segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Eu devia te odiar



 
                                                                               

        Carlos, quando garoto, nunca foi o mais esperto da turma. Nem o mais bonito. Entrou na universidade assim que concluiu seu ensino médio. Foi lá que conheceu Verônica, sua professora de Comunicações. Ela, um mulherão de 1.76 de altura, com curvas que fariam qualquer homem se perder, sempre que passava pela cadeira na qual ele sentava, deslizava levemente os dedos sobre seu braço e ombro.
         Carlos  achava estranho. Por que recebia um tratamento diferenciado por parte da professora?
Certo dia, ele resolveu procurá-la para esclarecimento de um assunto. Estavam os dois a sós na sala. Verônica começou a alisá-lo, como sempre fazia.
    Nesse momento, a conversa tomou outro rumo, e foi aí que aquele “tratamento especial” ficou evidente para ele. O clima tornou-se picante. Então, ela o jogou em cima do birô e os dois transaram. A cena se repetiu por várias vezes, sempre na mesma salinha, sempre no mesmo horário – o final do expediente de trabalho. Nesse momento, a conversa tomou outro rumo, e foi aí que aquele “tratamento especial” ficou evidente para ele. O clima tornou-se picante. Então, ela o jogou em cima do birô e os dois transaram. A cena se repetiu por várias vezes, sempre na mesma salinha, sempre no mesmo horário – o final do expediente de trabalho.
       Algumas semanas depois, Carlos propôs namoro a sua professora. Ela aceitou, mas com uma condição: ninguém poderia saber, pelo menos por enquanto.
Cinco anos se passaram. O casal já morava junto numa casa no subúrbio da cidade. Carlos era um gerente de banco de dados de uma empresa emergente. Estava crescendo no ramo empresarial. A profissão exigia muito dele, por isso ele não tinha muito tempo para ficar com Verônica.
   Ela também começou a chegar tarde e a ficar sem tempo para  Carlos. Isso estava afastando um pouco o casal. Mas Carlos decidiu manter o laço entre os dois. Resolveu pedi-la em casamento. Então, ele verificou os horários de aula da sua companheira, a fim de fazer-lhe uma surpresa na universidade. Percebeu que, pelos horários que ela deixava o trabalho, deveria chegar em casa muito mais cedo. E isso o preocupou.
No dia seguinte, perguntou-lhe por que estava chegando tão tarde, mesmo saindo mais cedo da universidade. Ela respondeu que estava ministrando aulas extras. Carlos resolveu investigar. Para isso, colocou um aplicativo desses de localização no celular de sua namorada. Aí veio a surpresa: ela realmente estava na universidade.
    Ele então resolveu fazer uma surpresa. Era o dia de sua vida. Estava muito ansioso. Passou horas se arrumando para propor amor eterno a sua amada. Saiu em seu Classic acinzentado em disparada, com destino ao amor. Cortou sinais para chegar mais rápido. Chovia muito naquele momento.
      Chegando ao Campus, seguiu em direção à sala  onde tudo começara. Ele a encontrou lá. Estava no mesmo lugar onde tudo começou. No birô velho da sala dos professores. Observado pelo vidro, ele materializava as cenas das suas primeiras vezes com Verônica. Então  caiu na real. Aquilo não era sua imaginação. Era real! Verônica estava  traindo-o no mesmo local onde os dois tinham começado a se amar.
    Ela o traía com um aluno dela - um novato. Carlos se viu naquele aluno. Imaginou que poderia ter participado de outra traição como aquela, não como traído, mas sim como traidor. Ele se viu nos dois lados e não sabia o que fazer. Num impulso, decidiu ir embora. Ninguém lá de dentro o viu. Ele apenas se virou e foi.
    Quando ela chegou em casa, como sempre, foi direto para o banho e, logo em seguida, para a cama, alegando estar muito cansada. Carlos agiu normalmente.
     E, por mais incrível que pareça, ele não deixou de lado a ideia de se casar com Verônica. Pelo contrário, adiou mais ainda a data. Mal podia esperar pelo momento. E assim ele foi vivendo até o dia de seu casamento.
    Alguns meses de preparativos e estava tudo pronto. Era chegada a hora de Carlos se casar com Verônica. A igreja estava lotada. Lá estavam colegas de trabalho dele e alunos e professores da universidade dela. Quando chegou a hora dos noivos dizerem “Sim”, Carlos soltou uma frase que mexeu com Verônica:
     - “Eu devia te odiar, no entanto, só sei te amar. Eu devia te esquecer e até um outro amor procurar!”
    Então, timidamente saiu um sim da sua boca. Todos na igreja não entenderam. Só ela, agora sua esposa.


Arthur Cohen
Júlio Virgínio

Conto produzido a partir da letra da canção brega Eu devia te odiar, de Reginaldo Rossi.

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