segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Garçom



   Eu já havia escutado muitas histórias sobre cornos. Mas não era capaz de me ver em uma situação dessas, e ser praticamente um cúmplice. História essa que me deixou confuso, sem saber o que fazer.  Como contar para uma pessoa que ela levou chifre? Principalmente se o corno for um melhor amigo que não sabe viver sem a namorada?!
Marcos e eu éramos amigos de infância e, quando tínhamos quatorze anos, uma prima dele veio morar na cidade. Desde então, Marcos e ela começaram um romance de adolescentes, cheios de juras de amor, diziam que nunca iriam se separar, prometiam amor eterno um para o outro.
Confesso que parecia mesmo que o relacionamento dos dois iria durar até o fim de suas vidas, nunca tinha visto um casal tão dedicado um ao outro como aqueles dois. Anos se passaram, e as coisas entre eles pareciam bem, até que um dia eu, voltando da faculdade, à tarde, vi Rita abraçada com um cara. A princípio, achei que fosse ela e o Marcos, mas olhando bem não era ele.
De repente me veio em mente que já conhecia aquele sujeito de algum lugar, mas não sabia de onde, minha memória sempre foi péssima.
Duas semanas tinham se passado desde o ocorrido, e eu sem saber se deveria me meter naquele caso. Resolvi contar, mesmo sabendo que Marcos não iria ficar conformado com aquela situação. Fui até o bar onde meu parceiro trabalhava como garçom, era o dia de folga dele, e ele iria lá, para beber um pouco.
Chegando ao local, o vi sentado numa mesa num canto e, sobre ela, uma quantidade considerável de garrafas vazias, o que era um sinal que algo de errado estava acontecendo, não havia muitos clientes lá. Ainda estava cedo. Aproximei-me dele, puxei uma cadeira e sentei-me à mesa, ele olhou para mim desconsolado. Nessa hora, eu tive a certeza que ele já sabia o que tinha acontecido. Achei melhor perguntar o que ele tinha primeiro, para confirmar as minhas suspeitas de que ele já sabia:
  -E aí, por que o desânimo?
  -Você nem imagina.
  -O que aconteceu?
  -A Rita, aquela vadia, estava me colocando galha!
  -Cara...!?
  -Pois é, ela já estava me colocando chifres faz algum tempo.
  -Rapaz, eu não sabia como te...
  Quando eu resolvi dizer que já sabia, ele me interrompeu.
 Aquela puta já está até de casamento marcado, acredita?! Me mandou uma carta, hoje pela manhã, para terminar comigo e dizer que vai se casar com outro. 
-Casar?!
Eu achava que o namoro deles ainda tinha uma chance. Afinal, ninguém é totalmente fiel. Quem nunca levou ou colocou um chifre? Nem que seja em pensamentos todos já foram traídos um dia. Mas se ela já estava de casamento marcado com o outro, definitivamente o namoro deles tinha acabado.
-E eu pensava que ela me amava de verdade, nem consigo acreditar que ela me trocou por outro!
Nessa hora, o garçom veio atender uma mesa perto da nossa, e o Marcos, já embriagado, pediu que trouxesse mais uma garrafa de conhaque. O garçom passou por trás de mim, e o serviu. Ele o puxou e disse para mim:
-Parceiro, esse garçom aqui é meu companheiro de todos os dias de trabalho, é um amigão!
Quando eu olhei para o garçom tive a impressão que já tinha o visto fora do bar, e perguntei se fazia pouco tempo que ele trabalhava lá, ele falou que fazia menos de duas semanas.
Eu já estava vendo que aquela bebedeira não iria sair nenhum pouco barato para o Marcos, se brincasse seria todo o salário dele daquele mês. Aos poucos foram chegando mais clientes, o local foi ficando mais movimentado. Depois de insistir um pouco, o convenci a irmos embora e, quando íamos saindo, Rita chegou ao bar, com certeza ela não esperava encontrar com o Marcos, pois aquele dia era a folga dele.
Ainda não tínhamos levantado da mesa, de modo que ela não nos viu, já que o bar estava lotado. Passou direto de nossa mesa e se abraçou com o garçom que tinha nos servido. Nessa hora, ficou claro que o rapaz que eu tinha visto com a Rita, naquela tarde, era o garçom. Marcos, bêbado e abalado com aquela surpresa, não teve forças nem para dar uns socos naquele garçom, saiu do bar às pressas e sumiu.
Ele nunca conseguiu superar aqueles chifres que foram colocados de maneira tão covarde. Não esperava que o homem com quem seu grande amor lhe traíra fosse seu colega de trabalho. Ele cortou qualquer ligação com a família da prima e sumiu no mundo, segundo o que escutei anda sem destino, quase sempre bêbado.
Faz tempo que não o vejo. A única coisa que se sabe é que agora ele não se permite apaixonar por mais nenhuma outra. Se dedica a beber ainda tentando esquecer o que ocorreu com ele, e a devolver o troco do que lhe fizeram, traindo todas as mulheres que entram em sua vida. Seu lema passou a ser: “Todas iguais, todas putas!”.


João Victor

Guilherme Lima

Conto produzido a partir da letra da canção brega Garçom, de Reginaldo Rossi.

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