quarta-feira, 7 de maio de 2014

Encontro marcado



Todo dia é a mesma coisa. Sou acordada na melhor hora do sono. Quase um crime ser despertada tão cedo. Sinto a tristeza da cama a me ver partir, mas tenho um encontro marcado com a vida, com o acaso. É hora de ir para escola. A alegria do amanhecer é como um convite a viver aquele dia. O céu parece estar mais azul, o sol chega a iluminar minha alma. É hora de partir. Caminhando em direção ao ponto de ônibus, é notório perceber que todos parecem seguir no mesmo rumo, em direção ao encontro de sempre de suas vidas. O meu é com o Instituto Federal de São Gonçalo do Amarante, lugarzinho diferente esse, longe de ser uma escola qualquer. É um lugar de muitas emoções e conflitos, contra si, contra o tempo. Um campo de batalha onde o adversário é você mesmo. 
            
 Subo as escadas disposta a enfrentar esse desafio. Ao lado dos meus amigos vamos todos empolgadíssimos e a ponto de virar ao avesso de tanta alegria. Quer melhor motivo para sorrir do que a falta de motivo? É como uma piada sem graça em que se ri justamente pela falta de graça. O riso é tão espontâneo e contagiante, basta um começar e então temos um coral de gargalhadas. E, como sempre, lá está nosso amigo faxineiro no hall de entrada do Instituto. Sujeito engraçado esse, de estatura pequena e rosto avermelhado como se vivesse a ponto de explodir de vergonha. Esse é o seu João. Suas maçãs do rosto são mais vermelhas do que muitas das maçãs encontradas nas feiras de São Gonçalo. Recebe a todos com um “bom dia” que aos meus ouvidos parece meio resmungado, mas logo percebo que este é o seu tom feliz. 
            Por todos os corredores, é possível ver a movimentação dos estudantes indo para as salas, a tagarelar pelos cantos, em uma prosa muito envolvente na cantina. Olhares atentos em cada rosto. Afinal, são adolescentes famintos por uma nova aventura, que lhes é permitida a cada abrir de olhos ao amanhecer.  

            Muitos dos professores são como pais e nos ensinam a lidar com a matéria mais difícil, a vida. O pequeno grande homem que o diga. Chibério tem sempre uma nova experiência para partilhar conosco e assim fazer-nos subir mais um degrau na escada da maturidade. Outros não se permitem envolver com facilidade, se mostram durões, mas não conseguem esconder a todo momento que já foram cativados. Em uma dessas aulas de campo, pude constatar isso com o professor Gilbran. Nem a Programação, terror dos alunos de Informática, dá jeito. E ainda tem aqueles que demonstram em todas as cores o amor pelos alunos, que tocam nosso âmago. Como não amar nosso querido professor de Língua Portuguesa, Milson Santos? Ele que faz da sala de aula um salão de dança e o percorre com movimentos leves e intensos, a ponto de voar.  

            No intervalo estou a observar meus companheiros federais -  uns estão mergulhados em tamanha solidão, isolados, procurando consertar seu próprio mundo. Júlia é uma das que estão sempre jogadas no chão, perdida em volumes estrondosos. Casais como Alexandra e Arthur estão a se desprender da realidade que os cerca e a se perder em beijos envolventes e quentes. Muitos, sem saber, estão prestes a cair nas armadilhas do amor. Em uma fase de relacionamentos intensos, a maioria é presa fácil para mesmo um sorriso qualquer, que se enche de graça aos olhos do observador. 

            Tantos rostos novos este ano. A superioridade dos que aqui já estavam falou mais alto, mas foi como uma onda que vai se amenizando até chegar na areia. Os veteranos foram deixando de lado esse olhar e formamos, então, uma nova família. E eu que achei que seria difícil fazer novas amizades, estava profundamente enganada. Como dizem no popular: "Uma mão lava a outra". E é assim que tem sido. 

            Cada dia no Instituto Federal é uma caixinha de surpresas. Estamos à mercê do desconhecido. De certeza temos apenas a de voltar amanhã, se o Criador nos permitir. São quatro anos, temos todos muitos encontros marcados  ainda por aqui, muitas amizades para fazer e importantes barreiras a romper. Sem hora para chegar em casa, de certeza tenho apenas a de voltar amanhã.

Alyne Macedo

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