quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Ensino Médio inocente



A crônica de hoje, caros leitores, é longa e cheia de absurdos, sexo e depravação. Mais precisamente uma crônica que começou no início de setembro de 2015, e que dura até hoje, num local chamado IFRN, que é um colégio de São Gonçalo do Amarante. Para chegar até lá, basta ir pela RN-160 – você verá um pouco de mato, alguns casebres e barracos, mais mato... e pronto, você chegou.
Você conhece o IF de São Gonçalo? É uma escola modelo, construída sobre uma antiga fazenda, o que explica a grande variedade de animais que ainda existem por lá. Tem de tudo: vacas, cobras, veados, gazelas, piranhas... Talvez você, caro leitor, não reconheça esses animais de primeira, pois eles se disfarçam muito bem. Na verdade, é provável que um deles esteja do seu lado nesse exato momento.
Mas do que eu estava falando mesmo? Ah, a crônica. Você gosta de crônicas tristes? Porque esta é bem triste, ou talvez você a ache engraçada, depende do quão deturpado é o seu senso de humor.
Eu estava estupefato. Espere, talvez estupefato não seja a palavra certa – como posso dizer, então? Abismado? Chocado? É, isso! Chocado! Essa é a palavra certa. Neste momento estou no bosque – mas não se engane, embora chamem de bosque, este lugar nada mais é do que um amontoado de terra batida com alguns bancos quebrados espalhados aqui e acolá. Mas, mesmo parecendo um alojamento de sem-terra, o bosque atende muito bem as nossas necessidades, e como atende!
Esse foi, sem dúvida, o melhor investimento que a administração da diretora Cadillac poderia ter feito com a verba do Ministério da Educação. Quem precisa de mais laboratórios ou salas de aula? O Campus SGA se destaca por ser o único IF a possuir um local exclusivo para os alunos descarregarem seus hormônios adolescentes.
Claro que tudo por baixo dos panos. Pobres de nós se a administração descobrisse o que acontece no bosque. Por isso os alunos – pasmem, por iniciativa própria – criaram a SSB, sigla para Sociedade Secreta do Bosque, que visa organizar a utilização do mais novo espaço de lazer do Campus. Sim, pois até os cabarés precisam ter regras.
O primeiro passo foi criar codinomes, pois não se esqueçam de que, na frente dos professores, dos nossos pais e da nossa avó, somos adolescentes completamente inocentes, logo não podemos dar bandeira. Por exemplo: apelidamos a prática sexual de brincar, chamamos o órgão do prazer dos meninos de banana, e o das meninas de gaveta. Desse modo, podemos nos camuflar facilmente.
— Ei, vamos brincar de papai e mamãe hoje?
— Não, a gente já brincou muito disso. Vamo brincar de cavalgar!
— Tá, mas só se você deixar eu trazer mais duas bananas.
— Ótimo, uma para cada gaveta.
— Perfeito, bora.  
E eles brincam a tarde inteira.
O segundo passo foi estabelecer um dia da semana para cada curso. Imagine o quão catastrófico seria se alguém de Edificações aparecesse enquanto o pessoal de Informática brinca? Ou pior! Imagina se alguém visse a brincadeira de Logística? Soube que lá eles brincam mais com bananas que com gavetas. Por isso, A SSB definiu a segunda-feira, primeiro dia de aula, como um dia de confraternização, entende? Na segunda, ninguém é de ninguém – namorados trocam de parceiros, pessoas que sequer se conhecem terminam se agarrando, e a loucura rola solta. E os outros dias da semana? Bem, eles acabaram por ser repartidos entre todos os cursos.
O sucesso do bosque superou todas as expectativas. O rendimento dos estudantes melhorou exponencialmente, assim como a qualidade de vida no Campus - Agora os alunos não têm mais que se trancar nas cabines apertadas dos banheiros ou procurar alguma sala vazia no bloco de Edificações, pois o bosque existe pra isso.
Mas é claro que tanto sucesso atraiu invejosos – o principal deles foi o assistente social do Instituto, que também quis entrar para a brincadeira. Com o bosque, ele não teve mais que passar horas e horas com os alunos na sala do serviço social, em suas “entrevistas”. Mas, por favor, não me entenda mal. Não estou questionando o profissionalismo dele, claro que não. Até porque todo mundo precisa brincar de vez em quando, né?
Invejosos à parte, eu gosto muito do bosque – lá todas as máscaras caem, os valores se invertem e as pessoas se transformam: garotos podem pagar de garotas, pessoas que se odeiam podem participar da mesma orgia e até os mais santos podem se mostrar verdadeiros diabinhos.
E, afinal, pra que estudar, quando o bom da vida é brincar?

Israel Felipy
Karina Maria
Matheus Olegário
Milena Gabriela

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