
Filho de mãe solteira, me vi rodeado,
por toda a vida, dessa miséria de lugar. Miséria não, que é daqui que tiro o
sustento. Graças ao meu cerebelo, consegui sair da lavanderia de mamãe, onde
trabalhava para ganhar o mundo e ser dono das três maiores bocas da região. Minhas
ferramentas de trabalho são o crack, a coca e a erva. Toninho traz da Bahia e
eu revendo aqui. Também tem o tal do docinho, produto principal que vendo aos
boys do colégio Palmares.
Semana
retrasada, tive uma treta com um tal de Ricardo, pistoleiro famoso aqui da “ZO”.
Mandei ele fechar o veaco Marcão. O
feladaputa me desobedeceu. Ele por certo não sabia com quem estava brincando.
Naquele
mesmo dia, reuni meu bonde para ir atrás daqueles dois arrombados. Cléber e
Lúcio trouxeram as nove e saímos pra guerra. Ao chegar no bairro da Esperança, na
nua Natal, avistamos um primo de Marcão. Jogamos ele dentro do carro pra
tirarmos satisfação. Enchemos a cara dele de porrada. Até que ele falou o
endereço onde se encontrava o Marcão.
No
final daquela tarde, armamos uma emboscada. Ficamos de tocaia na esquina até o
momento em que ele deu as caras. Começaram os disparos. Derrubamos o veaco, mas
logo apareceu o Ricardo com uma SMG, expulsando-nos da região. Foi o maior
aperreio. Éramos três, mas ele tinha uma SMG, o que nos fez correr. Saímos
correndo em direção ao carro e só conseguimos escapar porque a chave já estava
na ignição.
No
dia seguinte, a notícia estava em todos os lugares: Tribuna do Norte, Papinha
e até mesmo no RN TV. Saímos nas duas
edições. Meu nome ficou inflado em toda Natal. Nunca fui tão respeitado. A
minha moral aumentou 300% naquele dia.
As
matérias diziam:
Tiroteio no bairro da Esperança tira a
tranquilidade dos moradores e deixa uma morte;
O
amante do famoso pistoleiro, Ricardo Bala, é morto em tiroteio na tarde de
ontem.
Pois
não é que os veados tinham um caso!
Matheus Oliveira
Eudes Silva
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