sexta-feira, 26 de julho de 2019

Música Clássica é Coisa de Gente Chata


Queridos leitores, hoje gostaria de apresentá-los à grande revelação que me ocorreu recentemente. Finalmente me converti e aceitei a máxima verdade: música clássica é coisa de gente chata.

Desde que me conheço por gente, a música clássica é desprezada pela sociedade e tratada como não importante e, por vezes, considerada inexistente. Após anos de luta a favor desse gênero musical, vejo que estava errado. Música clássica é sim coisa de gente chata. Não dá dinheiro. E quem não gosta de dinheiro?

Música boa é aquela que dá dinheiro para todo mundo: desde o produtor musical, passando pelo dono de boate, até o caixa do guichê 5 das Lojas Americanas na esquina da sua rua.

O produtor musical com certeza lucra muito mais gravando horas de qualquer merda de um bando de playboys ricos que sempre terão dinheiro para pagar-lhe, juntando tudo, e sabendo que vai ser um sucesso, do que gravar um pianista pobre e miserável, que passou anos na Faculdade de Música e ainda tem que escutar diariamente pessoas lhe dizendo: “E qual sua verdadeira profissão?”Ainda por cima, o safado vai terminar a sessão em 5 minutos porque não vai errar uma nota sequer e, no fim, não vai ter sucesso algum, nem dinheiro para pagar a gravação.

Já o dono de bar, com toda certeza, lucra muito mais com os funks e sertanejos do que lucraria com música clássica. Afinal, essas músicas são a base do seu trabalho, certo? Ninguém dança ao som de um Concerto de Bach. Ninguém enche a cara ao som da Primavera de Vivaldi. E, se você conhece alguém que faz isso, por favor, ligue imediatamente para um hospício. Imagine como seria nosso Brasil sem as baladinhas? Que desastre! Ia prejudicar até o turismo nacional! Pelo jeito, sem o funk, o Brasil ia acabar realmente “descendo até o chão”.

            O caixa da Americanas, por sua vez, sobrevive à base de sertanejo e sofrência. Podemos ver muito bem que essas lojas estão utilizando esse tipo de música em seus espaços com uma forma de atrair clientes. Pode observar que as lojas que tocam Michel Teló são as que mais “pegam” clientes. Sem clientes, sem dinheiro. Sem dinheiro, sem emprego pro pobre caixa do guichê 5. Sem emprego, sem dinheiro nem para pagar um Corote e encher a cara ao som de Marília Mendonça. Isso é uma crueldade da música clássica! Debussy certamente não pensou nas pobres lojas de conveniência enquanto escrevia “Clair de Lune”.

Está muito claro. Música clássica é coisa de gente desocupada, sem emprego, chata e desinteressante. Tempo é dinheiro. Bunda também. Mas quem tem tempo para passar 1h ouvindo uma Sinfonia de Beethoven tinha mesmo era que ser preso por desocupação!


Heitor Faria


junho de 2019


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