você já tem passe garantido pro sucesso. Cara, você pode até descolar um parceiro. Tá aí, até sorte no amor a escolha certa da roupa pode te proporcionar.
Mas quanto mais caro melhor, claro. Ninguém quer andar por aí vestindo as últimas tendências da Riachuelo. Eca, que nojo! Você tem que ostentar Louis Vuitton, Prada, Chanel. Custa caríssimo, porém é preciso, sacou?
Semana passada fiz uma visita ao shopping mais badalado de Natal, Midway Mall, e vi um grupo de amigas passando em frente à C&A. Uma delas tinha alergia a muito pobre junto comprando roupa em promoção. Resultado: desmaiou. Só vi a correria do povo saindo da loja e indo acudir a coitada. Cada vez que ela melhorava e tentava levantar, se deparava com alguém tumultuando ao seu redor. Porque pobre é assim: não pode ver uma aglomeração de pessoas que já vai atrás pra saber o que é. Era tanto pobre e tanta sacola de plástico cheia de roupa em promoção, que a coitada levou quase uma hora pra acordar. Por isso não é muito indicado sair por aí com roupa de liquidação, tem muita gente com alergia, você não vai querer ser o responsável pela enfermidade de uma delas.
Tem gente que prefere comprar e ficar calado. Mas eu? Imagina! Compro uma peça exclusiva da Chanel e saio por aí dizendo à geral. É aquela história: se você paga o dinheiro da burra em um Iphone, nunca vai se referir a ele como celular. Você comprou um Iphone, não um celular. Com sua blusa é a mesma coisa. Vá na casa de suas amigas, finja que perdeu e depois saia gritando (o mais alto que puder, óbvio) “Quem viu minha Chanel?”. Mas se você não faz o estilo exibicionista, te dou uma dica bem bacana: tem aquelas peças magníficas que apresentam o nome da marca estampada na frente. Um bom exemplo são as camisas da Hollister. Pra você, podem ser muito simples, básicas demais. Resumem-se em um tecido comum com as letras da marca agarradas na frente. Mas esse é o diferencial. Não é uma básica qualquer! Ela apresenta o nome da marca na frente! Não é legal? Acho o máximo, já que deixa qualquer um diferente. Você não está usando uma básica qualquer! Pelo contrário, está tendo a oportunidade de andar na rua com a marca estampada, indicando que você é bacana demais para usá-la. A marca está lucrando em cima de você que se encontra vestida no meio da multidão. Pagar mais caro por uma camisa que tem o nome da marca na frente é essencial. Além de benefícios pessoais, você ajuda a engordar as contas da empresa. E ajudar o próximo é algo que todo mundo bacana faz.

Ontem eu estava estreando meu blazer rosa bebê da Prada, exclusivíssimo, quando vi uma menina se aproximando. Afastei um pouco quando vi que ela ia tocar na minha peça preciosíssima. Pensei que ia comentar sobre como eu fico bonita com essa roupa, ou como a grife arrasou na nova coleção. Mas não. Ela me pediu comida e eu fiquei sem reação. Comovida pelo apelo, achei que poderia lhe dar algo de maior importância, que a fizesse feliz por mais de cinco minutos (tempo que, provavelmente, comeria), algo essencial. Tirei meu blazer e dei a ela. Esperei o precioso momento que ela iria me agradecer e chorar.  Já estava imaginando a cara das minhas amigas quando eu contasse minha boa ação. Mas esse momento não chegou. Ela apenas jogou meu casaquinho no chão! No chão! Quem recusa um presente desse não deve entender nada de moda, pois está na cara que é melhor uma peça de uma grife famosa que um prato de comida. Essa garotinha ia arrasar entre as coleguinhas famintas. Ainda por cima meu blazer ficou sujo de graxa, quase não saía, tive que buscar ajuda nos tutoriais sobre como tirar graxa da sua peça exclusiva da Prada. O jeito foi comprar tinta de colorir roupa e pintá-la toda de marrom. Achei superbrega e fugia dos meus princípios. Se alguém descobrisse que fiz isso em vez de jogar no lixo, eu seria tachada de pobre. Mas você não precisa espalhar pra ninguém. Afinal, vale tudo. Só não vale sair de moda.

Clara Paiva

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