quarta-feira, 8 de março de 2017

O caso


            Meu nome é César e tenho 17 anos. Minha mãe me botou esse nome por parecer nome de rico, até porque na Bíblia tem dizendo: “Dai a César o que é de César”. Moro na favela do Japão, lugar onde desde criança vi o mundo com os olhos diferentes. Olhos de favelado. Sim, favelado é o que sou.
            Filho de mãe solteira, me vi rodeado, por toda a vida, dessa miséria de lugar. Miséria não, que é daqui que tiro o sustento. Graças ao meu cerebelo, consegui sair da lavanderia de mamãe, onde trabalhava para ganhar o mundo e ser dono das três maiores bocas da região. Minhas ferramentas de trabalho são o crack, a coca e a erva. Toninho traz da Bahia e eu revendo aqui. Também tem o tal do docinho, produto principal que vendo aos boys do colégio Palmares.
            Semana retrasada, tive uma treta com um tal de Ricardo, pistoleiro famoso aqui da “ZO”. Mandei ele fechar o veaco Marcão.  O feladaputa me desobedeceu. Ele por certo não sabia com quem estava brincando.
            Naquele mesmo dia, reuni meu bonde para ir atrás daqueles dois arrombados. Cléber e Lúcio trouxeram as nove e saímos pra guerra. Ao chegar no bairro da Esperança, na nua Natal, avistamos um primo de Marcão. Jogamos ele dentro do carro pra tirarmos satisfação. Enchemos a cara dele de porrada. Até que ele falou o endereço onde se encontrava o Marcão.
            No final daquela tarde, armamos uma emboscada. Ficamos de tocaia na esquina até o momento em que ele deu as caras. Começaram os disparos. Derrubamos o veaco, mas logo apareceu o Ricardo com uma SMG, expulsando-nos da região. Foi o maior aperreio. Éramos três, mas ele tinha uma SMG, o que nos fez correr. Saímos correndo em direção ao carro e só conseguimos escapar porque a chave já estava na ignição.
            No dia seguinte, a notícia estava em todos os lugares: Tribuna do Norte, Papinha e até mesmo no RN TV. Saímos nas duas edições. Meu nome ficou inflado em toda Natal. Nunca fui tão respeitado. A minha moral aumentou 300% naquele dia.
            As matérias diziam:
            Tiroteio no bairro da Esperança tira a tranquilidade dos moradores e deixa uma morte;
O amante do famoso pistoleiro, Ricardo Bala, é morto em tiroteio na tarde de ontem. 
            Pois não é que os veados tinham um caso!
 Matheus Oliveira 
 Eudes Silva 
            

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