
Assim
me senti durante longos meses, quando mudei de escola – foi como bater no
primeiro de uma fileira de dominós. Mudei de ambiente, mudei de atmosfera,
mudei de pessoas e mudei de mim, pois já não era a mesma – hoje enxergo a
importância que eu dava a futilidades e a opiniões alheias, defeitos que ainda
me atormentam, mas que estou aprendendo a contornar. Porém naquele momento isso
não me importava. Por que me sentia assim? Eu sempre quis deixar minha antiga
escola, pois faltava a alguns alunos aceitar que existiam pessoas diferentes,
com gostos e modos de pensar diversos. Viviam de aparências como os reis e rainhas
do século XV, que se escondiam da verdade para poderem reinar e manter o seu
poder. Mas a resposta para tudo o que eu sentia estava na mudança. Ela me tirou
o chão e eu caí inconstantemente como em uma montanha russa. Sentimentos
impiedosos me atacavam e me faziam sua refém, com pouco me libertavam, mas logo
me aprisionavam novamente.
Todavia, o tempo, em toda sua perfeição, me
mostrou que a mudança não é de todo tão má e perversa como estava sendo. Como é
de sua índole, ela mostrou uma de suas tantas faces e foi generosa, me
presenteando com professores, professoras e colegas – sábios filósofos; mães
amorosas e extremamente feministas; piadistas que desistiram de suas carreiras
para estar junto a mim; anjos caídos dos céus, que me deram um novo chão, reconstituído
com as melhores partes do chão antigo, junto às novas partes que haviam trazido
consigo, formando um chão com alguns desencaixes, porém, firme em sua
totalidade. Um chão fundado acima e ao lado do solo e paredes sólidas do IFRN São
Gonçalo do Amarante.
Ao
longo do caminho, a mudança me trouxe confidentes, cúmplices, que com toda a
certeza serão levados pela mudança, um dia, mas que por enquanto estão comigo
me apoiando a cada tropeço nas pedras da vida, que muitas vezes são impiedosas
nos arrancando um pedaço ou dois da pele dos pés; apontando-me o dedo quando
necessário; trazendo-me felicidade e levando-me para longe das decepções
deixadas por quem um dia já fez parte de meus confidentes. A paixão, o amor
romântico acabam, de muitas formas, em diferentes lugares, mas o amor fraternal
estabelecido entre nós, esse amor que a mudança me trouxe, é para sempre. Os eventos
da vida, que irão nos separar, podem torná-lo frio, mas ele ainda estará
presente, pois é firme e forte como uma rocha. E quando a mudança permitir o
nosso encontro, será como antes dela ter-nos separado, e o calor do nosso afeto
gradualmente se reestabelecerá como o sol sempre o faz na primavera depois dos
tempos chuvosos do inverno.
A
Camila de antes deu lugar a uma outra, com mais preocupações acadêmicas, mas
que também se sentiu acolhida no Campus São
Gonçalo do Amarante e percebeu que este era o seu lugar. E, com a ajuda de seus
anjos, ali se encontrou.
E, pensando bem, a mudança me trouxe sim dor
de cabeça; saudade; arrependimento – muitas vezes, de ter ingressado no IFRN;
medo – de julgamentos; insegurança; pranto. E ela continuou me trazendo – não tanto
quando em seu princípio. Mas o que ela me trouxe de momentos de extrema
alegria, satisfação, carinho, acolhimento, e tantas outras sensações de
bem-estar, é uma quantidade incontável e até inimaginável que sobrepõe
facilmente a tristeza e lamento dos outros sentimentos. Eu ainda tenho saudade
do que passou, mas é apreciável, em meus momentos de solidão, ter saudade de
algo novo, de pessoas novas, sensações e momentos novos, coisas que só a
mudança pôde me trazer e levará de mim sem pestanejar. É sensato e aconselhável
que eu aproveite mais e lembre menos dos momentos vividos agora, pois terei
bastante tempo quando meu curso em Informática acabar e a roda da mudança
girar.
Camila Maressa
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