segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Mano Celo e os mitos do IFRN-SGA

IFRN, escola modelo. A queridinha entre as escolas de ensino médio de Natal, cujos alunos são famosos pela dedicação, comprometimento, politização, cultura e motivo de orgulho para os pais e para a cidade. Todo fim de ano há sempre uma movimentação em torno do exame de admissão para a instituição. Alunos de escolas públicas e particulares concorrem a uma vaga para algum curso que desejam, não importa se gostam da área, o importante é estudar no IFRN. Entre todos os câmpus e alunos, escolhemos São Gonçalo e o universo de Marcelo Maurício ou, carinhosamente, Mano Celo, para escrever esta crônica.
Celo, um rapper que não é lá essas coisas, crítico e superpolitizado, também tinha a mesma visão sobre o IF e esperava ansiosamente entrar na escola e conhecer um monte de gente parecida com ele: que gostava de discutir política, participar e se envolver. Daí ele fez a prova, esperou o resultado e... 

“EU PASSEI, EU PASSEI!”

 (Não, ele não postou isso no Facebook, preferiu fazer um rapzinho)

Mano Celo, um rapper animal
Fiz a prova do IF
E agora sou federal
Não vou mais precisar ouvir
Ninguém falando de Carnatal”


Quando as aulas finalmente começaram e, depois que ele já estava enturmado, Mano Celo foi estranhando alguns comportamentos dos alunos e constatando algumas coisinhas:

1.   Essa história de que no IF só tem gente estudiosa... Pense numa mentira!

Mano, eu vou confessar que tô meio decepcionado, viu?! Na minha sala tem um monte de peso morto que fica gastando dinheiro público e não faz nada dentro da escola. Como é que pode isso? Um monte de mano responsa querendo entrar e botar pra quebrar, dar o melhor de si e fica uma galera de vacilação!”

2.   Politização: Mano Celo pensou que essa palavra, usada como adjetivo para os alunos do IF-SGA, era quase que em sentido figurado, ironia... Algo do tipo!

Sem condições, né, mano?! A escola oferece uma ruma de espaço de atuação pros alunos construírem um câmpus cada vez melhor, e a galera não aproveita! Tão nem aí... Tá certo que o Grêmio não é lá essas coisas, mas o que custa cobrar e participar das assembleias, prestar atenção nas propostas, ir aos debates? A maioria vota por amizade... Sem falar, nos que vão pra fila votar e nem sabem quem tá concorrendo. E no dia de Gabinete Itinerante, que é quando o reitor vem visitar a escola e traz uma equipe pra ouvir os alunos, que a maioria vai embora? Tem uns que ficam pra aparecer nas fotos e fingir  que participou, mas reclamar, todo mundo sabe muito bem!”

3.   Respeito: outra coisa que tá em falta por aqui. Sabe aquela frase “Tem, mas tá faltando!”? Então... sempre tem as exceções, mas pelo jeito que o Celo ouvia falar, parecia que isso era a regra.

Sabe, às vezes eu fico me perguntando se na ficha de inscrição de algumas pessoas tem o requisito “sem noção” e parece que, só de marcar como afirmativo, o povo consegue a vaga. Vou falar pra vocês: respeito é uma coisa que serve pra todas as coisas, mas aqui o povo não pratica o mínimo. Jogam lixo pelos corredores, na grama, deixam luzes acesas, torneiras abertas, sentam nas mesas... Se esse é o nosso exemplo de boa conduta, tudo está perdido!

4.   Assim como os demais alunos, Mano Celo sempre voltava de ônibus pra casa e, depois que ele achou que nada mais poderia surpreendê-lo...

Mano, eu fiquei puto! Lá vinha o ônibus e tinha uma multidão na parada, daí umas quatro “pessoas” começaram a ir pra frente do ônibus para fazê-lo parar. Como assim, meu?! Eu quase não acredito... Sem falar que todo mundo resolveu correr, passar por cima, atropelar pra entrar antes no busão. A galera aqui é tão fodasticamente evoluída que fazer fila é coisa ultrapassada! E nem tinha acabado por aí, viu?! Depois que geral entrou no ônibus, começou o Apocalipse Zumbi parte 2: uns, que não sabiam respeitar as outras pessoas do busão, começaram a cantar (gritar e relinchar podem ser usados como sinônimos nesse caso). Disfarçadamente, tirei o casaco da mochila e vesti. Não, não estava com frio. Desse dia em diante, sempre que terminavam as aulas, eu ia ao banheiro vestir uma camisa normal”.

5.   A última coisa eleita para ser relatada aqui é sobre dois episódios com comida. Um é o oposto do outro.

Uma das coisas que eu mais acho legal aqui no IF é a parte de assistência pro estudante. Mano, eles fazem de tudo pro cara permanecer na escola, mas é claro que os recursos não são suficientes pra todos. Por exemplo, outro dia eu tava na fila do almoço e vi uns vacilão furando fila, na maior cara dura. O que custa fazer como todo mundo e esperar sua vez? Beleza que você quer comer, mas todo mundo quer e tá esperando também. Fiquei pouco irado! Aí outro dia, a gente tava no refeitório e começaram a fazer uma guerrinha de comida, fazendo “empilhamento” de casca de banana e outras coisas. Me senti muito envergonhado, velho.”
Depois de passar por todas essas experiências, o Mano não poderia deixar de fazer um rap, né?!

Eu quero ser diferente
Eu quero fazer valer
Colocar a mão na massa
E ver a mudança acontecer

Não quero ser como esse povo
Que só sabe reclamar
Reclama, reclama
E não faz nada pra mudar

Mesmo desanimado
Eu não vou desistir
Vou participar
Ser exemplo a seguir

Tudo que acontece na escola
Vai pro resto do país
Não fale da conduta dos políticos
Quando a sua está por um tris

E pra quem está lendo
Eu deixo um recado:
Saia dos corredores

Não fique aí parado!”


Larissa Araújo

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