quarta-feira, 19 de março de 2014

Lama


  

 Lúcia sempre gostou de farrear. Sempre gostou de fazer tudo o que lhe vinha à mente. Geralmente saía para um bar que ficava a poucos metros da sua casa. Beber era a sua paixão, sua alegria de todas as noites. Bebia para esquecer seus problemas, esquecer que seu último caso amoroso fora um desastre total, esquecer que sua mãe a abandonara aos 8 anos de idade. Em especial, nas sextas-feiras, bebia até cair.

Normalmente, nesses dias, só acordava em casa, sempre cheirando mal, com as roupas rasgadas e com uma dor de cabeça terrível. Ela costumava ter vários casos com homens que frequentavam o mesmo bar, por isso era conhecida pela vizinhança como “pinguça da vida”.

           Todos falavam mal de Lúcia. Ninguém a queria em suas casas. Na verdade, ela nunca se importou com isso. Gostava de morar sozinha, de não ter que dar satisfação sobre sua vida a ninguém.Em uma dessas noites de sexta-feira programadas para beber até cair, ao entrar no bar, Lúcia se deparou com um rosto novo. Era um homem alto, forte, cabelos escuros que iam até seus ombros. Tudo nele era bonito.

           O homem estava sentado ao balcão tomando uma taça de vinho. Lúcia sentou-se ao lado dele e, então, começaram a conversar. Naquela noite, a “pinguça da vida” não bebeu até cair, não chegou em casa desacordada.Muito pelo contrário. Chamou o moço, Norberto, para acompanhá-la até sua casa. Passaram a noite juntos, sem más intenções, assistindo Um porto seguro, e rindo muito da “caretice” do filme.

  Todo aquele jeitinho de Norberto, o modo de pôr o cabelo atrás da orelha, de rir, de contar histórias malucas, encantou e conquistou Lúcia por completo. Foi nessa linda noite em que se iniciou o romance dos dois.Muito pelo contrário. Chamou o moço, Norberto, para acompanhá-la até sua casa. Passaram a noite juntos, sem más intenções, assistindo Um porto seguro, e rindo muito da “caretice” do filme.
Todo aquele jeitinho de Norberto, o modo de pôr o cabelo atrás da orelha, de rir, de contar histórias malucas, encantou e conquistou Lúcia por completo. Foi nessa linda noite em que se iniciou o romance dos dois.Passaram meses juntos. Estavam muito felizes, mas nunca deixaram a bebida. Todo final de semana saiam para beber, rir e gritar pelas ruas da cidade. Norberto passava a maior parte do seu tempo na casa de Lúcia.
 
            Os dois eram conhecidos na vizinhança como “casal pinguço”. Tudo parecia perfeito para eles. Em uma noite de sexta-feira, Norberto se recusou a ir ao bar com Lúcia. Disse somente que não estava a fim.
   “Cachorro safado! Vai me deixar ir sozinha!”, pensou ela. Foi ao bar, bebeu duas latinhas de cerveja e voltou para casa. Beber não era mais a mesma coisa sem Norberto. Ao chegar em casa, Lúcia escutou o barulho do chuveiro ligado. Tirou logo suas roupas e foi correndo para o banheiro a fim de fazer uma surpresa para o seu amor.

Ao abrir a porta do box, se deparou com Norberto agarrando a sua vizinha. A raiva subiu à cabeça de Lúcia. De súbito, pegou uma faca na cozinha e correu novamente para o banheiro.

             Os dois já estavam vestidos, com medo do que Lúcia poderia fazer com eles. Ela apontou a faca para os dois, puxou os cabelos da mulher e fez um corte em seu braço. Soltou a faca no chão, botou uma roupa e saiu correndo de casa. Lúcia chorava alto. Decidiu afogar suas mágoas na bebida. Nesse dia, ela bebeu mais do que era acostumada, todos diziam para ela parar, mas ela gritava:- Eu vou beber o quanto eu quiser! Ninguém vai me obrigar a parar! Ela deveria tê-los escutado. Seu fígado não resistiu. Na manhã seguinte, Lúcia era só mais um cadáver jogado na lama.


                                                                                                          Régia Carla

Conto produzido a partir da letra da canção brega Lama, de Núbia Lafayete.

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