sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Não voltará



Faltavam dois dias para o Natal. Estava organizando uma confraternização em família, subi até um quarto onde guardava todo tipo de trecos que não mais utilizava em busca de alguns enfeites natalinos. Observei alguns enfeites dentro de uma caixa de papelão e resolvi pegar para colocá-los na árvore.  Ao puxar, tudo desmoronou e foi ao chão, dezenas de enfeites sobre mim e, em meio a eles, achei um antigo álbum de fotografias. Comecei a folhear.
Vi uma foto onde estou com Taynna e Rafael, meus primos mais velhos e amigos também.

“Rua Rodrigues Silva – 2006. Quando esses três se juntam, pode esperar que estão fazendo arte”.

Esta descrição estava no verso da foto, provavelmente escrito por minha mãe.
“Pega a pá”. Lembro claramente do que falávamos nesse dia. “Traz o balde também, já tem muita areia aqui”. “A pá já está aí, Bea”. “Não está não, assim essa piscina não vai ficar pronta nunca.” “Acho que já cavamos o suficiente, não acha, Bea e Taynna?”. “Não”. “Não”. “Ainda não cabe nem a gente em pé, ainda vamos trazer os peixes e falta colocar o balanço aqui dentro ainda”. “Vai ser a primeira piscina com balanço do mundo”. “SORRIAM!”. Minha mãe registrara aquele momento. E assim construímos nossa própria piscina no quintal de casa, com mais lama que água, talvez. E todo aquele gosto de infantilidade e inocência ficou guardado em uma gélida imagem.

“Aniversário de Taynna – 2004. Quem tem coragem de provar essa sobremesa dos nossos cozinheiros?”.

Era uma foto em que estávamos mais uma vez nós três, lambuzados. Este escrito tinha uma letra bem diferente. Letras violentas, rudes, apressadas... masculinizadas. Provavelmente do meu avô.
“Parabéns, Taynna”. “Parabéns, priminha”. “Só vocês lembraram”. “Aniversário se comemora com bolo, vamos fazer um pra ela, Rafael?”. “Vamos. Do que vamos precisar?”. “Ovos. Açúcar. Farinha. Manteiga. Leite”. “Segura essa vasilha, Taynna. Põe os ovos, Rafael.” “Precisa tirar a casca?”. “Não, deixa assim mesmo”. Então fizemos o melhor aniversário que se podia imaginar, pois o único gosto que ficou desta sobremesa foi o de felicidade compartilhada.
Naquele tempo, misturávamos besteiras, infantilidade e felicidade. Felicidade em porção redobrada. Triplicada, melhor dizendo. Agora só resta relembrar de tudo isso em um tom nostálgico, pois sei que nunca mais acontecerá. Taynna, agora, tem que se preocupar com o seu filho. Espero que ele seja tão feliz quanto éramos. E Rafael... bem, para falar a verdade nem o vejo mais. Ele, atualmente, só pensa em farrear e o tempo que sobra (o que não é muito) é destinado ao trabalho e à escola.

Caroline Beatriz - dezembro/2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário