
Celo,
um rapper que não é lá essas coisas, crítico
e superpolitizado, também tinha a mesma visão sobre o IF e esperava
ansiosamente entrar na escola e conhecer um monte de gente parecida com ele:
que gostava de discutir política, participar e se envolver. Daí ele fez a
prova, esperou o resultado e...
“EU
PASSEI, EU PASSEI!”
(Não, ele não postou isso no Facebook, preferiu fazer um rapzinho)
“Mano Celo, um rapper animal
Fiz a prova do IF
E agora sou federal
Não vou mais precisar ouvir
Ninguém falando de Carnatal”
Quando as aulas finalmente
começaram e, depois que ele já estava enturmado, Mano Celo foi estranhando
alguns comportamentos dos alunos e constatando algumas coisinhas:
1. Essa
história de que no IF só tem gente estudiosa... Pense numa mentira!
“Mano, eu vou confessar que tô meio
decepcionado, viu?! Na minha sala tem um monte de peso morto que fica gastando
dinheiro público e não faz nada dentro da escola. Como é que pode isso? Um
monte de mano responsa querendo entrar e botar pra quebrar, dar o melhor de si
e fica uma galera de vacilação!”
2. Politização:
Mano Celo pensou que essa palavra, usada como adjetivo para os alunos do IF-SGA,
era quase que em sentido figurado, ironia... Algo do tipo!
“Sem condições, né, mano?! A escola oferece
uma ruma de espaço de atuação pros alunos construírem um câmpus cada vez melhor,
e a galera não aproveita! Tão nem aí... Tá certo que o Grêmio não é lá essas
coisas, mas o que custa cobrar e participar das assembleias, prestar atenção
nas propostas, ir aos debates? A maioria vota por amizade... Sem falar, nos que
vão pra fila votar e nem sabem quem tá concorrendo. E no dia de Gabinete
Itinerante, que é quando o reitor vem visitar a escola e traz uma equipe pra
ouvir os alunos, que a maioria vai embora? Tem uns que ficam pra aparecer nas
fotos e fingir que participou, mas
reclamar, todo mundo sabe muito bem!”
3. Respeito:
outra coisa que tá em falta por aqui. Sabe aquela frase “Tem, mas tá faltando!”? Então... sempre tem as exceções, mas pelo
jeito que o Celo ouvia falar, parecia que isso era a regra.
“Sabe, às vezes eu fico me perguntando se na
ficha de inscrição de algumas pessoas tem o requisito “sem noção” e parece que,
só de marcar como afirmativo, o povo consegue a vaga. Vou falar pra vocês: respeito
é uma coisa que serve pra todas as coisas, mas aqui o povo não pratica o
mínimo. Jogam lixo pelos corredores, na grama, deixam luzes acesas, torneiras
abertas, sentam nas mesas... Se esse é o nosso exemplo de boa conduta, tudo
está perdido!”
4. Assim
como os demais alunos, Mano Celo sempre voltava de ônibus pra casa e, depois
que ele achou que nada mais poderia surpreendê-lo...
“Mano, eu fiquei puto! Lá vinha o ônibus e
tinha uma multidão na parada, daí umas quatro “pessoas” começaram a ir pra
frente do ônibus para fazê-lo parar. Como assim, meu?! Eu quase não acredito...
Sem falar que todo mundo resolveu correr, passar por cima, atropelar pra entrar
antes no busão. A galera aqui é tão fodasticamente evoluída que fazer fila é
coisa ultrapassada! E nem tinha acabado por aí, viu?! Depois que geral entrou
no ônibus, começou o Apocalipse Zumbi parte 2: uns, que não sabiam respeitar as
outras pessoas do busão, começaram a cantar (gritar e relinchar podem ser
usados como sinônimos nesse caso). Disfarçadamente, tirei o casaco da mochila e
vesti. Não, não estava com frio. Desse dia em diante, sempre que terminavam as
aulas, eu ia ao banheiro vestir uma camisa normal”.
5. A
última coisa eleita para ser relatada aqui é sobre dois episódios com comida.
Um é o oposto do outro.
“Uma das coisas que eu mais acho legal aqui no IF é a parte de
assistência pro estudante. Mano, eles fazem de tudo pro cara permanecer na
escola, mas é claro que os recursos não são suficientes pra todos. Por exemplo,
outro dia eu tava na fila do almoço e vi uns vacilão furando fila, na maior
cara dura. O que custa fazer como todo mundo e esperar sua vez? Beleza que você
quer comer, mas todo mundo quer e tá esperando também. Fiquei pouco irado! Aí
outro dia, a gente tava no refeitório e começaram a fazer uma guerrinha de
comida, fazendo “empilhamento” de casca de banana e outras coisas. Me senti
muito envergonhado, velho.”
Depois de passar por todas
essas experiências, o Mano não poderia deixar de fazer um rap, né?!
“Eu quero ser diferente
Eu
quero fazer valer
Colocar
a mão na massa
E
ver a mudança acontecer
Não
quero ser como esse povo
Que
só sabe reclamar
Reclama,
reclama
E
não faz nada pra mudar
Mesmo
desanimado
Eu
não vou desistir
Vou
participar
Ser
exemplo a seguir
Tudo
que acontece na escola
Vai
pro resto do país
Não
fale da conduta dos políticos
Quando
a sua está por um tris
E
pra quem está lendo
Eu
deixo um recado:
Saia
dos corredores
Não
fique aí parado!”
Larissa Araújo
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