
Você conhece o IF de São Gonçalo? É uma escola
modelo, construída sobre uma antiga fazenda, o que explica a grande variedade
de animais que ainda existem por lá. Tem de tudo: vacas, cobras, veados,
gazelas, piranhas... Talvez você, caro leitor, não reconheça esses animais de
primeira, pois eles se disfarçam muito bem. Na verdade, é provável que um deles
esteja do seu lado nesse exato momento.
Mas do que eu estava falando mesmo? Ah, a
crônica. Você gosta de crônicas tristes? Porque esta é bem triste, ou talvez
você a ache engraçada, depende do quão deturpado é o seu senso de humor.
Eu estava estupefato. Espere, talvez estupefato
não seja a palavra certa – como posso dizer, então? Abismado? Chocado? É, isso!
Chocado! Essa é a palavra certa. Neste momento estou no bosque – mas não se
engane, embora chamem de bosque, este lugar nada mais é do que um amontoado de
terra batida com alguns bancos quebrados espalhados aqui e acolá. Mas, mesmo
parecendo um alojamento de sem-terra, o bosque atende muito bem as nossas
necessidades, e como atende!
Esse foi, sem dúvida, o melhor investimento que
a administração da diretora Cadillac poderia ter feito com a verba do
Ministério da Educação. Quem precisa de mais laboratórios ou salas de aula? O Campus
SGA se destaca por ser o único IF a possuir um local exclusivo para os alunos
descarregarem seus hormônios adolescentes.
Claro que tudo por baixo dos panos. Pobres de
nós se a administração descobrisse o que acontece no bosque. Por isso os alunos
– pasmem, por iniciativa própria – criaram a SSB, sigla para Sociedade Secreta
do Bosque, que visa organizar a utilização do mais novo espaço de lazer do Campus.
Sim, pois até os cabarés precisam ter regras.
O primeiro passo foi criar codinomes, pois não
se esqueçam de que, na frente dos professores, dos nossos pais e da nossa avó,
somos adolescentes completamente inocentes, logo não podemos dar bandeira. Por
exemplo: apelidamos a prática sexual de brincar, chamamos o órgão do
prazer dos meninos de banana, e o das meninas de gaveta. Desse
modo, podemos nos camuflar facilmente.
— Ei, vamos brincar de papai e mamãe hoje?
— Não, a gente já brincou muito disso. Vamo
brincar de cavalgar!
— Tá, mas só se você deixar eu trazer mais duas
bananas.
— Ótimo, uma para cada gaveta.
— Perfeito, bora.
E eles brincam a tarde inteira.
O segundo passo foi estabelecer um dia da
semana para cada curso. Imagine o quão catastrófico seria se alguém de
Edificações aparecesse enquanto o pessoal de Informática brinca? Ou pior!
Imagina se alguém visse a brincadeira de Logística? Soube que lá eles brincam
mais com bananas que com gavetas. Por isso, A SSB definiu a segunda-feira,
primeiro dia de aula, como um dia de confraternização, entende? Na
segunda, ninguém é de ninguém – namorados trocam de parceiros, pessoas que
sequer se conhecem terminam se agarrando, e a loucura rola solta. E os outros
dias da semana? Bem, eles acabaram por ser repartidos entre todos os cursos.
O sucesso do bosque superou todas as
expectativas. O rendimento dos estudantes melhorou exponencialmente, assim como
a qualidade de vida no Campus - Agora
os alunos não têm mais que se trancar nas cabines apertadas dos banheiros ou
procurar alguma sala vazia no bloco de Edificações, pois o bosque existe pra
isso.
Mas é claro que tanto sucesso atraiu invejosos
– o principal deles foi o assistente social do Instituto, que também
quis entrar para a brincadeira. Com o bosque, ele não teve mais que passar
horas e horas com os alunos na sala do serviço social, em suas “entrevistas”.
Mas, por favor, não me entenda mal. Não estou questionando o profissionalismo
dele, claro que não. Até porque todo mundo precisa brincar de vez em quando,
né?
Invejosos à parte, eu gosto muito do bosque –
lá todas as máscaras caem, os valores se invertem e as pessoas se transformam:
garotos podem pagar de garotas, pessoas que se odeiam podem participar da mesma
orgia e até os mais santos podem se mostrar verdadeiros diabinhos.
E, afinal, pra que estudar, quando o bom da
vida é brincar?
Israel Felipy
Karina Maria
Matheus Olegário
Milena Gabriela
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