Subo
as escadas disposta a enfrentar esse desafio. Ao lado dos meus amigos vamos
todos empolgadíssimos e a ponto de virar ao avesso de tanta alegria. Quer
melhor motivo para sorrir do que a falta de motivo? É como uma piada sem graça
em que se ri justamente pela falta de graça. O riso é tão espontâneo e
contagiante, basta um começar e então temos um coral de gargalhadas. E, como
sempre, lá está nosso amigo faxineiro no hall
de entrada do Instituto. Sujeito engraçado esse, de estatura pequena e
rosto avermelhado como se vivesse a ponto de explodir de vergonha. Esse é o seu
João. Suas maçãs do rosto são mais vermelhas do que muitas das maçãs
encontradas nas feiras de São Gonçalo. Recebe a todos com um “bom dia” que aos
meus ouvidos parece meio resmungado, mas logo percebo que este é o seu tom
feliz.
Por todos os corredores, é possível
ver a movimentação dos estudantes indo para as salas, a tagarelar pelos cantos,
em uma prosa muito envolvente na cantina. Olhares atentos em cada rosto.
Afinal, são adolescentes famintos por uma nova aventura, que lhes é permitida a
cada abrir de olhos ao amanhecer.
Muitos
dos professores são como pais e nos ensinam a lidar com a matéria mais difícil,
a vida. O pequeno grande homem que o diga. Chibério tem sempre uma nova
experiência para partilhar conosco e assim fazer-nos subir mais um degrau na
escada da maturidade. Outros não se permitem envolver com facilidade, se
mostram durões, mas não conseguem esconder a todo momento que já foram
cativados. Em uma dessas aulas de campo, pude constatar isso com o professor
Gilbran. Nem a Programação, terror dos alunos de Informática, dá jeito. E ainda
tem aqueles que demonstram em todas as cores o amor pelos alunos, que tocam
nosso âmago. Como não amar nosso querido professor de Língua Portuguesa, Milson
Santos? Ele que faz da sala de aula um salão de dança e o percorre com
movimentos leves e intensos, a ponto de voar.
No
intervalo estou a observar meus companheiros federais - uns estão mergulhados em tamanha solidão,
isolados, procurando consertar seu próprio mundo. Júlia é uma das que estão
sempre jogadas no chão, perdida em volumes estrondosos. Casais como Alexandra e
Arthur estão a se desprender da realidade que os cerca e a se perder em beijos
envolventes e quentes. Muitos, sem saber, estão prestes a cair nas armadilhas
do amor. Em uma fase de relacionamentos intensos, a maioria é presa fácil para
mesmo um sorriso qualquer, que se enche de graça aos olhos do observador.
Tantos
rostos novos este ano. A superioridade dos que aqui já estavam falou mais alto,
mas foi como uma onda que vai se amenizando até chegar na areia. Os veteranos
foram deixando de lado esse olhar e formamos, então, uma nova família. E eu que
achei que seria difícil fazer novas amizades, estava profundamente enganada. Como
dizem no popular: "Uma mão lava a outra". E é assim que tem sido.
Cada dia no Instituto Federal é uma
caixinha de surpresas. Estamos à mercê do desconhecido. De certeza temos apenas
a de voltar amanhã, se o Criador nos permitir. São quatro anos, temos todos
muitos encontros marcados ainda por
aqui, muitas amizades para fazer e importantes barreiras a romper. Sem hora
para chegar em casa, de certeza tenho apenas a de voltar amanhã.
Alyne Macedo
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