quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Muito mais que 30 linhas



"Ninguém nasce mulher: torna-se mulher" Foi com essas palavras de Simone de Beauvoir, retiradas de sua obra O segundo sexo, que cerca de 7,7 milhões de candidatos, que fizeram o Enem no dia 24, se depararam. No entanto, nunca imaginei que o segundo dia de prova, 25 de outubro, iria me surpreender ainda mais trazendo "A persistência da violência contra a mulher no Brasil" como tema da redação. Fico imaginando o que as milhares de pessoas que fizeram o exame conseguiram escrever em apenas 30 linhas. O que mais poderia ter sido dito se o limite não fosse esse?
A importância da mulher ganhou horizontes muito mais significativos do que nos tempos da minha vó. Nós passamos a ser muito mais que meras marionetes no papel de mãe, esposa e doméstica da família. Assumimos papéis que até então seriam inalcançáveis senão fosse a constante luta da classe feminina por direitos iguais, mas mesmo assim sem perder a delicadeza ou sequer o charme por descer do salto para alcançar as grandes conquistas as quais conseguimos, entra elas o combate maior a violência.
Contudo, o empoderamento feminino não está somente representado por esses constantes avanços. Há a beleza e a força de vontade que cada mulher carrega consigo a fim de inspirar as pessoas ao seu redor para mostrar que qualquer um, independente de gênero, é capaz de mudar o mundo, mesmo que as agressões físicas ou verbais assolem a sociedade corrompida por valores machistas.
A verdade é que, não importa o que aconteça, o assédio sofrido, ou os padrões impostos pela mídia diariamente, sempre seremos protagonistas do nosso destino, sendo as principais responsáveis pelas escolhas que fazemos quanto ao nosso modo de viver, amar, vestir, falar. Cada uma de nós possuí um diferencial particular, mas todas temos a mesma alma sonhadora que anseia novas descobertas a respeito de nós mesmas, das nossas confusões, do riso frouxo sem motivo, das vontades não realizadas ou até mesmo a razão daquela TPM fora de hora.
Pois é. Ainda assim me pergunto se 30 linhas seriam suficientes para apresentar inúmeros argumentos e relatos, que fique claro que não são poucos, vividos todos os dias pelas mulheres do nosso país. Afinal de contas, a importância da mulher vai muito além de merecer respeito, isso é apenas a base, pois respeito implica em viver, seja da maneira que for, sem seguir padrões. E mesmo que sigamos, a escolha é, exclusivamente, cabível a nós. Donas de quem somos. E não objeto dos outros.

Laura Jales - dezembro/2015

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