— Cara, onde você está?
— Estou saindo de casa, espera um pouco mais.
— O
jogo já vai começar. Se você não chegar logo, começaremos sem você.
Desligou
o telefone.
Terminei de calçar meu tênis
e saí correndo de casa. Estava totalmente atrasado. Que diferença faria chegar
atrasado ou não? Não seria titular mesmo, só me apressei porque sabia que os
boys eram chatos quando o assunto era horário.
O ginásio estava lotado. Nunca
pensei que fosse ver tantos alunos juntos para assistir a uma partida de
futsal. De um lado da arquibancada, a torcida azul entoava o seu grito de
guerra:
“Uh, é Informática! Uh, é Informática!
“.
Do outro lado, a torcida
vermelha devolvia:
“Uh, sai do chão, EDIFICA é
tradiçããão!”.
De certa forma, ver aqueles
alunos, dos dois cursos mais rivais do campus
São Gonçalo do Amarante fazendo todo o
ginásio tremer, me deu um friozinho na barriga.
Os jogadores do time de Informática
já estavam se aquecendo no canto da quadra. Minha sorte foi o juiz ter se
atrasado para fazer o sorteio das equipes.
— Pensei que você não vinha
hoje! – disse Allan, meu amigo e colega de curso em Informática, aparentemente
mais aliviado com minha chegada.
— Não tenho culpa se não é
da minha natureza acordar cedo.
— Tá, tá... Agora deixe de enrolação
e comece a se aquecer.
O jogo começou. E, para
minha surpresa, adivinha só... Reserva! Como se não bastasse ter acordado às dez
horas da madrugada, ainda me acertaram com a bola bem no centro do rosto.
— Você está bem?
— Claro que estou. Até porque...
quem não adoraria levar uma bolada bem no meio da cara a essa hora da manhã?
Acabou o primeiro tempo do
jogo e nós perdíamos por 1x0 para o time de Edificações. Não que eu ligasse
para perder ou ganhar – eu não estava nem aí para o jogo. Meu rosto estava
inchando e cada vez mais vermelho. Só você vendo a situação!
O segundo tempo era a minha
chance de entrar no jogo. Todos já tinham jogado, só eu não tinha entrado em quadra.
Mas eis que apareceu o nosso professor de Eletrônica: Chibério, um nanico que
mal chegava a seu 1 metro de altura.
— Quem é o técnico de vocês?
— Não temos técnico! –
respondeu Bruno, um outro boy do time de Informática,
meio preocupado com o jogo.
O Chibério assumiu a função
ausente até então.
*
Um chute a gol.
— Não deixa ele chutar, porra!
— Vai atrás da bola,
caramba!
— Chuta pra fora, Tiago!
— Olha o ladrão, Elton!
— Marca, marca, marca...
*
Um gol perdido na cara do
goleiro.
— Esse Tiago é um perna-de-pau
mesmo!
— Volta para ajudar na zaga,
Tiago.
— Esse Tiago não joga nada –
disse o nanico que agora era o nosso técnico – Quem de vocês joga melhor do que
ele?
— Agora eu entro...
Mas Daniel não contou conversa,
saltou da arquibancada e assumiu a posição de Tiago. Pronto! Não jogo mais.
Já estava me conformando com
a ideia de que não jogaria, quando Daniel tocou para Allan, que marcou um golaço.
A torcida foi ao delírio:
— “Uh, é Informáticaaa! Uh,
é Informáticaaaa! “.
Enfim, o Chibério me colocou
no jogo.
— Temos pouco tempo para
virar o jogo, foque no gol!
- Agora sim, eu entro e
arraso! Vou meter meu gol!
Passei fácil pelo primeiro.
O segundo foi mais fácil ainda. O terceiro levou entre as pernas. Moleza. Goleiro
para um lado e bola para o outro. Golaço!!!
Todo o ginásio ficou em
silêncio. Em seguida, veio a comemoração:
— Uh, sai do chão! EDIFICA é
tradiçããão!
A torcida adversária estremeceu.
Soou o apito do juiz.
Breno Silva