segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Cadê você?

         Os anos se passam, as estações voltam, e eu ainda continuo na solidão. Já se passaram cinco anos, após a morte da minha querida Janaína. A cada momento, eu deixo uma lágrima cair na minha face, e escorre em meu rosto, pois busco em minhas lágrimas esconder toda tristeza que existe em meu ser. Janaina, vulgo Janinha, foi uma mulher da vida que conheci em uma noite de agosto. Ah! Aquela noite... Seus cabelos pretos, olhos verdes, seios fartos, coxas grossas e uma bunda de causar inveja em qualquer mulher nesta terra. Eu me apaixonei  desde a primeira vez que fui ao cabaré da “DONA”, onde Janinha trabalhava e, assim que vi aquela perfeição, não tive muito o que dizer...
-Dona, quero esta para mim. Posso levá-la comigo?
-Esta? Meu querido, esta eu não aconselho levar, ela é capaz de enfeitiçar qualquer um que quiser e - disse a Dona-, mas logo em seguida foi interrompida pelo Lucas. 
-Mas é essa mesma que eu quero, não importa o valor, eu quero ela para mim!- disse já zangado, sem saber ao menos que ela se tornaria o amor da minha vida.
Compra fechada e logo tratei de levá-la comigo para casa. Casei-me com ela e a transformei em minha mulher. A vida foi passando, e Janinha já estava se acostumando com uma vida “teoricamente normal”, pois já não trabalhava mais como prostituta. Mas como diz o ditado “os cachos sempre voltam”, eu mal sabia que os maus costumes voltariam, ela começa a me trair. Primeiro foi com o porteiro do prédio, o Rafael. A história foi assim:
-Amor, preciso sair! – disse eu, dando-lhe um beijo, e ela retribuiu.
-Está certo, amoreco!
Eu saí.
Ao retornar para casa, e chegando à portaria, escuto altos gemidos de prazer vindos do quartinho dos fundos, que era o de Rafael. Eram mais ou menos assim:
-Ai, vá depressa!
E me pus a pensar: “ Mas eu conheço essa voz”. Não queria pensar que seria ela. A outra voz parecia de locutor de fim de noite.
-Calma, que eu estou só aquecendo!
 Curioso que sou, fui em busca de descobrir quem eram. Entro vagarosamente no prédio e vou em direção ao quartinho, e aqueles gemidos não paravam. Abro a porta e...
-Não acredito! Janinha, minha Janinha, você?! - indaguei com muita surpresa.
Ela disse:
- Amoreco, posso explicar, foi ele! – e apontou para o Rafael.
- Mas eu vou matá-lo! – exclamei com muita raiva.
E essa foi a primeira de muitas outras traições. E assim foram acontecendo: com  o carteiro , David; com o Hugo, vendedor; Jorge , o padeiro; e outros que eu nem podia sequer imaginar. Mas eu, chifrudo que sou, sempre a perdoava, pois amava muito aquela mulher, a minha Janinha. Amar é isso, perdoar e aceitar o que o próximo lhe  impõe. Contudo, a minha amada não poderia ter morrido de uma forma assim tão trágica, com três facadas em seu peito.
Janinha se envolveu com o valentão da cidade, Chicão, e não deu muito certo. Minha amada Janinha partiu dessa pra melhor.
Não quero aceitar que ela partiu daquela forma, me deixando mais uma vez na solidão. Após sua morte, me dei conta de que havia perdido a minha própria vida, e sempre  estava a me perguntar:
-Cadê você?
Fui capaz de perdoá-la tantas e tantas vezes, por traições e mais traições. Por que tinha partido assim? E agora: o que tenho a fazer, senão me afogar nas minhas próprias lágrimas? Tempos após a sua morte, eu sempre ia ao cemitério e, todas as vezes, levava flores, chorava e também cantava. Fazia isso na esperança de que ela voltasse, mas ela nunca voltou.

Letícia Amorim
Érica Lima

Conto produzido a partir da letra da canção brega Cadê você?, de Odair José .



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