Marcos e eu éramos amigos de
infância e, quando tínhamos quatorze anos, uma prima dele veio morar na
cidade. Desde então, Marcos e ela começaram um romance de adolescentes, cheios
de juras de amor, diziam que nunca iriam se separar, prometiam amor eterno um
para o outro.
Confesso que parecia mesmo
que o relacionamento dos dois iria durar até o fim de suas vidas, nunca tinha
visto um casal tão dedicado um ao outro como aqueles dois. Anos se passaram, e
as coisas entre eles pareciam bem, até que um dia eu, voltando da faculdade, à
tarde, vi Rita abraçada com um cara. A princípio, achei que fosse ela e o
Marcos, mas olhando bem não era ele.
De repente me veio em mente
que já conhecia aquele sujeito de algum lugar, mas não sabia de onde, minha
memória sempre foi péssima.
Duas semanas tinham se
passado desde o ocorrido, e eu sem saber se deveria me meter naquele caso.
Resolvi contar, mesmo sabendo que Marcos não iria ficar conformado com aquela
situação. Fui até o bar onde meu parceiro trabalhava como garçom, era o dia de
folga dele, e ele iria lá, para beber um pouco.
Chegando ao local, o vi
sentado numa mesa num canto e, sobre ela, uma quantidade considerável de garrafas
vazias, o que era um sinal que algo de errado estava acontecendo, não havia
muitos clientes lá. Ainda estava cedo. Aproximei-me dele, puxei uma cadeira e
sentei-me à mesa, ele olhou para mim desconsolado. Nessa hora, eu tive a
certeza que ele já sabia o que tinha acontecido. Achei melhor perguntar o que
ele tinha primeiro, para confirmar as minhas suspeitas de que ele já sabia:
-E aí, por que o desânimo?
-Você nem imagina.
-O que aconteceu?
-A Rita, aquela vadia,
estava me colocando galha!
-Cara...!?
-Pois é, ela já estava me colocando chifres faz algum
tempo.
-Rapaz, eu não sabia como te...
Quando eu resolvi dizer que já
sabia, ele me interrompeu.
Aquela puta já está até de casamento marcado, acredita?!
Me mandou uma carta, hoje pela manhã, para terminar comigo e dizer que vai se
casar com outro.
-Casar?!
Eu achava que o namoro deles
ainda tinha uma chance. Afinal, ninguém é totalmente fiel. Quem nunca levou ou
colocou um chifre? Nem que seja em pensamentos todos já foram traídos um dia.
Mas se ela já estava de casamento marcado com o outro, definitivamente o namoro
deles tinha acabado.
-E eu pensava que ela me amava de verdade, nem consigo
acreditar que ela me trocou por outro!
Nessa hora, o garçom veio
atender uma mesa perto da nossa, e o Marcos, já embriagado, pediu que trouxesse
mais uma garrafa de conhaque. O garçom passou por trás de mim, e o serviu. Ele
o puxou e disse para mim:
-Parceiro, esse garçom aqui é meu companheiro de todos os
dias de trabalho, é um amigão!
Quando eu olhei para o
garçom tive a impressão que já tinha o visto fora do bar, e perguntei se fazia
pouco tempo que ele trabalhava lá, ele falou que fazia menos de duas semanas.
Eu já estava vendo que
aquela bebedeira não iria sair nenhum pouco barato para o Marcos, se brincasse
seria todo o salário dele daquele mês. Aos poucos foram chegando mais clientes,
o local foi ficando mais movimentado. Depois de insistir um pouco, o convenci a
irmos embora e, quando íamos saindo, Rita chegou ao bar, com certeza ela não
esperava encontrar com o Marcos, pois aquele dia era a folga dele.
Ainda não tínhamos levantado
da mesa, de modo que ela não nos viu, já que o bar estava lotado. Passou direto
de nossa mesa e se abraçou com o garçom que tinha nos servido. Nessa hora,
ficou claro que o rapaz que eu tinha visto com a Rita, naquela tarde, era o
garçom. Marcos, bêbado e abalado com aquela surpresa, não teve forças nem para
dar uns socos naquele garçom, saiu do bar às pressas e sumiu.
Ele nunca conseguiu superar
aqueles chifres que foram colocados de maneira tão covarde. Não esperava
que o homem com quem seu grande amor lhe traíra fosse seu colega de trabalho.
Ele cortou qualquer ligação com a família da prima e sumiu no mundo, segundo o
que escutei anda sem destino, quase sempre bêbado.
Faz tempo que não o vejo. A única coisa que se sabe é que agora ele não se permite apaixonar por mais
nenhuma outra. Se dedica a beber ainda tentando esquecer o que ocorreu com ele,
e a devolver o troco do que lhe fizeram, traindo todas as mulheres que entram
em sua vida. Seu lema passou a ser: “Todas iguais, todas putas!”.
João
Victor
Guilherme
Lima
Conto produzido a partir da letra da canção brega Garçom, de Reginaldo Rossi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário