
Assim que abri a pasta,
já tinha um papel cheio de coisas aleatórias, e me veio à mente o que era: o
papel que eu usava para conversar com meus amigos enquanto o professor dava
aula. Me lembro bem de escrever naquele papel, amassá-lo e jogá-lo para Wilson,
e ele fazia o mesmo. Jogava para Ryan, a gente ria, e a sala pensava que a
gente era retardado.
A próxima coisa da pasta
eram as provas, tava tudo misturado, cada prova que eu via, eu balançava a
cabeça. Eram notas muito baixas: 20, 35, 40... Uma vez ou outra, um 60, um 70.
Já em Matemática, a matéria que eu sempre amei, as notas eram de me orgulhar:
85, 90, 95, porém eu tinha poucos 100, 1 ou 2 no máximo, geralmente errava algo
que me impedia de tirar 100.
No meu Ensino Fundamental, havia muitas brincadeiras violentas, porém de deixar saudade. Uma
delas era chamada de “render”. A gente ia para a grama, e lá tinha que derrubar
um ao outro e render. As regras da brincadeira eram: não valia soco, chute ou
qualquer outro movimento que machuque, só valia derrubar e arrochar o pescoço,
isso sujava muito a farda. Minha mãe sempre perguntava o que eu fazia para
sujar a farda daquele jeito. Doía, mas deixou boas lembranças.
Depois de passar pelas
provas, estava lá o papel de confirmação de inscrição dos jogos interclasse,
tinha só futsal para sermos humilhados. O pior time com que a gente podia jogar era
o sexto D, só tinha uns cavalões, que viviam de jogar. Lembro-me muito do
primeiro jogo, o qual perdemos de dezesseis a zero. Triste, mas a gente não
desistiu em nenhum momento.
E chegou o último ano do Fundamental, aulas preparatórias para o IF, muita gente nem ligando, mas eram
muito divertidas, eram muitas brincadeiras no contraturno depois da aula,
conversas paralelas. Foi muito bom para conhecer outras pessoas da sala que não
conversavam muito. E chegou o dia de fazer a prova do IF, pessoas animadas
porque iam andar de ônibus, caneta nova, lanche para levar, os que queriam
passar conversavam entre si perguntando qual curso havia feito, a animação era
tanta... Alguns até diziam: “Oba, fizeste
o mesmo curso que eu! Quem sabe seremos colegas…”
A realidade veio no fim
do ano, apenas 11 pessoas iriam ter a redação corrigida e, por fim, apenas duas
pessoas passaram, depois mais duas nas vagas remanescentes. Foi um momento meio
triste, eu e meus amigos íamos nos separar, não iríamos mais fazer trabalhos
juntos, brincar de render, perder no interclasse juntos, tudo já começava a
deixar saudades.
Meu Ensino Fundamental
foi ótimo, pude conhecer mais que amigos, irmãos, tive pessoas em quem pude
confiar, tive pessoas que, embora hoje estejam longe, permanecerão para sempre
nas minhas lembranças e no meu coração. Infelizmente, porém, jamais vou voltar
a conversar por meio de papel sem que me lembre de Wilson e Ryan.
José Felipe Saraiva Campêlo
julho de 2019