Recentemente,
assolado em meu mundo, tomado de pensamentos irrefutáveis, observo o que me
rodeia. A euforia dos meus pensamentos se entrelaça, dentro da minha cabeça,
como raízes ramificadas, que sustentam aqueles paus-brasil, plantados no meio
do Campus São Gonçalo do Amarante, e
que são cultivados pelo ser mais complicado do universo: o homem.
De
repente, sou surpreendido, não pelo canto dos passarinhos, que diariamente
saciam minha esperança, mas pela agitação emanada da cantina. Olho para o lado
e vejo uma pequena alma caída no meio do corredor: era Alice, aluna do curso
técnico integrado de Logística, toda esparramada e envergonhada.
Coloco-me
no lugar daquela garota, caída, sofrida e com um sorriso defasado em sua face.
Acredito que se eu estivesse ali, deitado, alguma alma bondosa me socorreria e
logo estaria erguido por uma mão amiga. Ou estaria na mesma situação?
A
garota tenta se reerguer com cuidado. Ninguém a ajuda. Apenas riem, debocham,
caçoam Alice. Os colegas ainda estão comentando. O fato gerou muitas risadas e
comentários. Nada como uma queda para causar um momento de alegria e êxtase
nessa escola. Afinal de contas, não temos espetáculos constantemente desse
porte na nossa programação.
Recentemente,
lendo uma rede social, me deparo com a seguinte frase: “Amigo é aquele que
debocha quando o outro cai”. Fiquei paralisado, imóvel. Nos tempos modernos,
não sabemos quem, realmente, é amigo do outro. O valor da amizade desapareceu,
entrou em extinção.
Se
amigo é aquele que debocha, possivelmente aquela pessoa que você odeia ou pela
qual sente ojeriza é sua amiga, pois tenha certeza de que ela está debochando
de você em vários momentos, jurando que você caiu em vários planos e sonhos.
Uma
vez, uma amiga melancólica veio me contar do fracasso que foi seu
relacionamento. Casada, fazia três anos que estava vivendo em uma infinita
lua-de-mel, jurava que tinha encontrado o grande amor da sua vida, seu príncipe
encantado. Iludiu-se. Com o passar do tempo, a magia do conto de fadas entrou
em declínio. Flagrou seu “príncipe” com outra. Um maior vexame.
Se
fosse obedecer ao pensador da rede social, teria começado a debochar da pobre
alma iludida: “amigo é aquele que debocha quando o outro cai”. Minha amiga
caiu, seus planos foram por água abaixo, eu deveria rir, não é mesmo?
Alice,
vermelha de vergonha, correu em direção ao banheiro. Pensou como iria encarar a
situação. Os amigos, seguindo em direção à sala, sentiram a falta da colega,
foi aí que perceberam o quanto haviam sido indelicados. Lívia, a mais dócil do
grupo, foi a sua busca. Chegando lá, escutou alguns soluços de choro, olhou
para o lado e encontrou sua amiga aos prantos. Rapidamente, tentou amenizar o
estado emocional da pobre amiga. Pediu desculpas. Abraçaram-se.
Quando
o assunto é amizade, devemos abandonar nosso mundo individual. Amigo é aquele
que, acima de tudo, cuida. É um sentimento diferente, insaciado,
irreconhecível. É querer ficar perto, é perguntar se o outro quer dar uma
lambida no picolé, depois que você já lambeu tudo. É saber respeitar as
opiniões. É compartilhar. É estender o braço quando o outro está caído no chão.
Antes
de mais nada, devemos quebrar os paradigmas, viver a intensidade da amizade.
Devemos formar uma sociedade mais humana, mais acolhedora, mais amiga. É
preciso acabar com a falta de compaixão e afeto, é preciso acabar para sempre,
de uma vez por todas.
Alice Xavier
Leandro
Lima
Lívia Campos
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