Mas foram provas e provas; e
trabalhos e trabalhos; e fórmulas e fórmulas. A mesma e velha vida de aluno do
IF.
Tentei.
A ideia só não vinha. Não
veio. Pensei na educação e na política. Na ciência e na religião. Nos livros.
Na pasta de dente. No celular. No lápis. No papel. Na televisão.
Nenhum pareceu certo.
Este também não parece
certo; não me entenda mal. Foi o mais criativo em que consegui pensar. Vagueei
entre temas. Olhei o tempo passar. Fiquei no quarto o dia todo. Encarei o
computador por horas. Foi com esse “tema” que acabei.
São quase oito da noite.
Já sei. É um trabalho de
Língua Portuguesa, não é? Pensei na metalinguagem. Um texto sobre o texto. Tudo
aquilo que aprendemos na aula de alguns meses atrás.
O que estou fazendo?
Tentando escrever como quem escreve?
Devo me basear em Marcelino
Freire. Como? Como fazer algo parecido? Algo minimamente próximo à teimosia de
Totonha? À dor de Da Paz? À raiva de Nação Zumbi?
Não sei. Solto palavras. Espero
que elas façam sentido de alguma forma.
São quase nove da noite.
Releio o que já escrevi a
cada dois segundos. Retiro o insistente gerúndio. Encurto as frases. Pergunto.
Coloco pontos finais.
E o título? Como pensar num
título para isso? Não posso nomear algo que nem sei sobre o que é.
São quase dez da noite.
Acho que não vou entregar
isso. Deixarei salvo, com certeza. Mas não será meu trabalho. Vale muitos
pontos na média, afinal. Tem que ser algo com mais significado. Acho que vou
voltar para a educação. Estamos numa crise nesse meio.
Mas todos falam sobre a
crise.
O polêmico. Não quero
escrever o que todos escrevem. Eu não escrevo. Não vou usar um momento tão raro
para falar sobre o que já sabem.
São quase onze da noite.
Acho que estou perdida.
O texto não deu duas páginas
ainda. Não sei o tamanho adequado. Acho que ainda é pouco. Vou continuar
escrevendo.
É quase meia noite.
Tenho prova na segunda. É
sábado. Ainda não estudei. Deveria ter escrito isso pela manhã. Ou pela tarde,
no máximo. Mas é quase meia noite. Ainda estou aqui. Tento tirar um pouco do
peso da consciência por ainda não ter terminado.
Só continuo escrevendo. Não
consigo parar.
Deveria estar fazendo o
trabalho verdadeiro. Aquele, sobre o qual falei antes. O polêmico, com
perguntas reflexivas. Questionando o motivo do mundo ser como é.
Mas não dá.
Peço perdão a minha colega.
Ela acha que eu já fiz o texto. Pensa que fiz o da educação. Mandei uma
mensagem. Avisei que não faria sobre isso. Ela não viu. Já foi dormir. E eu
continuo aqui, no quarto. Ainda encarando o computador.
Acho que é isso.
Deu quase duas páginas.
Tenho que pensar no de verdade. E na prova. E nos outros trabalhos. Ainda tenho
que pensar no título. Desse (deste?) e do outro.
É
uma da manhã.
Acabei.
Beatriz Egito
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