terça-feira, 7 de março de 2017

Escrevendo-se

Eu tentei. Eu juro que tentei.
Mas foram provas e provas; e trabalhos e trabalhos; e fórmulas e fórmulas. A mesma e velha vida de aluno do IF.
Tentei.
A ideia só não vinha. Não veio. Pensei na educação e na política. Na ciência e na religião. Nos livros. Na pasta de dente. No celular. No lápis. No papel. Na televisão.
Nenhum pareceu certo.
Este também não parece certo; não me entenda mal. Foi o mais criativo em que consegui pensar. Vagueei entre temas. Olhei o tempo passar. Fiquei no quarto o dia todo. Encarei o computador por horas. Foi com esse “tema” que acabei.
São quase oito da noite.
Já sei. É um trabalho de Língua Portuguesa, não é? Pensei na metalinguagem. Um texto sobre o texto. Tudo aquilo que aprendemos na aula de alguns meses atrás.
O que estou fazendo? Tentando escrever como quem escreve?
Devo me basear em Marcelino Freire. Como? Como fazer algo parecido? Algo minimamente próximo à teimosia de Totonha? À dor de Da Paz? À raiva de Nação Zumbi?
Não sei. Solto palavras. Espero que elas façam sentido de alguma forma.
São quase nove da noite.
Releio o que já escrevi a cada dois segundos. Retiro o insistente gerúndio. Encurto as frases. Pergunto. Coloco pontos finais.
E o título? Como pensar num título para isso? Não posso nomear algo que nem sei sobre o que é.
São quase dez da noite.
Acho que não vou entregar isso. Deixarei salvo, com certeza. Mas não será meu trabalho. Vale muitos pontos na média, afinal. Tem que ser algo com mais significado. Acho que vou voltar para a educação. Estamos numa crise nesse meio.
Mas todos falam sobre a crise.
O polêmico. Não quero escrever o que todos escrevem. Eu não escrevo. Não vou usar um momento tão raro para falar sobre o que já sabem.
São quase onze da noite.
Acho que estou perdida.
O texto não deu duas páginas ainda. Não sei o tamanho adequado. Acho que ainda é pouco. Vou continuar escrevendo.
É quase meia noite.
Tenho prova na segunda. É sábado. Ainda não estudei. Deveria ter escrito isso pela manhã. Ou pela tarde, no máximo. Mas é quase meia noite. Ainda estou aqui. Tento tirar um pouco do peso da consciência por ainda não ter terminado.
Só continuo escrevendo. Não consigo parar.
Deveria estar fazendo o trabalho verdadeiro. Aquele, sobre o qual falei antes. O polêmico, com perguntas reflexivas. Questionando o motivo do mundo ser como é.
Mas não dá.
Peço perdão a minha colega. Ela acha que eu já fiz o texto. Pensa que fiz o da educação. Mandei uma mensagem. Avisei que não faria sobre isso. Ela não viu. Já foi dormir. E eu continuo aqui, no quarto. Ainda encarando o computador.
Acho que é isso.
Deu quase duas páginas. Tenho que pensar no de verdade. E na prova. E nos outros trabalhos. Ainda tenho que pensar no título. Desse (deste?) e do outro.
            É uma da manhã.
            Acabei.

Beatriz Egito


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