Um eterno apaixonado por sua
esposa. Esse era Camilo, romântico, daqueles que mandam flores e fazem tudo o
que a mulher quer. Laura era uma assistente social da prefeitura da sua cidade,
que fazia trabalhos constantes nas residências da comunidade. Camilo,
desempregado, fazia bicos e, de vez em quando, gostava de ir ao bar com os
amigos para bebericar um pouco.
Sua esposa, até nos domingos,
trabalhava. Saía de manhãzinha e chegava de sete horas da noite, todo santo
dia. Sem férias, sem descanso. Camilo tinha orgulho de sua esposa e ficava
imaginando o quanto o trabalho dela era cansativo. Sentia falta dela na cama,
queria ter prazeres noturnos com sua amada, porém ela afirmava estar com muita
dor no corpo e na cabeça devido ao longo dia no trabalho.
Isso se repetia diariamente,
quando ele decidiu dar um basta naquela situação. Esperou Laura deitar-se à
noite na cama e disse:
- Hoje você não me escapa.
-Não, não quero fazer nada.
Estou com aquela enxaqueca.
- Não tem escapatória. Vai
ser hoje que eu tiro meu atraso.
Laura virou-se e nem deu
ouvidos. Ele não insistiu, deitou-se e dormiu. No dia seguinte, foi conversar
com ela sobre o seu relacionamento.
- Laura, você não me deixa
mais acariciá-la de noite, nem de dia em lugar nenhum.
-Você acha que está
merecendo?
- Por qual motivo você acha
que eu não mereço?
- Lembra-se que antes de nos
casarmos você falou que iria trabalhar para me sustentar? Eu é que ponho tudo
dentro de casa e você é simplesmente um parasita que vive às minhas custas.
-Ei, isso não é motivo para
você fazer greve de sexo!
-Isso é pra você ter
consciência e deixar de vegetar aqui em casa, cachorro!
Por sua causa, até aos
domingos eu tenho que trabalhar para pôr o dinheiro dentro de casa. Seu inútil! Não serve para nada!
Não fez nada. Camilo
simplesmente virou-se e dirigiu-se para o bar naquela manhã de segunda-feira.
Bebeu, bebeu. E voltou para a casa.
Não sei dizer se isso foi um
erro ou um acerto, pois quando chegou viu sua mulher dando “assistência” a um
homem na sua própria casa. Camilo sentiu-se humilhado, pretendia se vingar,
porém não teve coragem de fazer nada naquela hora. A bebida ajudou-o a
controlar o estresse naquele momento.
No bar, já um pouco
embriagado, Camilo lamentou aos seus amigos o ocorrido.
-Camilo, eu te falei que ela
não era tão perfeita como você achava.
-Ela era antes de nos
casarmos.
-Camilo, eu já sabia.
-Sabia de quê?
- Sabia que ela te traía.
Mas nunca contei para não magoar você.
Camilo estava arrasado,
humilhado, pois todos já sabiam que ele levara chifre. No dia seguinte, acordou
no bar mesmo. Jaime, o dono, era muito amigo de Camilo, então fez o favor de
deixá-lo dormir lá aquela noite. O romanticão viu seu amor se desmanchando.
Decidiu retornar à sua casa para falar com sua esposa. Mas a humilhação não
parou.
- Dormiu fora de casa heim,
vagabundo?
- Dormi, já que dentro da
minha casa havia outro.
- Seu vagabundo, bêbado!
A vingança pensada no
primeiro momento foi matá-la. Mas decidiu não fazer isso. Voltou para casa e
aguentou tudo durante vários dias. Mas o desejo de vingança nunca saíra de sua
cabeça.
Aquela imagem da traição
vinha em sua cabeça a todo o momento. Ele se vingaria. Em mais um dia de
“trabalho”, a sua mulher saiu de casa cedo. Nesse momento, Camilo preparou o que
precisava para destruir a vida de sua mulher, em cima da cama deixou um
bilhete. Saiu em direção ao nada. De bar em bar, de mesa em mesa, tomando
cachaça.
E ficou assim, indo de um
canto para outro, jogado. Saiu em direção de uma enorme ponte e pôs fim ao seu
sofrimento, suicidando-se.
A mulher, ao chegar à sua
casa, viu o bilhete, rapidamente abriu pensando que fosse algo de importante, um
cheque ou algum dinheiro. Abriu. Nele estava escrito:
“Você foi a coisa mais
importante que aconteceu na minha vida. Meu amor por você acabou abruptamente,
não aguentava ouvir o povo me humilhando, então...”
Mário Jorge e Gabriel Oliveira
Conto produzido a partir da letra da canção brega Eu não sou cachorro não, de Valdick Soriano