
-Dona, quero esta para mim.
Posso levá-la comigo?
-Esta? Meu querido, esta eu
não aconselho levar, ela é capaz de enfeitiçar qualquer um que quiser e - disse
a Dona-, mas logo em seguida foi interrompida pelo Lucas.
-Mas é essa mesma que eu
quero, não importa o valor, eu quero ela para mim!- disse já zangado, sem saber
ao menos que ela se tornaria o amor da minha vida.
Compra fechada e logo tratei
de levá-la comigo para casa. Casei-me com ela e a transformei em minha mulher.
A vida foi passando, e Janinha já estava se acostumando com uma vida
“teoricamente normal”, pois já não trabalhava mais como prostituta. Mas como
diz o ditado “os cachos sempre voltam”, eu mal sabia que os maus costumes
voltariam, ela começa a me trair. Primeiro foi com o porteiro do prédio, o
Rafael. A história foi assim:
-Amor, preciso sair! – disse
eu, dando-lhe um beijo, e ela retribuiu.
-Está certo, amoreco!
Eu saí.
Ao retornar para casa, e
chegando à portaria, escuto altos gemidos de prazer vindos do quartinho dos
fundos, que era o de Rafael. Eram mais ou menos assim:
-Ai, vá depressa!
E me pus a pensar: “ Mas eu
conheço essa voz”. Não queria pensar que seria ela. A outra voz parecia de
locutor de fim de noite.
-Calma, que eu estou só
aquecendo!
Curioso que sou, fui em busca de descobrir
quem eram. Entro vagarosamente no prédio e vou em direção ao quartinho, e
aqueles gemidos não paravam. Abro a porta e...
-Não acredito! Janinha,
minha Janinha, você?! - indaguei com muita surpresa.
Ela disse:
- Amoreco, posso explicar,
foi ele! – e apontou para o Rafael.
- Mas eu vou matá-lo! –
exclamei com muita raiva.
E essa foi a primeira de
muitas outras traições. E assim foram acontecendo: com o carteiro , David; com o Hugo, vendedor;
Jorge , o padeiro; e outros que eu nem podia sequer imaginar. Mas eu, chifrudo
que sou, sempre a perdoava, pois amava muito aquela mulher, a minha Janinha.
Amar é isso, perdoar e aceitar o que o próximo lhe impõe. Contudo, a
minha amada não poderia ter morrido de uma forma assim tão trágica, com três
facadas em seu peito.
Janinha se envolveu com o valentão
da cidade, Chicão, e não deu muito certo. Minha amada Janinha partiu dessa pra
melhor.
Não quero aceitar que ela
partiu daquela forma, me deixando mais uma vez na solidão. Após sua morte, me
dei conta de que havia perdido a minha própria vida, e sempre estava a me perguntar:
-Cadê você?
Fui capaz de perdoá-la
tantas e tantas vezes, por traições e mais traições. Por que tinha partido
assim? E agora: o que tenho a fazer, senão me afogar nas minhas próprias
lágrimas? Tempos após a sua morte, eu sempre ia ao cemitério e, todas as vezes,
levava flores, chorava e também cantava. Fazia isso na esperança de que ela
voltasse, mas ela nunca voltou.
Letícia Amorim
Érica Lima
Conto produzido a partir da letra da canção brega Cadê você?, de Odair José .
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