quinta-feira, 25 de julho de 2019

Isso, sim, é vida boa


          Certo dia, eu acordei, no meio da madrugada e ouvi uns sons estranhos. Era o cochichado de dois seguranças. Não entendia sobre o que falavam, então me aproximei para ouvir melhor. Estavam falando de um presidiário que seria liberado na manhã seguinte. Quando ouvi isso, entrei logo em desespero: E se tiverem falando mim?

            Não posso perder tudo que conquistei com todo meu suor e esforço. Não foi fácil assaltar aquele restaurante. Eu me esforcei tanto para conseguir enganar aquelas pessoas e depois ser pego pela polícia!... Mereço no mínimo um reconhecimento, mas as pessoas só sabem julgar. Eu fiz isso tudo para conseguir ter uma vida boa, e agora o meu sonho pode estar chegando ao fim?

            Lá fora o mundo é outro, é um ambiente assustador. As pessoas têm que fazer um negócio chamado “trabalhar”, passando umas 8 horas por dia, fazendo tarefas chatas para conseguir suas coisas, ter onde morar, o que comer e poder se divertir. Que coisa mais estranha! Não consigo nem imaginar como deve ser isso. Eu tenho é pena dessas pessoas, não sabem o que é uma vida boa.

            Aqui eu tenho tudo que há de bom: moradia boa, televisão, videogames, ar-condicionado, três refeições por dia, e várias outras coisas, tudo isso de graça. Olha que incrível essa vida! Não preciso fazer nada e tenho isso tudo, sem contar com a segurança particular e os amigos que tenho aqui. É diversão o dia inteiro, principalmente no futebolzinho da tarde.

            Mas não posso esquecer de falar da melhor parte: todas as segundas, quartas e sextas, rolam aquelas famosas visitinhas íntimas. É tudo de bom, cada semana é uma experiência diferente. Além da diversão, consigo até desenrolar uns smartphones e umas coisinhas para me deixar mais animado, se é que vocês me entendem.

            Não quero ir embora. Seria terrível perder essa vida que conquistei. Caso eu vá embora, vou ter que criar um novo plano para voltar para cá, assaltar alguém ou algum estabelecimento. Depois as pessoas reclamam da tal “criminalidade”, mas é tudo uma questão de necessidade, elas não conseguem nos entender.

            Se elas soubessem da vida que nós temos aqui, entenderiam nosso lado, não fazemos por mal. Queremos, apenas, uma vida boa de verdade.

Lucas Dantas de Lucena

junho de 2019

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