sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Geração Coca-Cola



Nas tardes de sábado, quando o sol esfriava um pouco, depois de almoçar peito de frango e comer uma fatia de bolo que meu pai trazia do Nordestão, os moleques lá da rua me chamavam para jogar videogame. Veja bem, seria hipocrisia da minha parte se eu dissesse que, enquanto as crianças de hoje estão obcecadas pela tecnologia, eu só fazia brincar na rua de esconde-esconde e tica-trepa. Não. A minha geração já tinha acesso a essas tecnologias, mas, claro, bem mais limitado. Por exemplo, era comum os meninos (e até mesmo as meninas) gastarem toda sua mesada na casa de videogames que ficava na rua adjacente à minha. Eu ganhava dez reais todo sábado, mas sempre usava o truque de pedir dinheiro pro meu pai nas quartas-feiras. Esse dinheiro era investido em horas e horas com o controle na mão e o olho na tela. Não tão diferente das crianças de hoje nos seus tablets e celulares potentes, sendo que eu só tinha esse privilégio nos finais de semana e até meu dinheiro acabar.
Falando em celular, com 8 anos eu ganhei meu pequeno Nokia, cinza. Os celulares, nessa época, só serviam para duas coisas: jogar o jogo da cobrinha ou do peixinho e ligar a cobrar para sua mãe quando arengava com seu irmão. Nesse quesito, a galera das antigas tinha vantagem: os celulares NUNCA quebravam. Como os fones de ouvido ainda não existiam – ou pelo menos eram caros demais para eu sequer lembrar deles na minha infância, a criançada se reunia na sala, colocava na reprodução automática os 20 toques do celular e dançava a tarde toda. Meu irmão, como eu sinto falta disso! Era melhor que qualquer tipo de balada.
Não estou querendo dizer que minha infância era melhor ou pior do que a de ninguém, mas eu consigo sentir uma sensação nostálgica mais forte do que essa criançada de hoje. Um exemplo são as festinhas de aniversário. Tudo bem tradicional. Enquanto hoje minha sobrinha vê diversos lugares pelo computador e pede de presente uma viagem para Buenos Aires, eu só desejava que acabassem logo de cantar o “com quem será?”. Outro exemplo é o poderoso computador, o substituto moderno da televisão. Antes, quando uma propaganda de um brinquedo moderno era exibida na TV, como os bonecos do Max Steel, surgia logo o “MÃE! COMPRA PRA MIM!” E minha mãe sempre dizia que iria comprar. Mesmo que não comprasse, ela sabia que em breve a propaganda acabava e eu voltava a prender minha atenção com os desenhos. Hoje, se uma mãe tiver a ousadia de falar que irá comprar, é capaz do filho colocar no site de compras online e já ir pedindo o número do cartão de crédito dela.  Mas nem tudo está perdido. Hoje os boyzinhos têm um acesso ilimitado à informação. Até porque, né? Tudo que uma criança precisa é saber o que aquela celebridade fez ou saber alguma bizarrice de um animal estranho. Se hoje já existe uma superlotação no Facebook de juízes da verdade, imagine com esse povo que passa o dia assistindo vlogs, ouvindo a opinião mal formada de outras crianças totalmente influenciadas. Não, rapaz. Eu prefiro mil vezes passar horas e horas assistindo desenhos no Cartoon. Até mesmo os mais violentos, que hoje foram removidos do ar por “influenciar as crianças.” Se fosse assim, por que ainda não tiraram esses canais do YouTube?
Contudo, do que eu mais sinto saudades é de brincar na rua, subir em árvores, fazer molecagens. Atualmente deveria existir uma lei que só permitisse a criança ficar até certo período do dia no computador, celular e tablet. Mas do jeito que anda a justiça do nosso país... Bem, não vou nem comentar, isso aí já é assunto para outras crônicas.

Elvis Henrique - dezembro/2015

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